Espacios. Vol. 37 (Nº 27) Año 2016. Pág. 19
Fernando Ventura de OLIVEIRA 1; Fernando Luiz FREITAS FILHO 2; Edgar Augusto LANZER 3
Recibido: 15/05/16 • Aprobado: 30/05/2016
3. Procedimentos metodológicos
RESUMO: Este trabalho tem como tema os espaços colaborativos. Habitualmente chamados de “coworking spaces” estes ambientes buscam promover a interação, a colaboração e a reunião de empreendedores, startups, grandes empresas, estudantes e demais parceiros. O principal objetivo do artigo é apresentar o CUBO, um conceito que vai além do modelo tradicional de coworking que surgiu para preencher algumas lacunas. A coleta de dados se deu por meio de análise documental e entrevistas. Concluiu-se que os espaços de coworking, especialmente o CUBO, podem contribuir para o empreendedorismo porque possibilitam conexões entre os interessados e promovem um ambiente adequado para geração de valor e inovação. |
ABSTRACT: This paper has as its theme the collaborative spaces. Normally called “coworking spaces”, these places aim to promote interaction, meeting and collaboration of entrepreneurs, startups, large companies, students and other partners. The main aim of this paper is to present CUBO, a new concept of coworking that was built to fill some gaps. Data were collected through documents and interviews. As a result, it was demonstrated that the coworking spaces, especially CUBO, can contribute to entrepreneurship, considering that it allows connections between stakeholders and promote a suitable environment for innovation and value creation. |
A globalização, desde o início do século 21, vem transformando o ambiente empresarial numa atmosfera em que o conhecimento é o principal ativo que uma pessoa, e consequentemente a empresa, deve possuir. Neste contexto, o valor de uma empresa não é medido apenas pelo seu ativo imobilizado ou pela capacidade de geração de lucro, mas também pela competência na criação de conhecimento e inovação. Assim, em tempos conturbados de desaceleração econômica, a manutenção de uma vantagem competitiva baseia-se principalmente na diferenciação e esta é atingida por meio da valorização dos indivíduos e suas ideias, bem como em todos os aspectos que possam influenciar na capacidade criativa.
No que tange especificamente aos empreendedores, em que a rede de conexões, ou networking, e a habilidade de criação, são essenciais, observa-se que um dos fatores que influenciam diretamente no sucesso do negócio é o ambiente de trabalho. Por isso, este deve ser inspirador, colaborativo e agradável. É neste contexto que surgem os espaços de coworking (Coworking Brasil, 2015).
Espaços de coworking são locais de trabalho utilizados por diferentes tipos de profissionais do conhecimento, que trabalham em vários graus de especialização no vasto domínio da indústria do conhecimento compartilhado (Gandini, 2015).
Coworking é uma nova forma de pensar o ambiente de trabalho. Seguindo as tendências de economia colaborativa, empreendedores e startups, os espaços de coworking podem reunir diversas pessoas a fim de trabalhar em um ambiente inspirador. Essa união de pessoas permite que mais e mais escritórios se espalhem pelo país. No Brasil há 238 espaços ativos, conforme o censo do ano de 2015 (Coworking Brasil, 2015). No mundo, conforme pesquisa realizada pela revista Deskmag, intitulada “Global Coworking Survey”, estima-se que até o final de 2016 existirão mais de 10.000 espaços em funcionamento, com cerca de 775.000 membros (Foertsch, 2016).
Um destes espaços criados recentemente no Brasil chama-se CUBO, definido como o centro de gravidade do empreendedorismo no país, um espaço inspirador para eventos e uma grande rede de transformadores. O CUBO fica localizado na cidade de São Paulo e nasceu com uma sólida rede de parceiros, entre eles o banco Itaú Unibanco, Ambev, Cisco e Accenture.
Os objetivos do presente artigo são; explicar como os espaços de coworking podem colaborar para o desenvolvimento do empreendedorismo e; apresentar o CUBO como um conceito diferenciado de espaço de coworking no Brasil.
O artigo está fundamentado inicialmente em uma pesquisa bibliográfica, que foi elaborada com determinados critérios de pesquisa em importantes bases de dados. Isso se fez necessário para que se confirmasse o ineditismo e a originalidade da proposta de trabalho.
Na etapa de revisão de literatura são expostos diversos conceitos e fundamentos necessários para a definição do sistema conceitual da pesquisa.
Em seguida é apresentada a metodologia utilizada no trabalho, que engloba os procedimentos operacionais de pesquisa, como a coleta de dados primários e secundários, feitos por meio de entrevistas e pesquisa documental. Em seguida apresenta-se o enquadramento metodológico no contexto da pesquisa acadêmica.
A justificativa deste trabalho está na importância do desenvolvimento e do incentivo ao empreendedorismo para a manutenção da competitividade, criação de valor e inovação.
Na etapa de análise dos dados coletados, são apresentados os resultados das entrevistas e das pesquisas documentais, em que se estabelece uma forte relação entre os espaços de coworking e o empreendedorismo e descreve-se o CUBO como um espaço singularizado. Por fim, conclui-se o trabalho com algumas considerações finais sobre o assunto.
