Vol. 38 (Nº 04) Año 2017. Pág. 14
Estevan Felipe Pizarro MUÑOZ 1; Letícia de OLIVEIRA 2
Recibido: 12/08/16 • Aprobado: 12/09/2016
2. Projetos de Investimento: uma revisão conceitual
3. Procedimentos metodológicos
RESUMO: O presente artigo busca compreender a existência e o significado da abordagem social em projetos de investimento, tendo como pano de fundo seus diferentes impactos para os diversos atores sociais envolvidos, bem como as externalidades na base territorial de execução. A metodologia representa uma análise bibliométrica a partir das expressões “project”, “investment”, “viability” e “social” nos títulos e/ou resumos e/ou palavras-chave dos artigos disponíveis na base de dados Scopus (http://www.scopus.com/) acessados no mês de outubro de 2015. Após filtragens da amostra, realizou-se uma análise qualitativa, buscando compreender o significado da temática social apresentado nos trabalhos. Os principais resultados apontam para uma hegemonia do enfoque econômico em detrimento das outras possíveis abordagens, tais como a cultural, política, social e ecológica, quando se analisa a viabilidade de um projeto de investimento. Quando o enfoque social é levado em consideração, há uma multiplicidade de significados que indicam a necessidade de um amadurecimento desse debate, bem como a criação de indicadores de mensuração que apontem sua efetividade. O artigo contribui para a maturação do debate da abordagem social em projetos de investimento, que carece conquistar espaço e atenção dos investidores, sejam empresários, agentes públicos ou representantes de organizações da sociedade civil. |
ABSTRACT: This paper sought understand the existence and the meaning of the social approach in investment projects, having as background the different impacts to the various social actors involved, as well as the externalities in territory of execution. The paper presents a bibliometric analysis through the terms “project”, “investment”, “viability” and “social” in the titles and/or abstracts and/or keywords of the available papers in Scopus database (http://www.scopus.com/) accessed in October, 2015. After the filtering the sample, it was held a quantitative analysis, looking for understand the meaning of the social thematic. The principal results point to a hegemony of economic focus rather than others possible approaches, like cultural, politic, social and ecologic, in the study of the feasibility of the investment project. When the social approach is considered, there a multiplicity of meanings that point one necessity of debate’s maturation, as such the development of indicators able to measure the effectiveness. This work contribute to maturation of the social approach in the investment projects, which need to conquer space and investors’ attention, as entrepreneurs, public agents or representatives of civil society organizations. |
A noção de projetos ganha cada vez mais notoriedade quando se trata da temática de investimentos. Diante de um dos problemas fundamentais da economia - recursos escassos para necessidades infinitas - o processo de gerenciamento das escolhas racionais dos agentes econômicos têm evoluído de forma significativa por meio da abordagem de viabilidade dos projetos de investimentos.
As empresas, o Estado ou mesmo as organizações sem fins lucrativos da sociedade civil, perpassam por essa necessidade de racionalização de recursos para o alcance de objetivos determinados, o que fundamenta a consolidação da área de Projetos de Investimento, que possui as preocupações de garantia da qualidade, por meio de um custo acessível e dentro de um prazo determinado (ROLDÃO, 2007; MAXIMIANO, 2009).
Um projeto pode ser entendido como um conjunto de informações coletadas e processadas de modo que simulem uma dada alternativa de investimento para testar a sua viabilidade (WOILER e MATHIAS, 2008). O que se denota na literatura em referência a projetos, e que também se expressa na realidade, é a preocupação do estudo de viabilidade exclusivamente com a dimensão econômica sob a ótica privada de investidores.
Os impactos de um projeto de investimento vão muito além do enfoque econômico tanto para os seus investidores, quanto para a sociedade. Mas, em geral, possuem pouca relevância na tomada de decisão. Há uma série de outros atores sociais (ou stakeholders conforme literatura gerencial) que são afetados direta e indiretamente, bem como a base territorial de execução do projeto podem ser impactadas de forma positiva ou negativa.
Nesse sentido, para a avaliação da viabilidade de projeto de investimento faz-se cada vez mais necessária uma abordagem multidimensional que transcenda o exclusivo enfoque econômico e contemple as abordagens sociais, ecológicas, políticas e culturais, tais como apregoado pela literatura do desenvolvimento sustentável.
