Espacios. Vol. 37 (Nº 29) Año 2016. Pág. 2
Ronaldo Ferreira MAGANHOTTO 1; Leandro BAPTISTA 2; Jasmine Cardozo MOREIRA 3; Marciel LOHMANN 4
Recibido: 19/05/16 • Aprobado: 23/06/2016
3. Educação ambiental: Princípio da sustentabilidade
4. Caracterização das atividades desenvolvidas
RESUMO: A Floresta Nacional de Irati apresenta em seu Plano de Manejo o Zoneamento Ambiental da unidade, no entanto, não há um programa de visitação ou educação ambiental. Assim, a presente pesquisa teve como objetivo diagnosticar a atividade de visitação e educação ambiental ocorrente na área. Verificou-se, a predisposição dos gestores às atividades de educação ambiental e de visitação, o potencial indiscutível da área para este tipo de atividade e a existência de ações e iniciativas tanto para o fortalecimento da atividade na unidade, quanto para a satisfação dos visitantes. |
ABSTRACT: The Irati National Forest show in its Management Plan, the Environmental Zoning, However, there is no visitation program or environmental education. Thus, the present study aimed to diagnose the visitation and environmental education activity occurring in the area. As a result, it was found, the interest of managers to environmental education and visitation, the undeniable potential of the area for this type of activity and the existence of actions and initiatives for both the strengthening of activity in the unit, and to the satisfaction visitors. |
O uso indiscriminado dos recursos naturais ao longo dos anos desencadeou uma série de impactos ambientais, deflagrando ações de conservação e de conscientização ambiental. Nota-se a implementação destas a partir da década de 70, momento em que se evidencia a discussão e implementação de medidas de conservação com mais afinco.
Consequentemente surgem as Unidades de Conservação (UC) e seguidamente, seus programas de visitação e educação ambiental, orientados pelos seus Plano de Manejo.
No Brasil, esses espaços seguem regulamentados através da lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, a qual instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, SNUC. O SNUC sistematiza as designações e questões jurídicas relacionadas às unidades de conservação, UC’s, direcionando sua gestão em âmbito local, regional e nacional.
No entanto, parcela das unidades de conservação apresentam irregularidades quanto (in)existência do plano de manejo, assim como regulamentação fundiária, recursos humanos e financeiros. No caso das Florestas Nacionais, FLONA’s, apenas 32% da categoria possui o referido documento, sua inexistência e ou desatualização compromete o trabalho dos gestores e o cumprimento dos objetivos em parte das unidades (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade, 2012).
A FLONA de Irati situada entre os municípios de Teixeira Soares e Fernandes Pinheiro, distando 150 km da capital Curitiba e 9 km de Irati (Figura 1), teve seu plano de manejo finalizado em dezembro de 2013, o qual por meio do zoneamento ambiental delineou suas diferentes zonas e definiu a tipologia de uso para cada classe. Apesar da delimitação da Zona de Uso Público e a identificação da sua vocação de uso, onde se enquadra as atividades de Educação Ambiental (EA), não há para esta um programa ou um regulamento norteando as atividades de EA existentes na área.
Figura 1: Mapa de Localização.
Fonte: Autores.
Assim, a presente pesquisa tem como intuito contextualizar a atividade de Educação Ambiental ocorrente na Unidade, a fim de elencar informações para futuras ações de planejamento e gestão desta atividade na FLONA. Para isso pretende-se a identificação da demanda e do perfil do visitante; a verificação das atividades realizadas nas visitas; o levantamento dos percursos realizados e a avaliar o conteúdo atualmente trabalhado com os visitantes.
Para tanto, a abordagem metodológica para o cumprimento dos objetivos propostos deu-se através de levantamento bibliográfico, aplicação de questionário estruturado por meio de formulário próprio e posteriormente, documentação dos resultados coletados.
O levantamento bibliográfico teve como parâmetro os seguintes termos: Unidades de Conservação, Área de Uso Público, Educação Ambiental e Floresta Nacional de Irati. Seguindo as instruções de Lima e Mioto (2007), esta etapa da pesquisa tem função de embasar, compreender e discutir os resultados obtidos, visando sobretudo, corroborar ou negar teorias ou hipóteses.
A entrevista realizada junto ao ICMBio contou com oito perguntas abertas, realizado no dia 18 de maio de 2015, que trataram do tema Educação Ambiental e como esta atividade vem ocorrendo junto à FLONA de Irati.
