Vol. 38 (Nº 31) Año 2017. Pág. 30
Ana Tereza de Sousa NUNES 1; Zulimar Márita Ribeiro RODRIGUES 2; Luciano Mamede de FREITAS JUNIOR 3
Recibido: 31/01/2017 • Aprobado: 05/03/2017
RESUMO: A pesquisa objetivou quantificar e analisar as reclamações contra estabelecimentos que produzem e comercializam alimentos, recebidas pela Vigilância Sanitária em São Luís-MA. Estudo exploratório-descritivo, prospectivo, com abordagem quantitativa dos dados secundários. Os dados foram obtidos por meio do Sistema de Informação da Vigilância Sanitária do Município de São Luís/MA, no período de 2012 a 2015, em todos os meses dos respectivos anos. As maiores reclamações foram em primeiro lugar: restaurantes, nos anos de 2012 e 2015; e os supermercados, em 2013 e 2014. Vários foram os motivos das reclamações, dentre eles falta de higiene (34,2%), falta de licença sanitária (17,0%), alimento deteriorado (9,5%),corpo estranho ao alimento (8,5%) e problemas com esgoto e fossa (8,4%).O estudo revelou situação preocupante em relação aos estabelecimentos que produzem e comercializam alimentos na cidade. As condições higiênico-sanitárias inadequadas, apontadas nas reclamações, podem indicar a suscetibilidade dos consumidores às doenças transmitidas por alimentos. |
ABSTRACT: The research aimed to quantify and analyze complaints against establishments that produce and commercialize food received by Sanitary Surveillance in São Luís-MA. This is an exploratory-descriptive, prospective study with a quantitative approach to secondary data. The data were obtained through the Health Surveillance Information System of the Municipality of São Luís / MA, in the period from 2012 to 2015, in all months of the respective years. The biggest complaints were in the first place: restaurants, in the years 2012 and 2015; and supermarkets in 2013 and 2014. There were several reasons for complaints, including lack of hygiene (34.2%), lack of sanitary license (17.0%), deteriorated food (9.5%), foreign body to food (8.5%) and problems with sewage and septic tank (8.4%). The study revealed a worrying situation in relation to the establishments that produce and commercialize food in the city. Inadequate hygienic-sanitary conditions, as pointed out in the complaints, may indicate the susceptibility of consumers to foodborne diseases. |
O consumidor tem demonstrado preocupação com relação aos alimentos que adquire e consume; e aos prejuízos que a má qualidade deles possa trazer à sua saúde. Para Forsythe (2002) o interesse pela segurança alimentar vem ganhando espaço, o que pôde ser observado desde que foram levados ao conhecimento público problemas relacionados à encefalite espongiforme bovina (“síndrome da vaca louca”), Escherichia Coli O157:H7 e alimentos geneticamente modificados.
No Brasil, segurança alimentar e nutricional está baseada no direito coletivo ao acesso regular e permanente a alimentos com qualidade e quantidade suficiente (BRASIL, 2006). Milhões de refeições coletivas são consumidas anualmente no país em restaurantes, pizzarias, padarias, bares, lanchonetes e afins. A preocupação em manter estes estabelecimentos em condições higiênico-sanitárias ideais, demonstra o crescente cuidado com a qualidade dos alimentos produzidos nos mais distintos locais de comercialização (ANVISA, 2008).
Para o Ministério da Saúde, no Brasil, entre 2007 a 2016 foram notificados 6.632 surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) envolvendo 469.482 pessoas expostas, 118.104 doentes, 17.186 hospitalizações e 109 óbitos (BRASIL, 2016a). No Maranhão, estado do nordeste brasileiro, entre 2012 e 2014, ocorrem 547 óbitos por doenças infecciosas intestinais, classificadas entre o CID A00 a A09. No mesmo período e causas de óbitos, em São Luís, capital do Maranhão, foram 93 mortes (BRASIL, 2016b). Números expressivos que além dos transtornos à saúde podem causar prejuízos à economia do país. Alimentos com características alteradas geram desperdício e afetam de maneira negativa o comércio e a confiança do consumidor (OPAS, 2006).