Este debate vai ao encontro da ótica social de projetos de investimento proposto por Contador (2010), que aponta que ainda não existe uma métrica consensual para testar a viabilidade multidimensional e que, portanto, há uma necessidade de amadurecimento dessa questão.
Nesse contexto, o presente artigo trata de compreender, por meio de uma análise bibliométrica, se existe uma abordagem social nos artigos publicados e disponíveis na base de dados Scopus, referente ao tema viabilidade de projetos de investimento.
Desse modo, este trabalho está organizado em quatro seções, além desta introdução. Na seção dois, realiza-se uma revisão conceitual do que se trata a noção de projetos de investimento, bem como a sua viabilidade social. Na seção seguinte, destacam-se os procedimentos metodológicos. Na seção quatro apontam-se os principais resultados e discussões por meio de uma abordagem quali-quantitativa e por fim, tem-se as considerações finais e algumas sugestões para futuros estudos.
Hoji (2003) destaca que um investimento envolve sacrifício de recursos humanos, intelectuais, materiais e financeiros, e seu retorno deve ser compatível com o risco assumido. Para Galesne et al. (1999) um investimento consiste, para uma empresa, no comprometimento de seu capital, sob diversas formas, de modo durável, na esperança de manter ou melhorar sua situação econômica. Sandroni (1994, pág. 176) aponta que um investimento é:
Aplicação de recursos (dinheiro ou títulos) em empreendimentos que renderão juros ou lucros, em geral, a longo prazo. Num sentido amplo, o termo aplica-se tanto à compra de máquinas, equipamentos e imóveis para a instalação de unidades produtivas como à compra de títulos financeiros (letras de câmbio, ações etc.) Nesses termos, investimento é toda a aplicação de dinheiro com a expectativa de lucro. Em sentido estrito, em economia, investimento significa a aplicação de capital em meios que levam ao crescimento da capacidade produtiva (instalações, máquinas, meios de transporte), ou seja, em bens de capital. Por isso, considera-se também investimento a aplicação de recursos do Estado em obras muitas vezes não lucrativas, mas essenciais por integrarem a infraestrutura da economia (saneamento básico, rodovias, comunicações).
Nesse contexto, emerge o conceito de projeto, que busca dar conta dessa realidade. De acordo com Maximiano (2009, pág. 4) projeto é a palavra derivada do latim proicio, que significa “lançar para diante”. Há um consenso na literatura (Maximiano, 2009; Roldão, 2007; Woiler e Mathias, 2008) de que um projeto possui, em geral, as seguintes características: é um empreendimento temporário ou sequência de atividades com começo, meio e fim programados; após a conclusão, sua estrutura é dissolvida; tem por objetivo fornecer um produto singular (bem e/ou serviço); e é limitado por restrições orçamentárias.
Um projeto possui diferentes fins. Pode ser aplicado para a realização de uma obra, ao lançamento de um novo produto, à reorganização de uma empresa (Roldão, 2007), à uma investigação científica, à realização de um evento, prestação de serviço, ou qualquer projeto de investimento que envolva uma expectativa de resultado e utilização de tempo, bem como de recursos materiais e/ou financeiros.
Outra classificação dos projetos é dada por Woiler e Mathias (2008) que apontam que um projeto pode ser agrícola, industrial ou de serviços. Do ponto de vista microeconômico, um projeto pode ser de implantação, de expansão; de modernização, de relocalização, de diversificação. Quanto ao uso, um projeto pode ser de viabilidade, final ou de financiamento.
Independentemente das tipologias e classificações possíveis de um projeto, a condição primordial para a sua execução é a comprovação de seu estudo da viabilidade. De acordo com Contador (2010), a viabilidade e a rentabilidade de um projeto podem ser avaliadas por diversas óticas: a do empresário, a do banco e agências de financiamento, a do governo em cada uma de suas esferas, a de outros empresários prejudicados ou beneficiados pela realização do projeto.