Por fim, as respostas obtidas com a aplicação do questionário são apresentadas visando contribuir na construção da caracterização da atividade de Educação Ambiental que vem ocorrendo na FLONA de Irati.
Acredita-se que o cumprimento destas ações e análise destas informações subsidiará ações e medidas futuras otimizando a atividade de EA, por meio da adequação de percurso, conteúdo e demais ações, refletindo diretamente na expectativa do visitante e no melhor aproveitamento dos recursos naturais e do conhecimento ecológico disponível na FLONA de Irati.
A FLONA de Irati distribui-se em 3.618 ha da região Sudeste do Estado do Paraná, apresenta um clima ameno do tipo Cfb, Subtropical Úmido Mesotérmico, com verões frescos, sem estação seca e geada severa (Mazza, 2006).
Sua rede de drenagem (Figura 2) conta com 81.445,59 m de rios e córregos no interior da unidade. O rio das Antas percorre toda a extensão da divisa oeste, enquanto o Imbituva adentra pela região central e se direciona sentido o limite leste. Ao norte da unidade, as várzeas de ambos se unem, formando uma extensa área alagada, configurando-se como limite e referência para a divisa da unidade (Mazza, 2006).
A formação geológica presente na unidade corresponde aos depósitos sedimentares paleozóicos da Bacia do Paraná e estão relacionados ao Grupo Guatá, Depósitos Quaternários e Passa Dois. Ocupando 1.847 ha, cerca de 51% da unidade, o Grupo Guatá é o mais representativo e é constituído por arenitos, siltitos, carvão, folhelhos e calcários. Os Depósitos Quaternários correspondem a 930 ha, equivalente a 26% da área, trata-se de uma formação recente fruto da deposição areno-síltico-argilosa situa-se na região norte da unidade onde encontra-se a várzea e junção do Rio Imbituva e Rio das Antas. Localizado na porção sudoeste o Grupo Passa Dois ocupa 841 ha, correspondendo a 23% da FLONA caracteriza-se pela presença de siltitos acinzentados intercalados com calcário micrítico e estromatolítico (Mazza, 2006).
Quanto ao uso do solo Mazza (2006) levantou em sua pesquisa a presença de oito classes correspondentes a floresta nativa, reflorestamento, plantio de araucária, várzeas, capoeira, estradas, linha de transmissão e infraestrutura (Figura 2).
A floresta nativa corresponde à forma de uso mais extensa da unidade ocupando cerca de 1585,45 ha (43,8% da área), destes, a parcela menor e fragmentada situa-se na porção leste, enquanto a extensão maior e contínua localiza-se a oeste.
A área composta por reflorestamento de Pinus spp ocupa 860,52 ha, correspondente a 23,7% da FLONA e foi introduzida na unidade com o objetivo de fomentar o cultivo para a produção de madeira. Sua concentração maior situa-se na região leste da área, porém evidencia-se talhões menores na parte central e a oeste da unidade. O plantio de araucária compreende 454,37 ha, 12,56% da FLONA, foi efetuado a partir de 1946 e compõem, atualmente, um denso sub-bosque. Depõem - se de forma contínua na porção oeste e centro-leste da área.
Figura 2: Uso do Solo.
Fonte: Mazza 2006; Organização: Maganhotto, 2012.
Correspondendo a 12,4% da unidade abrangendo 450,91 ha, as várzeas encontram-se associadas aos Rios Imbituva e Antas. Neste sentido, são identificadas nos limites leste avançando pela região central e oeste.
Cruzam no sentido Leste-Oeste duas linhas de transmissão. A linha Irati – Sabará, administrada pela Companhia Paranaense de Energia Elétrica S.A., COPEL e a linha Areia – Ponta Grossa, administrada pela Eletrosul Centrais Elétricas, S.A., ELETROSUL. A primeira percorre cerca de 7900 metros cortando áreas de várzea, floresta nativa, reflorestamento e plantio de araucária. Enquanto a segunda possui, aproximadamente, 1500 metros sobre as áreas de várzea e capoeira. Somando os valores recorrentes às duas linhas, pode-se afirmar que as mesmas ocupam em torno de 35,49 ha, equiparando-se a 0,98% da área.
E por fim, a infraestrutura e edificações de apoio e uso a administração corresponde a 12,57 ha, pontuando 0,35% da unidade. Estas correspondem a casa da administração, de hóspedes, guaritas, depósitos, residência de funcionários viveiro, museu, igreja, churrasqueira e escola.