No intuito de evitar a ocorrência desses problemas e promover a melhoria das condições higiênico-sanitárias dos estabelecimentos, existem mecanismos legais que tratam da garantia do uso das boas práticas na produção de alimentos. O Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação, aprovado pela RDC nº 216 de 15 de setembro de 2004 é um exemplo que deve ser aplicado em conjunto com normas complementares estaduais e municipais existentes (BRASIL, 2004).
São priorizados nesse Regulamento as instalações físicas, equipamentos, higiene, controle de vetores e pragas urbanas, abastecimento de água, manejo de resíduos, manipuladores, matérias-primas, armazenamento e transporte, exposição ao consumo, documentos e registros, além do Manual de Boas Práticas e Procedimentos Operacionais Padronizados, que são orientações indispensáveis para se alcançar a segurança dos alimentos (BRASIL, 2004).
O órgão responsável dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), pela fiscalização do setor produtivo é a Vigilância Sanitária (VISA), definida como “um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir, ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde” (BRASIL, 1990).
Para Germano e Germano (2001) a VISA tem como objetivo, em relação aos alimentos: cadastrar, fiscalizar e licenciar os estabelecimentos que produzem, distribuem e/ou armazenam e comercializam esses produtos. As equipes de fiscalização têm como intuito principal avaliar as condições higiênico-sanitárias dos estabelecimentos e produtos alimentícios por eles comercializados. Lucchese (2006) se refere a VISA, como um espaço para exercitar a cidadania e o controle social, por ter a capacidade de transformar a qualidade dos produtos, dos processos de produção e das relações sociais.
Em São Luís, capital do Maranhão, a VISA está inserida no organograma da Secretaria Municipal de Saúde, na Superintendência de Vigilância Epidemiológica e Sanitária (SVES), como uma Coordenação e foi implantada em 1996, quando a Prefeitura aprovou a Lei nº 3546 de 05 de agosto de 1996 que dispõe sobre a Vigilância Sanitária no Município e dá outras providências. Em seu Título II essa Lei contempla a Vigilância Sanitária de Alimentos destinados ao consumo humano, abrangendo desde o controle, qualificação, proteção, estabelecimentos e fiscalização (PREFEITURA DE SÃO LUÍS MARANHÃO, 1996).
Além de realizar inspeção e educação sanitária, são atendidas pelos técnicos da VISA as reclamações formalizadas pela população ludovicense e órgãos de defesa do consumidor. Este estudo teve como objetivo quantificar e analisar as reclamações relacionadas a estabelecimentos que produzem e comercializam alimentos, recebidas nesse Órgão de saúde pública em São Luís, no período de 2012 a 2015.
Trata-se de estudo exploratório-descritivo, prospectivo, com abordagem quantitativa dos dados secundários. Os dados foram obtidos por meio do Sistema de Informação da Vigilância Sanitária do Município de São Luís/MA (SIVIS), relativo ao período de 2012 a 2015, em todos os meses dos respectivos anos. A SVES autorizou o acesso a esses documentos internos, considerando que não haveria identificações sobre o nome das pessoas envolvidas e/ou estabelecimentos.
Em geral, as denúncias e/ou reclamações da população são realizadas por via telefônica ou pessoalmente à VISA; ou ainda, enviadas por órgãos de defesa do consumidor. São registradas em duas vias impressas na Ficha de Reclamação, uma é arquivada e a segunda enviada ao setor de cadastro para ser digitada no SIVIS.
Após o cadastramento, as fichas de reclamação são encaminhadas ao setor de Fiscalização para que os técnicos realizem as inspeções sanitárias nos estabelecimentos denunciados. Constam na Ficha de Reclamação: número, nome do reclamante (opcional), nome e endereço do reclamado, ponto de referência, assunto da reclamação e conduta adotada pela equipe de fiscalização.
No período de 2012 a 2015 foram recebidas 863 (oitocentas e sessenta e três) reclamações contra estabelecimentos que comercializam alimentos. Os tipos de estabelecimento e os motivos que levaram as pessoas a denunciar foram classificados de acordo com a nomenclatura utilizada no SIVIS; porém, devido à diversidade e singularidade de algumas atividades comerciais da cidade, os autores adaptaram e/ou classificaram os estabelecimentos e/ou motivos de reclamações na categoria “outros”, tentando compor assim o grupo similar de atividade e motivos.