Em geral, quando se trata de avaliação da viabilidade de um projeto, a dimensão que automaticamente se apresenta é a econômica. Hoji (2003) aponta que a necessidade de analisar a viabilidade econômica de um investimento gera problema de engenharia econômica, que tem como finalidade possibilitar a escolha da melhor alternativa de investimento, utilizando métodos específicos, com a consequente otimização de recursos. O autor (HOJI, 2007, pág. 167) afirma que:
A finalidade da avaliação econômico-financeira de investimento consiste em avaliar o fluxo de caixa futuro gerado pelo investimento realizado. O fluxo de caixa de um projeto de investimento nada mais é do que a projeção de geração líquida de caixa, isto é, a projeção de lucro líquido excluído os itens que não afetam o caixa (depreciação e amortização), acrescentando o desembolso em investimentos fixos.
Brum e Balian (2007) apontam que a ideia de viabilidade de um projeto está na análise das alternativas de investimento mediante metodologias que indicarão os retornos financeiros e os riscos associados à cada alternativa. Dentre os quais, destacam-se o Valor Presente Líquido (VPL), o Payback e a Taxa Interna de Retorno (TIR). Além disso, vale ressaltar que as alternativas de investimento mudam de investidor para investidor, em virtude de variáveis como porte do capital e nível de aceitação do risco, expresso pela Taxa Mínima de Atratividade (TMA), incerteza dos resultados do projeto, bem como pela experiência pessoal do tomador de decisão.
Embora seja inegável a importância do enfoque econômico dos resultados de um projeto, a ótica privada não é a única que recebe impactos após a realização de um projeto de investimento. As abordagens sociais, ecológicas, culturais e políticas também são influenciadas em menor ou maior grau que a econômica e que, segundo Contador (2010), representam a ótica social de um projeto.
Entretanto, na literatura de maneira geral, pouco se aborda essas abordagens nas análises de viabilidade dos projetos de investimento. Assim, de acordo com Contador (2010):
A avaliação social serve para examinar os efeitos diretos e indiretos que são ou serão causados por um projeto. A questão mais séria é como induzir os indivíduos a adotarem as decisões que conciliem os interesses privados e sociais. [...] o enfoque é dito social ou econômico quando avaliamos o projeto sob o ponto de vista da sociedade como um todo. Para tal, primeiro é necessário ignorar as fronteiras particulares de interesses de indivíduos, famílias, empresas e regiões dentro da nação. Cumpre, em segundo, eliminar as transferências entre indivíduos, tais como os impostos e subsídios. Deve-se, finalmente, incorporar os efeitos indiretos do projeto em outras atividades e pessoas. Feito isso, a análise social dirá se o projeto é ou não atrativo para a sociedade como um todo (pág. 21).
A questão que emerge nesse momento é a falta de clareza e consenso em relação ao que seria a viabilidade social de um projeto de investimento. Contador (2010) destaca que a aceitação ou a rejeição da análise social de um projeto (realizados pelo setor privado ou governo) apresenta como um instrumento útil ao planejamento e ao processo de decisão, refletindo sempre em um juízo de valor.
Outro aspecto essencial na ótica social dos projetos referem-se aos proponentes e beneficiários, tais definições implicarão em objetivos, metas, metodologias e resultados diferenciados. Ou seja, se quem propõe o projeto é uma secretaria municipal ou uma associação sem fins lucrativos ou uma organização não governamental ou uma empresa ou mesmo uma parceria de mais de uma organização, haverá perspectivas distintas entre tais proponentes.
Do mesmo modo, quem recebe os benefícios de um projeto podem ser pessoas em situação de vulnerabilidade social ou empresas (de diversos portes e maturidade) ou regiões ou mesmo territórios, dentre tantas outras possibilidades, que significam uma infinidade de interpretações sob o que pode ou não ser benéfico como resultado final.
Nesse sentido, faz-se necessário um amadurecimento do conceito da ótica social de projeto de investimento, tendo em vista a consolidação da viabilidade multidimensional, ou seja, refletir para além da esfera econômica. O presente artigo tratou de realizar uma análise bibliométrica com esse intuito, conforme descrito nos procedimentos metodológicos a seguir.
Para a classificação da metodologia utilizada, tomou-se como base a taxionomia apresentada por Vergara (1997), que qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios.
Quanto aos fins, o projeto realizado pode ser considerado como exploratório e descritivo. Para Triviños (1987, p. 109):
O estudo exploratório permite ao investigador aumentar sua experiência em torno de determinado problema. O pesquisador parte de uma questão norteadora e aprofunda seu estudo nos limites de uma realidade específica, buscando antecedentes, maior conhecimento para planejar uma pesquisa descritiva.