O plano de manejo da FLONA, finalizado em dezembro de 2013, apresenta as zonas de manejo presentes na UC (Figura 3). O estabelecimento destas classes objetivou orientar o planejamento e gestão da Floresta Nacional de Irati. Neste contexto, foram delimitados a Zona Primitiva, de Recuperação, de Uso Conflitante, de Uso Especial, de Manejo Floresta e de Uso Público. Sendo que a Zona de Uso Público destina-se às atividades de visitação, lazer e educação ambiental, local de interesse metodológico deste estudo.
Constituída por áreas naturais ou alteradas pelo homem, é mantida o mais próximo possível do natural, devendo conter: centro de visitantes, museus e outras facilidades e serviços. O objetivo geral do manejo desta zona é o de facilitar a recreação intensiva e educação ambiental em harmonia com o meio (Gonçalves, A. R.; Fernandes, C. H. V.; Penteado, D.; & Veloso, V, 2009).
Figura 3: Zoneamento da FLONA de Irati.
Fonte: Autores.
Para Lechner et al. (s/d), o foco central planejamento em Zona de Uso Público (ZUP) visava, no passado, oferecer atividades recreativas, como caminhadas, camping, passeios de barco e de caça em áreas naturais. Esta zona muitas vezes tinha importância secundária, com ênfase em atividades ao invés de servir como área de gestão de impactos, enriquecer a experiência dos visitantes como um potencial parceiro no processo de conservação.
Na atualidade, pode-se conceituar uso público como uma área destinada a atender a demanda de determinada UC, onde sanitários, trilhas, sinalização, programas autônomos ou personalizados de educação e interpretação ambiental são executados. A zona de uso público permite a interação entre o visitante e a área protegida, visando sobretudo, fornecer subsídios que contribuam com a sustentabilidade local.
No caso da unidade em estudo, esta zona é também constituída de áreas plantadas com pinus e araucária. Os critérios considerados para seu delineamento foram seu potencial de visitação e para conscientização ambiental, bem como a presença de infraestrutura de apoio a visitação. Ocupando uma área de aproximadamente 135,24 ha, está localizada na porção do extremo sudoeste da FLONA.
Compreende regiões da UC destinadas à implantação de estruturas de recepção e apoio ao visitante, devido ao fácil acesso, bem como trilhas e caminhos já tradicionalmente utilizados na unidade. Abrange área alterada onde as edificações foram construídas, trilha ao longo do rio das Antas que percorre área de plantio de pinus e de floresta ciliar e várzea, bem como trilha em plantio de araucárias.
Tendo como objetivo a sensibilização dos usuários para a conservação ambiental, mais especificamente para a conservação da biodiversidade e dos serviços prestados pela natureza, esta área pode contribuir com o incremento da qualidade de visitação da FLONA, e em segundo momento, ampliar a oferta turística de Irati e região.
A preocupação a respeito da Educação Ambiental no país teve início a partir da criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea), somente em 1984, com a posterior inclusão deste tema no texto da Constituição Federal de 1988 (Baptista, 2013).
Anos mais tarde, entre 1992 e 1997 discussões sobre a abordagem e os impactos gerados através da EA passaram a compor agendas de discussão em todo o Estado, oriundas principalmente do reflexo e da influência que a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) – a Eco 92 despertou nas esferas pública, privada e terceiro setor. O resultado deste panorama proporcionou a criação do Órgão Gestor da Política Nacional da EA, em conjunto com o Ministério da Educação e Ministério do Meio Ambiente, em 2003 (Carvalho, 2006).
De acordo com a Lei n° 9.795/99, que trata da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), considera-se EA:
os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (Brasil, 1999).
Desta forma, devido à abrangência e importância correlacionada à EA, verifica-se que sua atuação em conjunto com demais áreas do conhecimento, tais como a Ecologia, a Biologia, a Geografia, o Turismo, etc., poderá resultar na ampliação seus benefícios, uma vez que ao tratar este tópico de forma transversal, a absorção de seus conceitos e sua responsabilidade socioambiental será maximizada. Corroborando com esta consideração, Loureiro (2009, p. 53) afirma que “o educador ambiental, ao implementar processos interdisciplinares e ao trabalhar com temas geradores, não pode isolá-los da realidade complexa que os formam”.
Diante da compreensão e da ciência de que toda ação humana gera impacto, entende-se que a EA necessita ser colocada em prática seja por meios formais ou não-formais de capacitação por todas as pessoas que estão ou entrarão em contato com sítios, parques ou Unidades de Conservação, uma vez que estes espaços possuem fragilidades que podem sofrer diferentes níveis de degradação, oscilando entre às camadas mais leves até as irreparáveis (Baptista e Amaral, 2011).