Procedeu-se a revisão de literatura tendo como referência as bases de dados como SciELO e Portal da Capes, utilizando-se palavras-chave: segurança alimentar e nutricional, VISA e direito do consumidor. Utilizou-se ainda livros técnicos sobre o tema, manuais, legislações,regulamentações disponíveis em meio impresso e eletrônico. Os dados secundários foram tabulados e consolidados com o auxílio do software Microsoft Excel, para análise dos percentuais dos estabelecimentos mais e menos denunciados e confecção das tabelas e gráficos. Por fim, os resultados foram analisados e discutidos
As irregularidades encontradas foram provenientes dos mais variados tipos de estabelecimentos que produzem e comercializam alimentos, na capital maranhense.As análisesdescritivas dos dados coletados são apresentadas partir das tabelas abaixo:
Os percentuais encontrados na Tabela 1 demonstram que os principais estabelecimentos reclamados em 2012 foram: restaurantes com 27,8%; panificadoras 17,5%; supermercados 10,3%; e minimercados com 8,7%.
Tabela 1:Tipos e quantidades dasreclamações sem São Luís – MA / 2012
Tipos de Estabelecimento |
Quantidade |
% |
Restaurante |
35 |
27,8 |
Panificadora |
22 |
17,5 |
Supermercado |
13 |
10,3 |
Comércio Varejista de Alimentos (minimercados) |
11 |
8,7 |
Galeteria |
7 |
5,6 |
Comércio Varejista de Carne (frigorífico, açougue) |
7 |
5,6 |
Lanchonete |
5 |
3,9 |
Cozinha Industrial |
4 |
3,2 |
Comércio Varejista de Bebida (bar) |
3 |
2,3 |
Frigorífico e Comércio Varejista de Pescados e Mariscos |
3 |
2,3 |
Refeitório de empresas |
2 |
1,6 |
Pizzaria |
2 |
1,6 |
Comércio Atacadista de Alimentos |
2 |
1,6 |
Comércio Varejista de Hortifrutigranjeiros |
2 |
1,6 |
Conveniência |
2 |
1,6 |
Outros |
2 |
1,6 |
Venda de Juçara (Açai) |
1 |
0,8 |
Comércio varejista de Frango |
1 |
0,8 |
Abatedouro de suínos, caprinos e similares |
1 |
0,8 |
Fabricação de Alimentos |
1 |
0,8 |
Total |
126 |
100 |
Fonte: Vigilância Sanitária – São Luís/MA
Em 2013 as reclamações foram direcionadas principalmente para os supermercados com 19,9%; restaurantes com 16,4%; lanchonetes 13,9% e panificadoras com um percentual de 13,2%, conforme Tabela 2.
Tabela 2: Tipos e quantidades das reclamações em São Luís – MA / 2013
Tipos de Estabelecimento |
Quantidade |
% |
Supermercado |
56 |
19,9 |
Restaurante |
46 |
16,4 |
Lanchonete |
39 |
13,9 |
Panificadora |
37 |
13,2 |
Comércio Varejista de Alimentos (minimercados) |
30 |
10,7 |
Comércio Varejista de Bebida (bar) |
14 |
4,9 |
Frigorífico e Comércio Varejista de Pescados e Mariscos |
9 |
3,2 |
Galeteria |
7 |
2,4 |
Pizzaria |
7 |
2,4 |
Comércio Atacadista de Alimentos |
6 |
2,1 |
Cozinha Industrial |
5 |
1,7 |
Comércio Varejista de Carne (frigorífico,açougue) |
5 |
1,7 |
Sorveteria |
3 |
1,1 |
Comércio Varejista de Hortifrutigranjeiros |
3 |
1,1 |
Fabricação de Alimentos |
3 |
1,1 |
Comércio varejista de Frango |
2 |
0,7 |
Conveniência |
2 |
0,7 |
Refeitório de empresas |
1 |
0,4 |
Comércio Informal |
1 |
0,4 |
Venda de Juçara (Açaí) |
1 |
0,4 |
Abatedouro de suínos, caprinos e similares |
1 |
0,4 |
Buffet |
1 |
0,4 |
Guaraná da Amazônia |
1 |
0,4 |
Outros |
1 |
0,4 |
Total |
281 |
100 |
Fonte: Vigilância Sanitária – São Luís/MA
Os estabelecimentos mais denunciados em 2014, como mostra a Tabela 3, foram os supermercados, restaurantes, panificadoras e lanchonetes com respectivamente 22%, 19,7%, 15,3%, e 12,1%.