A etapa exploratória foi necessária para a busca de informações, contextualização do tema e a sua sistematização no que se refere ao debate das ideias a respeito da ótica social na avaliação de um projeto de investimento. A etapa descritiva buscou analisar qual a abordagem que emerge dos artigos analisados sobre projetos de investimento.
Quanto aos meios, a pesquisa pode ser considerada como uma pesquisa bibliográfica de estudo bibliométrico, pois foi elaborado a partir de artigos de periódicos já publicados, disponibilizados na base de dados Scopus, caracterizando, assim, a base de dados como secundários (GIL, 1991).
Para a análise dos dados foi utilizada uma abordagem adaptada da proposta por Conforto et. al. (2011), que desenvolveram um roteiro para a Revisão Bibliográfica Sistemática – RBS Roadmap. Nesse sentido, foram definidos os seguintes critérios de entrada: 1. Problema; 2. Objetivos; 3. Fontes de Pesquisa; 4. Strings de Busca; 5. Cronograma.
Considerando-se o problema de pesquisa “Existe abordagem social nos projetos de investimento?”, o presente trabalho buscou identificar artigos que contenha as expressões “project”, “investment” e “viability”, nos títulos e/ou resumos e/ou palavras-chave na base de dados Scopus (http://www.scopus.com/) durante o mês de outubro de 2015.
Foram encontrados 307 artigos na base de dados Scopus publicados entre os anos de 1979 e 2015 e que foram analisados segundo os seguintes parâmetros: país de origem do estudo, instituição de origem do estudo, periódico, área de concentração e ano de publicação. Tal recorte representa a amostra I.
A partir dessa amostra I, foi adicionada a expressão “social”, o que gerou uma nova amostra de 36 artigos publicados entre os anos de 1979 e 2015 e que foram também analisados conforme os parâmetros citados anteriormente, representando a amostra II.
Para a realização da análise de conteúdo, foram utilizados três filtros para a seleção dos artigos da amostra II, conforme segue:
Após o uso dos filtros citados e a seleção dos artigos, iniciou-se a leitura completa dos artigos representando a amostra III, conforme quadro 1:
Quadro 1: Artigos selecionados para a análise qualitativa – amostra III
Chellappan, S., Sudha, R.,"Investment, adoption, attitude and extent of participation of farmers in soil conservation projects in the Western Ghats of India revised topic",2015,"International Journal of Social Economics". |
Mora, M.A.M., Dominguez, E.R., Ibarra, A.A., Reynaga, N.S., Delgadillo, S.A.M.,"A methodological improvement for assessing petrochemical projects through life cycle assessment and eco-costs",2014,"International Journal of Life Cycle Assessment". |
Romijn, H., Heijnen, S., Colthoff, J.R., de Jong, B., van Eijck, J.,"Economic and social sustainability performance of jatropha projects: Results from field surveys in Mozambique, Tanzania and Mali",2014,"Sustainability (Switzerland)". |
Li, Y., Foo, C.-T.,"Towards sustainability in the high-speed railway industry: Modeling of cases from China",2014,"Chinese Management Studies". |
Sartori, M.A., Perez, R., da Silva Jr, A.G., Sartori Machado, S.R., Santos, M.M., Miranda, C.A.,"Análise de arranjos para extração de Óleos vegetais e suprimento de usina de biodiesel",2009,"Revista de Economia e Sociologia Rural". |
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa
Selecionada a amostra III, a etapa seguinte foi a realização de uma análise de conteúdo, que é uma técnica de pesquisa que possui as seguintes características metodológicas: objetividade, sistematização e inferência (GERHARDT E SILVEIRA, 2009).
De acordo com a literatura pesquisada existe uma diversidade de modalidades de análise de conteúdo, no entanto, no presente trabalho será utilizada a análise temática, que segundo Gerhardt e Silveira (2009, pág. 84) “trabalha com a noção de tema, o qual está ligado à uma afirmação a respeito de determinado assunto; e comporta um feixe de relações que pode ser graficamente representada por meio de uma palavra, frase ou resumo”.