A primeira etapa da revisão de literatura consistiu em um levantamento bibliográfico para identificação das publicações relacionadas diretamente ao tema. Esta pesquisa restringiu-se apenas a trabalhos científicos e as bases de dados utilizadas foram: ScienceDirect, Scielo e Google Acadêmico. Foram buscadas as palavras coworking, empreendedorismo e economia colaborativa, bem como termos correlatos. A revisão foi realizada nos meses de janeiro a maio de 2016.
A literatura brasileira carece de publicações científicas sobre o tema, porém, foram encontradas dissertações de mestrado, e alguns artigos publicados em periódicos e anais de congressos.
Campos et al. (2015) utilizou-se de um estudo exploratório e bibliográfico no propósito de identificar e apresentar conceitos, tipologias e características dos espaços de coworking no contexto da sociedade do conhecimento, sugerindo algumas classificações dos diversos modelos, já que estes carecem de descrição técnico-científica.
Soares e Saltorato (2015) elaboraram um estudo exploratório de três casos de espaços de coworking na cidade de São Paulo, com o objetivo de explorar como este novo e alternativo sistema de trabalho vem sendo praticado em uma metrópole brasileira. Contudo, estes autores identificam alguns obstáculos para a expansão do modelo, como o desafio da manutenção dos relacionamentos conquistados e o entendimento da sociedade de que esse conceito de organização de trabalho pode ser produtivo, assim como as organizações tradicionais.
Na literatura internacional, Surman (2013) exemplificou o caso do Centre of Social Innovation (CSI), um espaço de coworking, com atuação no Canadá e nos Estados Unidos, que dá suporte a mais de 1.500 pessoas, disponibilizando espaço físico e ferramentas para que tenham sucesso mais rapidamente. Uma grande vantagem citada neste trabalho é que esses espaços promovem economias de escala que são importantes para empreendedores quando iniciam seus negócios.
Já Lumley (2014) descreveu um projeto de coworking desde a criação até o acompanhamento. O projeto foi concebido dentro da biblioteca de uma universidade para incentivar corpo docente, estudantes e empresários a trabalharem de forma colaborativa.
Muhrbeck, Waller e Berglund (2011) estudaram o tema a fim de avaliar como o coworking tem efeito sobre a criatividade dos profissionais. Os autores concluíram que há forte impacto, porém, diretamente influenciado pela mistura de profissionais de diferentes áreas que integram os espaços, promovendo uma rede de conhecimento compartilhado capaz de simplificar a criação de novas ideias.
Em uma análise consistente, Gandini (2015) elaborou uma análise crítica do surgimento do coworking como elemento sinérgico no desenvolvimento de habilidades. Levantou a discussão sobre a dúvida se há um empoderamento pelos trabalhadores urbanos ou apenas um entusiasmo ilusório que reproduz desigualdades e deficiências, semelhantes àquelas quando da ascensão das aulas e cidades criativas. Concluindo que os espaços de coworking podem ser benéficos à economia, já que não só representam um novo estilo de vida, mas também agem como intermediários para geração de valor, promovendo interação entre agentes econômicos que possuem objetivo comum (Gandini, 2015).
Apesar de ser um tema novo e consequentemente de haver carência de publicações científicas, foram identificadas, por outro lado, organizações nacionais e internacionais ligadas diretamente ao assunto que elaboram estudos específicos do setor. No Brasil há o caso do site coworkingbrasil.com.br, que publica anualmente um censo com o detalhamento dos projetos e espaços de coworking no Brasil. Internacionalmente há o portal wiki.coworking.org, em que coworkers, donos de espaços, ou entusiastas, podem buscar e trocar informações diversas sobre o assunto. Há também a revista online deskmag, que recorrentemente publica o “Global Coworking Survey”.
Existem diferentes definições sobre o conceito de empreendedorismo, não existindo um consenso entre autores que tratam do tema.
O termo empreendedor é um neologismo que foi incorporado à Língua Portuguesa no século XV e vem sendo largamente utilizado no país nas últimas décadas. A expressão é derivada do latim “imprehendere”, tendo seu correspondente empreender na língua portuguesa (David, 2004). O dicionário Michaelis (Edição online, Melhoramentos, 2009), define empreender como: resolver-se a praticar algo laborioso e difícil.
Um dos primeiros autores a explicar o significado de empreendedorismo foi Adam Smith, em 1937, definindo a figura do empreendedor como um proprietário capitalista, um fornecedor de capital e, ao mesmo tempo, um administrador que se interpõe entre o trabalhador e o consumidor (David, 2004).
Acs (2006) apresenta duas definições de empreendedorismo. A primeira está relacionada a ter e gerir um negócio, que é a definição ocupacional de empreendedorismo. Dentro deste conceito, numa perspectiva dinâmica centra-se a criação de novos negócios, enquanto do ponto de vista estático refere-se aos proprietários de empresas. Em segundo lugar, está relacionada a noção de comportamento empreendedor. Empreendedorismo no sentido comportamental não necessariamente significa ter um negócio, mas obter uma ideia. Portanto, no cruzamento dessas duas definições tem surgido um novo foco, que considera a criação de novas empresas (ACS, 2006).