Tabela 3: Tipos e quantidades das reclamações em São Luís – MA / 2014
Tipos de Estabelecimento |
Quantidades |
% |
Supermercado |
49 |
22,0 |
Restaurante |
44 |
19,7 |
Panificadora |
34 |
15,3 |
Lanchonete |
27 |
12,1 |
Comércio Varejista de Bebida (bar) |
14 |
6,3 |
Galeteria |
9 |
4,0 |
Comércio Varejista de Carne (frigorífico,açougue) |
7 |
3,1 |
Comércio Varejista de Alimentos (minimercados) |
6 |
2,7 |
Comércio Atacadista de Alimentos |
6 |
2,7 |
Frigorífico e Comércio Varejista de Pescados e Mariscos |
5 |
2,2 |
Fabricação de Alimentos |
4 |
1,8 |
Cozinha Industrial |
3 |
1,3 |
Pizzaria |
3 |
1,3 |
Conveniência |
3 |
1,3 |
Comércio varejista de Frango |
3 |
1,3 |
Comércio Varejista de Hortifrutigranjeiros |
2 |
0,9 |
Outros |
1 |
0,5 |
Buffet |
1 |
0,5 |
Comércio Varejista de laticínios e frios |
1 |
0,5 |
Total |
223 |
100 |
Fonte: Vigilância Sanitária – São Luís/MA
Na Tabela 4 observa-se, que no ano de 2015, apresentaram o maior percentual de reclamações os restaurantes com27%, lanchonetes com 15%, supermercados 11,2% e panificadoras com 9,4%.
Tabela 4:Tipos e quantidades das reclamações em São Luís – MA / 2015
Tipos de Estabelecimento |
Quantidades |
% |
Restaurante |
63 |
27,0 |
Lanchonete |
35 |
15,0 |
Supermercado |
26 |
11,2 |
Panificadora |
22 |
9,4 |
Comércio Varejista de Bebida (bar) |
18 |
7,7 |
Comércio Varejista de Alimentos (minimercados) |
15 |
6,4 |
Comércio Atacadista de Alimentos |
14 |
6 |
Comércio Varejista de Carne (frigorífico, açougue) |
9 |
3,9 |
Galeteria |
7 |
3,0 |
Frigorífico e Com. Varejista de Pescados e Mariscos |
5 |
2,2 |
Conveniência |
4 |
1,7 |
Comércio Varejista de Hortifrutigranjeiros |
3 |
1,3 |
Refeitório de empresas |
2 |
0,9 |
Fabricação de Alimentos |
2 |
0,9 |
Comércio Varejista de laticínios e frios |
2 |
0,9 |
Comércio Informal |
1 |
0,4 |
Pizzaria |
1 |
0,4 |
Cozinha Industrial |
1 |
0,4 |
Total |
233 |
100 |
Fonte: Vigilância Sanitária – São Luís/MA
De acordo com o Gráfico 1,no período estudado, os estabelecimentos mais reclamados foram restaurantes, panificadoras, supermercados e lanchonetes. Conforme descrito nas tabelas anteriores, os restaurantes foram os mais reclamados em 2012 e 2015 com respectivamente 27,8% e 27,0%; e nos anos de 2013 e 2014, 16,4% e 19,7%; em segundo lugar; sob a ótica dos consumidores.Alternando-se com os restaurantes, os supermercados ficaram no topo da tabela em 2013 e 2014 com o percentual respectivo de 19,9% e 22%.