Os reflexos mais facilmente identificáveis deste problema são esgotamento de matéria-prima não renovável, perda tanto da biodiversidade quanto da geodiversidade, introdução de espécies exógenas e retirada de elementos que compõem o local visitado (como sementes e frutos), entre outros.
Assim, os esforços administrativos para a promoção da Educação Ambiental em áreas de uso público merecem destaque, pois desta maneira, os programas de atividades em UCs passam a promover a construção de uma consciência ambiental aos visitantes, levando consigo os preceitos da sustentabilidade a ser aplicada no cotidiano e não somente enquanto estiverem em contato com áreas naturais protegidas.
A EA faz também parte dos objetivos do Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (PNAP), enquanto uma das estratégias contidas no eixo temático “Capacidade Institucional”, que visa estabelecer um ambiente político, institucional, administrativo e socioeconômico favorável para a implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) nas três esferas do governo, ao salientar que:
5.5. OBJETIVO GERAL: fortalecer a comunicação, a educação e a sensibilização pública para a participação e controle social sobre o SNUC.
I - OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
a) estabelecer e implementar a estratégia nacional de educação ambiental, formação e qualificação para participação e controle social sobre as unidades de conservação;
b) estabelecer e implementar a estratégia nacional de comunicação, divulgação e sensibilização sobre as unidades de conservação; e
c) implantar e fortalecer o Fórum Nacional de Áreas Protegidas;
II - ESTRATÉGIAS:
a) realizar intercâmbios e outras formas de integração entre as diferentes experiências no tema educação ambiental, sensibilização e controle social em unidades de conservação;
b) realizar campanhas de divulgação das experiências bem sucedidas sobre os temas educação ambiental, sensibilização e controle social em unidades de conservação (...) (BRASIL, 2006).
Percebe-se, portanto, que a Educação Ambiental tem ainda um grande apelo quanto à solidificação do papel e da importância em se criar áreas legalmente protegidas, que por vezes, sofre pré-conceitos da sociedade, especialmente quando há necessidade em desapropriar espaços com vistas à conservação, sobretudo ao fundamentar-se em tantos exemplos de “Parques de Papel”, referência dada às Unidades criadas, mas que não foram de fato implementadas, salvaguardadas apenas em teoria (Terborgh e Schaik, 2002).
A preocupação demonstrada através PNAP vêm em consonância com os preceitos estabelecidos SNUC (Brasil, 2000), onde a Educação Ambiental assume competências mesmo em classes de manejo que não prevêem atividades de visitação, caso das Unidades de Proteção Integral das categorias Estação Ecológica e Reserva Biológica.
Ainda que os critérios estabelecidos pelo PNAP e SNUC determinem maiores reflexões sobre a EA, até mesmo por seu recorte temporal relativamente recente, existem outras leis que dispõem sobre o tema, como o texto da Constituição Federal (Brasil, 2013) em seu artigo 225 onde aponta o direito de toda a humanidade ao meio ambiente saudável e preservado, incentivando assim programas que auxiliem na manutenção deste patrimônio; a Lei nº 10.257/2001 popularmente conhecida como Estatuto da Cidade, ao estabelecer a todos o Direito às Cidades Sustentáveis e, principalmente; o documento internacional sobre o desenvolvimento sustentável, a Agenda 21, que em seu capítulo 36 diversifica o tema como atividade que deve ser desenvolvida sob diversas formas, incluindo crianças, adolescentes e adultos (Senado Federal, 2001).
Contudo, atingir um público heterogêneo, que não se limita à classificação por faixa etária, deve-se procurar atingir os sentimentos dos visitantes, fazendo-os reconhecer emocionalmente o espaço que esteja em contato. Para tanto, Tilden (1977) estabelece que o coração das pessoas deve ser tocado, e que a partir deste princípio, o cuidado e o zelo com o ambiente adquire novas conotações no público. Em suma,
A EA é um verdadeiro desafio para todos os cidadãos. Ela deve, de certa maneira, possibilitar a realfabetização (sic) em relação ao meio ambiente e a tudo que o compõe. A situação atual exige um novo reaprender, principalmente no que se refere ao consumismo em relação à natureza (Matheus, 2007, p. 186).