Alves (2011) considera duas abordagens para a análise de conteúdo: (i) orientada para a forma (objetiva) que envolve a contagem rotineira das palavras ou referências concretas; e (ii) análise orientada para o significado (subjetiva) que se foca na análise dos temas subjacentes no texto sob investigação.
Nesse sentido, o presente trabalhou realizou uma análise de conteúdo do tema “social” nos artigos que abordam sobre a viabilidade econômica de projetos de investimento, buscando compreender seu significado (abordagem subjetiva), bem como a quantidade de referências concretas no trabalho (abordagem objetiva). O próximo tópico apresenta a análise dos principais resultados e discussões.
Um primeiro aspecto a ser apresentado refere-se às instituições de origem dos artigos publicados da amostra I. Destacam-se a Universidade de São Paulo e a Hong Kong Polytechnic University com 4 artigos publicados cada. Além disso, como representantes brasileiras com 3 artigos publicados cada, estão a Universidade Federal de Viçosa e a Universidade Federal de Lavras, ambas no Estado de Minas Gerais. O gráfico 1 apresenta os artigos segundo a instituição de origem.
Gráfico 1 – Artigos segundo a instituição de origem da amostra I
Fonte: Scopus (2015)
Quando se analisa a amostra II apenas 4 universidades possuem 2 artigos publicados cada, enquanto todas as outras 28 publicações foram realizadas por instituições diferentes, não havendo, portanto, destaque de nenhuma instituição neste aspecto.
Os gráficos 2 e 3 apresentam os artigos segundo o país de origem da amostra I e II, respectivamente. Quando não se considera a palavra-chave social (gráfico 2), destacam-se os Estados Unidos com 55 artigos publicados, o Reino Unido com 34 artigos e o Brasil com 29 artigos, concentrando 38,43% das publicações relacionadas ao tema em estudo.
Gráfico 2 – Artigos segundo o país de origem da amostra I
Fonte: Scopus (2015)
No entanto, na amostra II ocorre uma interessante inversão dos países de origem dos artigos. A Austrália, assume o ranking com 5 artigos publicados, enquanto Brasil (13,79% dos artigos publicados) e Reino Unido (11,76% dos artigos publicados) ficam na segunda posição com 4 artigos cada. Os Estados Unidos, publicam apenas 2 artigos com abordagem social (de um total de 56), significando uma porcentagem ínfima de 3,57% do total de seus artigos publicados, podendo representar uma tendência da temática em discussão.
Gráfico 3 – Artigos segundo o país de origem da amostra II
Fonte: Scopus (2015)
Os quadros 2 e 3 apresentam os principais periódicos e seu Fator de Impacto que publicaram sobre as temáticas pesquisadas tanto da amostra I, quanto da amostra II, respectivamente:
Quadro 2: Principais periódicos da amostra I e seu Fator de Impacto
Periódico |
Quantidade |
Fator de Impacto (2014) |
Energy Policy |
8 |
2,575 |
Custos E Agronegócio |
7 |
0.060 |
TransportationResearch Record |
7 |
0.544 |
Energy |
5 |
4.844 |
Renewable Energy |
5 |
3.476 |
Fonte: Scopus (2015) e Web of Science (2016).
Destaca-se que quando não se considera a palavra-chave social, conforme quadro 2, os principal periódicos são: ‘Energy Policy’, com 8 artigos, seguido pelo periódico brasileiro ‘Custos e Agronegócio’ com 7 artigos e o periódico ‘Transportation Research Record’ com 7 artigos também. Em relação ao Fator de Impacto da amostra I referente ao ano de 2014, destaca-se o periódico ‘Energy’ com 4,844 e o periódico ‘Renewable Energy’ com 3,476.
Já quando se insere a palavra-chave “social”, amostra II, o número de publicações diminui. Conforme apresentado no quadro 3 mantém-se destaque para o periódico ‘Energy Policy’, agora com 3 artigos e o periódico ‘Transportation Research Record’ com 2 artigos. Em relação ao Fator de Impacto da amostra II referente ao ano de 2014, destaca-se apenas o periódico ‘Energy Policy’ com 2,575.