Gráfico 1 Tipo de estabelecimento reclamado em São Luís – MA de 2012 a 2015
No estudo de Brandão et.al (2009) dentre as denúncias recebidas pela Gerência de Vigilância Sanitária de Alimentos (GVA) da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, a maioria foram os restaurantes com 25,43%. Em São Luís os restaurantes foram reclamados nos quatro anos pesquisados. Esses dados refletem a insatisfação do consumidor mineiro e ludovicence, respectivamente, com este tipo de estabelecimento,
Em 2012 e 2014 os supermercados, panificadoras e restaurantes foram os estabelecimentos mais reclamados em São Luís o que se assemelha com a maioria das reclamações recebidas pelo Núcleo de Inspeção de Brasília – Sul no ano de 2007destacando-se como os mais denunciados (MOURA; BARBOSA, 2009).
No período de novembro de 2007 a abril de 2008 Santos et al (2010) pesquisaram a adequação de restaurantes comerciais às boas práticas, no município do Rio de Janeiro. Em 100% dos estabelecimentos não possuíam registro de programas de capacitação em higiene para manipuladores; e em um dos restaurantes o termo “Boas Práticas” era desconhecido por parte desses profissionais.
É importante ressaltar, que, os estudos referentes às boas práticas na produção de alimentos vêm confirmar a fragilidade do setor, que precisa urgentemente se adequar para oferecer sistematicamente alimentos próprios para o consumo. Quando essa prática não acontece, vem a insatisfação do consumidor ou dos órgãos fiscalizadores, traduzida na Tabela 5, sobre os motivos das reclamações em São Luís em denunciarem os estabelecimentos na cidade.
Os maiores registros foram sobre: falta de higiene (34,2%), estabelecimentos funcionando sem licença sanitária (17,0%), alimentos com características alteradas (9,5%),corpo estranho no alimento (8,5%) e esgoto estourado (8,4%). Os demais motivos também são relevantes segundo os aspectos higiênico-sanitários, que devem ser respeitados pelos proprietários das empresas levando-se em consideração a legislação sanitária. Durante a obtenção dos dados foi observado mais de uma irregularidade relacionada ao mesmo estabelecimento, ou uma diversidade de problemas denunciados.
Tabela 5: Tipos de reclamações notificadas entre 2012 e 2015em São Luís/MA.
Motivo da Reclamação |
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
Total |
% |
Falta de higiene |
47 |
102 |
68 |
82 |
299 |
34,2 |
Estabelecimento sem Licença Sanitária |
17 |
35 |
39 |
57 |
148 |
17,0 |
Alimento deteriorado |
13 |
20 |
35 |
15 |
83 |
9,5 |
Presença de corpo estranho no alimento |
8 |
25 |
24 |
17 |
74 |
8,5 |
Problemas com esgoto e fossa |
9 |
20 |
18 |
26 |
73 |
8,4 |
Outros |
8 |
24 |
18 |
20 |
70 |
8,0 |
Alimento com data de validade vencida |
14 |
27 |
15 |
8 |
64 |
7,3 |
Acondicionamento inadequado |
2 |
4 |
4 |
7 |
17 |
1,9 |
Presença de roedores e insetos |
2 |
6 |
3 |
1 |
12 |
1,4 |
Presença de animais no local |
0 |
7 |
3 |
0 |
10 |
1,1 |
Manipulação inadequada |
2 |
4 |
1 |
0 |
7 |
0,8 |
Abatedouro clandestino |
1 |
2 |
3 |
0 |
6 |
0,7 |
Reaproveitamento de alimentos |
0 |
4 |
0 |
0 |
4 |
0,5 |
Lixeira em local inadequado |
3 |
0 |
1 |
0 |
4 |
0,5 |
Passou mal ao ingerir o alimento |
0 |
2 |
0 |
0 |
2 |
0,2 |
Fonte:Vigilância Sanitária – São Luís/MA.
Restaurantes, supermercados, panificadoras e lanchonetes foram os principais estabelecimentos apontados pela população como os mais problemáticos, cada um com sua peculiaridade e complexidade, mas, com uma característica comum, que pode ser traduzido na ausência ou inadequação de boas práticas na produção e manipulação de alimentos.