Alguns autores defendem que determinadas fases sejam contempladas para que a Educação Ambiental atinja seus objetivos em relação ao desenvolvimento sustentável e turístico em UCs. De maneira geral, a sensibilização é apontada como característica comum (Baptista, 2013; Moreira, 2011; Neiman, 2008; Ventura, 2007), enquanto demais critérios como mobilização e aplicação prática apresentam-se sob diferentes termos. Neste sentido, apropria-se de Neiman (2008, p. 46) para compreender a relação afetiva entre o meio ambiente, ecoturistas e EA, ao salientar que,
Os participantes de atividades de ecoturismo em Unidades de Conservação devem ser levados a trabalhar a sensibilização, a emotividade e a intuição. As atividades não podem estar ligadas exclusivamente ao raciocínio, mas sim a aspectos emocionais. A educação, a percepção e o lúdico são utilizados para possibilitar a expansão de uma consciência conservacionista através, sempre, do envolvimento afetivo das pessoas com a natureza e as culturas locais, numa tentativa de apropriação desse novo território como sendo o seu (Neiman, 2008, p. 46).
Portanto, compreende-se que o Ecoturismo pode favorecer o contato, interação e conservação do ambiente natural, mesmo que este não esteja unicamente atrelado às áreas protegidas, que demandam maiores esforços para sua efetividade. Desta forma, com o intuito de contribuir na reflexão teórica / conceitual, bem como auxiliar na implantação de programas de uso público por parte do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) na Floresta Nacional de Irati, são propostas ações que visam enriquecer a experiência na visitação desta UC, detalhados no próximo tópico.
A partir de oito perguntas abertas, procurou-se compreender e caracterizar as atividades de EA atualmente disponíveis para Uso Público na Floresta Nacional de Irati. As respostas foram fornecidas pelos gestores da unidade.
Notou-se que a visitação espontânea é a única que não precisa de um agendamento prévio na FLONA de Irati, onde estes visitantes devem estacionar seus veículos próximo a portaria da UC e, a pé, podem se locomover nos limites da área de uso público sem necessitar dos serviços de um condutor, contudo, ficam restringidos à utilização de parte da estrutura disponível na área.
Outros três tipos de atividades que são disponibilizadas pela equipe gestora são a “Visitação Técnica”, a “Educação Ambiental” e a “Educação Ambiental Dirigida”, as quais necessitam de agendamento (telefone, e-mail e redes sociais).
Em relação à Visitação Técnica, destinada aos estudantes de colégios técnicos, universidades e grupos organizados, é executada sempre guiada e além das estruturas disponíveis na ZUP (Auditório, Ecomuseu e Torre de Observação de Incêndios) pode-se também utilizar estruturas ou visitar as áreas destinadas para manejo e pesquisa, de acordo com o objetivo específico da visita técnica. Sobre o programa Educação Ambiental é realizado com alunos de escolas da região, que exige o guiamento por áreas disponíveis na ZUP. Por fim, a Educação Ambiental Dirigida trata da visitação de pequenos grupos, em geral, compostos por adultos e guiados por funcionário da FLONA, tendo como objetivo específico de Educação Ambiental com ênfase na Floresta de Araucária.
Destacou-se que desde 2014 foi iniciado um novo sistema de controle dos visitantes que utilizam a FLONA para EA, visitas técnicas, lazer e descontração. Desde então foram registradas as entradas de 1.488 visitantes, em sua grande maioria, advindos do município de Irati – PR (63,1%). Os outros municípios paranaenses que também utilizaram a UC de forma significativa foram Imbituva (9,2%) e Fernandes Pinheiro (5,8%).
O perfil do público visitante da UC se constitui basicamente por alunos universitários, de cursos técnicos, de educação infantil, básica e ensino médio, pesquisadores, e pessoas que apreciam a natureza e gostam de lazer em ambiente natural, além de famílias que praticam visitação espontânea.
Questionado sobre as possibilidades de programação personalizada para cada perfil de visitante, os gestores explicam que sim e exemplificam que as informações repassadas e a condução se alteram no programa de EA, pois a FLONA recebe turmas de alunos com idades desde três anos até 17 anos, assim diferentes abordagens são dadas. Sobre as Visitas Técnicas, como se relaciona com alunos de vários cursos e objetivos específicos, o professor ou responsável pelo grupo discute o objetivo da visita, quais assuntos que gostaria que fossem abordados, locais e estruturas a serem visitadas e assim é montado um roteiro.