Quadro 3: Principais periódicos da amostra II e seu Fator de Impacto
Periódico |
Quantidade |
Fator de Impacto (2014) |
Energy Policy |
3 |
2,575 |
Engineering Construction and Architetural Management |
2 |
indisponível |
Journalof Energy in Southern Africa |
2 |
0.222 |
TransportationResearch Record |
2 |
0.544 |
Fonte: Scopus (2015) e Web of Science (2016).
Isso significa que a dimensão social nos projetos de investimento possui não apenas uma representação quantitativa menor, dado o número de artigos publicados com esse enfoque, mas o que talvez seja mais preocupante, é que esse debate está sendo feito nos periódicos com menor Fator de Impacto, o que em última instância significa menor ressonância dessa reflexão no mundo acadêmico.
O gráfico 4 e 5 [3] apresentam os artigos segundo a área de estudo da amostra I e II, respectivamente. No gráfico 4, destacam-se as áreas da Engenharia com 31,6%, seguida pela área de Energia com 24,7% e das Ciências Ambientais com 22,4%.
Gráfico 4 – Artigos segundo a área de estudo da amostra I
Fonte: Scopus (2015)
Na amostra II, as áreas de estudo que se destacaram (Gráfico 5) são: Ciências Sociais com 36,1%, Engenharia com 27,8% e Ciências Ambientais também com 27,8%, o que não representam alteração significativa das áreas originárias desses estudos.
Gráfico 5 – Artigos segundo a área de estudo da amostra II
Fonte: Scopus (2015)
O gráfico 6 é emblemático para o presente debate. Nota-se a baixíssima produção de artigos da área de projetos de investimento com abordagem social, apenas 11,73% do total de artigos publicados do período de 1979 a 2015. Em diversos anos não houve nenhuma publicação, fato que chama a atenção para a negligência por parte dos autores com uma dimensão que deveria possuir tanta importância quanto a econômica.
Gráfico 6 – Anos de publicação dos artigos da amostra I e II
Fonte: Scopus (2015)
Neste momento, vale destacar algumas limitações do presente estudo. O string de busca “social” foi buscado apenas nos títulos, resumos e palavras-chave dos artigos, ou seja, é possível que ao longo do corpo do texto dos artigos da amostra I houvesse a ocorrência da mesma, mas que a base de dados Scopus não localizou. Um segundo aspecto está no fato de que é possível que em alguns artigos da amostra I, houvesse a ocorrência de uma abordagem social sem o registro da palavra-chave social propriamente ou uma ênfase na sua importância para a tomada de decisão da viabilidade de investimentos.
De qualquer maneira, esses aspectos reforçam a hipótese do presente trabalho de que a abordagem social de projetos de investimento tem pouca importância para a tomada de decisão, dado que mesmo quando possa existir, não é ressaltada pelos autores como um critério de viabilidade.
O próximo tópico tratará de analisar os artigos com abordagem social, conforme exposto na metodologia e que representam a amostra III.
Para a realização da abordagem qualitativa utilizar-se-ão os dados sintetizados no quadro 4 a seguir:
Quadro 4 – Síntese da base de dados para análise qualitativa da amostra III
Fonte: Elaboração pelos autores (2015)
*A repetição do termo social foi observada no corpo do texto. As referências bibliográficas não foram consideradas nesta contagem.
Em relação à análise de conteúdo orientada à forma da amostra III, nota-se no quadro 4 que, com exceção do artigo de Romijn (2014), houve uma média aproximada de 5 repetições do termo social, tendo um limite mínimo de 3 repetições e máximo de 7 repetições, o que representa um equilíbrio no uso do termo social ao longo dos artigos analisados.
O artigo de Romijn (2014) apresenta uma repetição de 31 vezes o termo social, representando uma discrepância em relação aos outros artigos da amostra III. Uma das possíveis explicações está no fato do periódico ser da área de sustentabilidade representando, de fato, uma análise multidimensional.
Em relação à análise de conteúdo orientada ao significado, percebe-se no quadro 4 uma diversidade de interpretações da abordagem social: metodologias participativas, impacto na saúde e no ambiente, condições de trabalho, acesso à terra, segurança alimentar, questões de gênero, externalidades positivas para o turismo e os negócios e oportunidades de geração de trabalho e renda para agricultores familiares.