Pode-se citar como exemplo a pesquisa de Vieira et al (2010) que analisaram 30 amostras de carne moída bovina comercializadas em supermercados, frigoríficos e açougue, em São Luís, e constaram que 90% estavam contaminadas com coliformes totais, 86,67% apresentaram coliformes a 45°C e 31% foram positivas para E.coli. Para os autores, os estabelecimentos pesquisados estão em desacordo com a legislação sanitária. Baseado nesses resultados foi sugerido um melhoramento em todas as etapas, bem como a inserção de Análise dos Pontos Críticos de Controle (APPCC) e o treinamento dos manipuladores sobre as Boas Práticas de Fabricação.
Em estudo realizado na cidade de Olinda/PE Figueiredo (2010), analisou as denúncias recebidas pela Divisão de Controle de Alimentos – DICAL da Vigilância Sanitária e constatou que dentre os principais motivos de reclamação destacam-se higienização precária com 56%, alimento impróprio para o consumo 38%,ausência da Licença Sanitária 10% e esgoto a céu aberto 3%.
A Vigilância Sanitária de Porto Alegre recebeu em 2011 uma média de dez denúncias por dia devido a irregularidades em estabelecimentos que comercializam produtos alimentícios. As principais ocorrências se referem à falta de higiene, à venda de produtos vencidos e à infestação por pragas urbanas (ratos, baratas e outros insetos). Outrotipo de irregularidade encontrada, porém, pouco denunciada, é o acondicionamento de produtos fora da temperatura ideal (NETTO O, 2011).
Esses estudos demonstram que não existem grandes diferenças com relação aos resultados encontrados no município de São Luís, onde a falta de higiene, ausência de licença sanitária, alimento deteriorado e presença de corpo estranho no alimento foram as principais causas das reclamações.
Os resultados dos dados demonstraram uma realidade preocupante em relação aos estabelecimentos que produzem e comercializam alimentos no município de São Luís/MA. As condições higiênico-sanitárias inadequadas apontadas nas reclamações recebidas pela VISA revelam a suscetibilidade dos consumidores as DTA. Tal realidade parece não diferir de outras cidades brasileiras.
No total, em quatro anos, foram 863 reclamações, sendo os principais estabelecimentos reclamados: restaurantes, supermercados, panificadoras e lanchonetes. Quatro segmentos de produção e comercialização de alimentos, que normalmente, atendem um grande fluxo de consumidores, tanto moradores ou turistas nacionais e internacionais que chegam em São Luís.
As situações de risco existem e são cada vez mais percebidas e vivenciadas pelo consumidor, que está aprendendo a usar o seu direito de cidadão ao recorrer a VISA para externar indignação e pedir soluções no intuito de evitar danos à sua saúde ou óbitos, que já ocorreram na cidade.
Os problemas relacionados à segurança alimentar constituem-se em desafio para todos: consumidores, setor regulador e poder público, exigindo esforços compartilhados no sentido de controlar os fatores que possam favorecer ao acometimento pelas DTAs.
Ressalta-se a importância da VISA nas atividadesde fiscalização com monitoramento sistemático das condições higiênico-sanitárias dos estabelecimentos e manipuladores quanto às boas práticas na produção e comercialização de alimentos, com base na legislação sanitária vigente. Mais ainda, na realização de campanhas de orientação junto aos consumidores e aos proprietários dos estabelecimentos quanto às boas práticas de higiene; cumprindo assim seu papel na prevenção e promoção da saúde pública.
ANVISA. (2008). Guia de alimentos e vigilância sanitária. 1ª ed. Brasília, DF: ANVISA.
BRANDÃO, G. P.; COSTA L. M.; ALMEIDA A.; MACHADO C. P. (2009). Frequência das categorias de denúncias de produtos e estabelecimentos recebidas pela vigilância sanitária de alimentos de Minas Gerais. In: ANVISA. Fóruns regionais de vigilância sanitária. Brasília: ANVISA; p. 85 – 86.
BRASIL. ANVISA. Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004. (2004) Dispõe sobre regulamento técnico de boas práticas para serviços de alimentação. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 16 set. 2004. p. 1-10. Brasília, DF.
BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990. (1990). Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 20 set. 1990. Brasília, DF, 1990.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.(2016a).Surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil . Recuperado de: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/junho/08/Apresenta----o-Surtos-DTA-2016.pdf.
BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS. (2016b). Óbitos p/Residênc por Ano do Óbito segundo Categoria CID-10. Município: 211130 São Luís. Período: 2012-2014. Recuperado de: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/obt10ma.def.
BRASIL. Presidência da República. Ministério do Desenvolvimento Social. Lei nº 11.346 de 15 de setembro de 2006. (2006). Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. DOU de 18 set 2006. Brasília, DF.
FIGUEIREDO, A.K.C. Perfil de denúncias recebidas pela vigilância sanitária duranteo ano de 2009 em Olinda/PE. (2010).[Monografia]. Pernambuco: Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz; 2010. 40 p. Recuperado de: http://www.cpqam.fiocruz.br/bibpdf/2010figueiredo-akc.pdf.
FORSYTHE, S.J. Microbiologia da segurança alimentar.(2002).Reimpressão 2007. Porto Alegre: Artmed.
GERMANO, P.M.L.; GERMANO, M. I. S. (2001). Higiene e vigilância sanitária de
alimentos. São Paulo, Manole.
LUCCHESE, G. A vigilância sanitária no sistema único de saúde. (2006).In: De Seta MH, Pepe VLE, Oliveira GO de. Gestão e vigilância sanitária: modos atuais do pensar e fazer. 1ª reimpressão 2008. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; p. 33 – 47.
MOURA, L.A. de. ; BARBOSA, S. S. A atividade de fiscalização da vigilância sanitária e o atendimento a reclamações da comunidade em um núcleo de inspeção do Distrito Federal.(2009). In: ANVISA. Fóruns regionais de vigilância sanitária. Brasília: ANVISA; p. 559 – 560.
NETTO, O. H. Vigilância sanitária recebe dez denúncias por dia contra estabelecimentos que vendem alimentos na capital. (2011). Rádio Guaíba. Recuperado de: http://radioguaiba.com.br/Noticias/?Noticia=258847.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Organização Mundial da Saúde (2006). Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Higiene dos alimentos – textos básicos. Brasília.
PREFEITURA DE SÃO LUÍS MARANHÃO. Câmara Municipal de São Luís. Lei n. 3546 de 05 de agosto de 1996. (1996).Dispõe sobre a vigilância sanitária no município de São Luís e dá outras providências. São Luís, Maranhão.
SANTOS, M. de O. B. dos; RANGEL V. P; AZEREDO D. P. Adequação de restaurantes comerciais àsboas práticas. (2010).Higiene Alimentar [periódico online] 2010 nov/dez [capturado 2012 ago. 20]; 24 (190/191); [6 telas] Recuperado de: http://bvs.panalimentos.org/local/File/Bol_Mar_2011_HigAlimentarNovDez44- 49AdequacaoRestaurantesComerciaisBoasPraticas.pdf.
VIEIRA, T. R. B.; AMORIM, C. C; ARAGÃO, N.E.; OLIVEIRA,R.W.S de. ;TELES, A.M.; NASCIMENTO, A. R. (2010).Avaliação da qualidade higiênico-sanitária da carne moída comercializada na cidade de São Luís-MA.62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ciências do Mar: uma herança para o futuro,jul.p. 25-30; Natal, Rio Grande do Norte. Recuperado de: http://bvs.panalimentos.org/local/File/Bol_Mar_2011_HigAlimentarNovDez44-49AdequacaoRestaurantesComerciaisBoasPraticas.pdf.
1. Química Industrial, Especialista em Vigilância Sanitária pela Universidade Federal do Maranhão, Fiscal da Vigilância Sanitária de São Luís - MA, Mestranda em Saúde e Ambiente – UFMA. Email de contato: ana.tereza@hotmail.com
2. Profª. Dra. do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-graduação em Saúde e Ambiente da Universidade Federal do Maranhão. Email de contato: zmarita@usp.br
3. Farmacêutico, Doutorando em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Maranhão. Email de contato: Luciano_mamede@yahoo.com.br