O tempo de visitação na Floresta Nacional de Irati é determinado pela atividade que se deseja praticar, tendo em média a Visitação Espontânea entre 1 a 2 horas, através das Trilhas disponíveis; a Visita Técnica, mais longa, entre 3 a 6 horas, onde é realizada uma apresentação sobre a Flona (Auditório), caminhada pela Trilha do Eucalipto Mal Assombrado (160 m) e das Araucárias (580 m), visita ao Centro de Visitantes (Ecomuseu), pausa para alimentação – almoço ou lanche, caminhada pela Trilha dos Angicos (2.000 m) e pela Trilha da Imbuia (400 m), observação pela Torre de Observação para Incêndios Florestais (35 m), com deslocamento feito por veículo da UC. A Educação Ambiental (2 a 3 horas), há palestra com apresentação de slides e vídeo (auditório), realizadas as trilhas do Eucalipto Mal Assombrado e das Araucárias, visita ao Centro de Visitantes, pausa para lanche e em seguida são realizadas atividades recreativas e dinâmicas de sensibilização no campo de futebol e parquinho; já para a Educação Ambiental Dirigida com duração de aproximadamente 4 horas, são repassadas informações gerais da FLONA no auditório, caminhada pelas trilhas dos Angicos e da Imbuia (400 m), visita na Torre de Observação de Incêndios Florestais e visita ao Centro de Visitantes. Estas atividades são resumidas através do Quadro 1.
Em relação aos conteúdos propostos aos visitantes, o gestor explica que esta inicia-se com o histórico e informações gerais da FLONA, as características da Floresta Ombrófila Mista, a Fauna e Flora presentes na UC além de tópicos gerais sobre meio ambiente. Em visitas técnicas, conforme o seu objetivo, ainda podem ser abordados assuntos como gestão da FLONA e de outras áreas naturais protegidas, pesquisas já desenvolvidas, atividades de uso público e plano de manejo.
Quadro 1: Caracterização de Atividades Desenvolvidas na Flona de Irati
CATEGORIA | DURAÇÃO | ATIVIDADES |
Visitação Espontânea | 1 a 2 horas | Caminhada em trilhas |
Visita Técnica | 3 a 6 horas | Apresentação sobre a Flona, Caminhada pelas trilhas: Eucalipto Mal Assombrado e Araucárias, Visita ao Centro de Visitantes (Ecomuseu), Caminhada pelas trilhas: dos Angicos e da Imbuia, observação pela Torre de Observação para Incêndios Florestais |
Educação Ambiental | 2 a 3 horas | Apresentação sobre a Flona, Caminhada pelas trilhas: do Eucalipto Mal Assombrado e das Araucárias, Visita ao Centro de Visitantes, Atividades recreativas e dinâmicas de sensibilização |
Educação Ambiental Dirigida | Até 4 horas | Apresentação de informações gerais da Flona, Caminhada pelas trilhas: dos Angicos e da Imbuia, Visita na Torre de Observação de Incêndios Florestais e visita ao Centro de Visitantes |
Fonte: Os autores.
Por fim, o gestor apontou que há interesse em implementar novos roteiros e atividades a serem desenvolvidas junto à crescente demanda que a UC vem recebendo, sobretudo para ampliar o interesse e disseminar a importância da criação da mesma.
Frente à demanda por áreas naturais devido aos interesses de lazer, científico e educação ambiental, juntamente com os objetivos inerente às unidades de conservação em prol da preservação/conservação dos recursos naturais, fica explicita a necessidade de planejamento de atividades complementares atreladas a formação humana em busca de uma vivencia ecológica decisiva para o amadurecimento do conhecimento/conscientização ecológica.
Desta feita, verificaram-se os esforços da FLONA de Irati em atender tal necessidade. Por meio desta caracterização evidenciou-se o empenho da unidade e valorização dada pelos gestores da unidade para atividades com a referida conotação.
Além disso, pode-se perceber a abertura e a predisposição para novas propostas de educação ambiental e a elaboração de um programa de educação ambiental, identificando o perfil dos diferentes visitantes (reais e potenciais) e apresentando materiais e roteiros específicos de cada tipologia de visitante.
Além do estabelecimento de um material complementar às visitas expondo por meio de texto e imagens as especificidades da unidade, sugere-se também a compilação de mapas temáticos, auxiliando as atividades de educação ambiental.
Neste contexto, pode-se perceber que a predisposição dos gestores da unidade as atividades de educação ambiental, aliada aos seus recursos naturais e a iniciativas otimizando as atividades já ocorrentes tendem contribuir tanto para o fortalecimento da atividade na unidade, quanto para a satisfação dos visitantes.
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1. , Universidade Estadual do Centro Oeste, UNICENTRO – ronaldomaganhotto@gmail.com
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