Ou seja, dependendo de quem sejam os proponentes e os beneficiários de um projeto de investimento, há uma diversidade de interpretações sobre o que pode ou não ser desejável a partir de quem oferece e de quem recebe os impactos diretos e indiretos. Tal afirmação vai ao encontro da ideia de Contador (2010) de que há um juízo de valor na ótica social de um projeto.
Nesse sentido, além da viabilidade econômica, condição sine qua non para a execução de um projeto de investimento, faz-se necessário a realização de uma análise de viabilidade multidimensional (social, cultural, ecológica, política) que leve em consideração as especificidades dos atores envolvidos na concepção, execução e resultados (diretos e indiretos), bem como às especificidades do espaço (base territorial) que também são afetados pelas externalidades positivas e/ou negativas.
Tendo como questão norteadora a existência da abordagem social nos projetos de investimento, o presente estudo buscou identificar artigos publicados e disponíveis na base de dados Scopus, por meio de uma análise bibliométrica, após uma revisão conceitual da temática de análise de investimentos.
Por meio de uma abordagem quantitativa foi traçado um panorama das publicações das amostras I e II, de acordo com a base de dados Scopus, onde se analisaram as universidades de origem dos trabalhos, os países de origem, os principais periódicos e seu Fator de Impacto, assim como as principais áreas de estudo.
Constatou-se no presente trabalho a pouca (quase ínfima) representatividade que a abordagem social possui nos projetos de investimento. Dados comparativos da amostra I e II apontam que apenas 11,73% consideram de alguma forma a ótica social. Além disso, o debate da abordagem social dos projetos de investimento está ocorrendo em periódicos com menor Fator de Impacto, o que significa uma menor repercussão e, portanto, uma menor importância dessa questão.
Esta realidade necessita ser problematizada e repensada pela comunidade acadêmica tendo em vista o debate com toda a sociedade, sobretudo diante da catástrofe socioambiental ocorrida por conta do rompimento da barragem da atividade mineradora no município de Mariana-MG, Brasil, no ano de 2015.
Observou-se que, em função dos extraordinários avanços da Ciência e Tecnologia, os investidores necessitam considerar a ótica social nos projetos, além dimensão econômica, dado os significativos impactos que a ação humana é capaz de realizar.
Quando se analisa qualitativamente a amostra III, verifica-se uma multiplicidade de significados da abordagem social de um projeto de investimento. Tal fato representa a complexidade, as diferentes visões dos atores sociais envolvidos diretamente e indiretamente, bem como as externalidades positivas e negativas geradas na base territorial de um projeto de investimento.
A complexidade de um projeto, segundo Maximiano (2009) mede-se pelo número de variáveis que contém, tais como: multidisciplinaridade, distância física entre pessoas e/ou recursos do projeto; número de pessoas, organizações ou instalações envolvidas; diversidade e volume de informações a serem processadas; duração; risco; incerteza e segurança.
Diante disso, um projeto de investimento deve necessariamente ter uma abordagem multidimensional, ou seja, além da viabilidade econômica já consolidada, faz-se necessário a realização de estudos que apontem a viabilidade social, cultural, política e ecológica das motivações, formas de gestão e resultados esperados.
Longe de esgotar o assunto, a maturação do debate da ótica social dos projetos de investimento precisa conquistar espaço e atenção dos investidores, sejam empresários, agentes públicos ou representantes de organizações da sociedade civil.
Nesse sentido, como sugestões para futuras pesquisas destaca-se a possibilidade de considerar estudos que não utilizem um critério de viabilidade econômica proposto na literatura (Valor Presente Líquido, Taxa Interna de Retorno, Relação Custo/Benefício ou Payback).
Outras agendas de pesquisas importantes estão na maturação dos possíveis indicadores sociais nas análises de investimentos, bem como na compreensão da negligência com a abordagem social.
Em tempos de crise socioambiental, a construção de uma abordagem multidimensional para projetos de investimento faz-se cada vez mais urgente e legítima.
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WOILER, S.; MATHIAS, W.F. Projetos: planejamento, elaboração, análise. São Paulo: Atlas, 2008.
1. Doutorando do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, estevanpmunoz@gmail.com
2. Professora do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, leticiaoliveira@ufrgs.br
3. Vale destacar que um artigo pode ser classificado em mais de uma área de estudo, o que significa que pode passar dos 100%.