Schumpeter (2003) abordou o tema de empreendedorismo diretamente ligado ao crescimento econômico já em 1942, estabelecendo os conceitos de destruição criadora e de empresário empreendedor, nesse contexto, diferenciando os conceitos de empresário e empreendedor. O empreendedor é quem introduz novos produtos e serviços, destruindo a ordem econômica existente. Essa definição promove a ligação direta entre empreendedorismo e inovação, proposta pelo autor.
Além destas definições, a figura do empreendedor pode ser descrita como alguém com recursos escassos que se especializa na tomada de decisões (Acs, 2006).
Dornelas (2008) explica que o movimento do empreendedorismo no Brasil surgiu no início da década de 1990, com a criação de entidades como o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e a SOFTEX (Sociedade Brasileira para exportação de Software).
O termo começou a ser usado no Brasil em uma época em que era muito difícil abrir e manter um negócio. O ambiente político e econômico do país não favorecia este tipo de empreitada. Desde então, a discussão em torno do tema vem crescendo.
O aumento da competitividade, oriundo da crescente globalização, levou as empresas a buscarem novas tecnologias e alternativas para se manterem no mercado. Dornelas (2008) ressalta que por conta destes movimentos, uma das consequências mais visíveis foi o desemprego, que obrigou os ex-funcionários a buscarem alternativas, criando assim novos negócios.
Seja por necessidade ou por oportunidade, muitos novos empreendimentos vêm sendo criados no Brasil nos últimos anos. O grande desafio está na continuidade desses negócios. É o que mostra uma pesquisa feita pelo SEBRAE-SP. São três as principais causas que influenciam na mortalidade das empresas nos cinco primeiros anos de vida: planejamento prévio, gestão empresarial e comportamento empreendedor. Já as principais insatisfações em se abrir um negócio estão relacionadas à falta de lucro, à falta de apoio especializado e à alta carga de impostos (Sebrae-SP, 2014).
Em complemento, conforme descrito pela Endeavor (2013), nos dias de hoje, é notável a aspiração dos brasileiros pelo empreendedorismo: 76% da população economicamente ativa prefere ter um negócio a ser empregado, é a segunda maior taxa do mundo, atrás apenas da Turquia. 88% da população brasileira acreditam que os empreendedores são geradores de empregos e 74% diz que o empreendedorismo é a base para criação de riqueza.
Um conceito que vem contribuindo para a popularização dos espaços de coworking é o da economia colaborativa. Apesar de ainda ser pouco explorada em publicações científicas, a expressão, que pode ainda ser encontrada como consumo colaborativo, produção colaborativa ou peer-to-peer, está ganhando notoriedade em revistas e jornais de grande circulação (Você S/A, 2015; Time, 2015).
A economia colaborativa é empregada no dia a dia das pessoas em práticas bastante conhecidas, como pedir caronas, pegar algo emprestado com o vizinho, hospedar amigos, usar bibliotecas e transporte coletivo e também dividir o espaço de trabalho com um colega.
Enquanto no mercado tradicional o dinheiro é utilizado para se obter a posse de algum produto, na economia compartilhada são apresentados os benefícios e a criação de valor de se utilizar temporariamente bens ou serviços (Daunorienė, 2015).
Conforme descrito por Allen e Berg (2014), a economia colaborativa é um termo amplo para um conjunto de modelos de negócios, plataformas e trocas. Trata-se de compartilhamento de conhecimento, de produtos e serviços para se extrair o melhor deles. Essas trocas são aproveitadas pelo conhecimento onipresente e com custo baixo disponibilizado por meio da tecnologia disruptiva. A economia colaborativa descreve um crescimento de novos modelos de negócios que desarraigam mercados tradicionais, quebram paradigmas da indústria e maximizam o uso de recursos escassos. Em se tratando de serviços, os mais conhecidos hoje são o Uber (transporte de passageiros) e o serviço Airbnb (hospedagem) (Allen e Berg, 2014).
Portanto, a economia colaborativa tem o potencial de revolucionar o mercado e a maneira com que as pessoas compram e vendem produtos e serviços.
Espaços de coworking são ambientes onde a economia colaborativa é observada, ou seja, são locais frequentados por profissionais de diferentes áreas que trabalham em vários graus de especialização num ambiente de conhecimento compartilhado (Gandini, 2015). O que os diferencia dos escritórios comuns é que o foco é uma comunidade e a partilha de conhecimentos. Trata-se de uma reflexão sobre o futuro dos ambientes de trabalho. São organizações e profissionais diferentes partilhando dos mesmos valores; comunidade, abertura e independência (Doulamis, 2013; Spinuzzi, 2012).
Gandini (2015) relata que o coworking contemporâneo surgiu em 2005, em São Francisco, Califórnia - EUA. Trouxe uma terceira via de trabalho, sendo um modelo intermediário entre o trabalho tradicional, delimitado em uma comunidade homogênea, e uma vida profissional independente, como freelancer, que possui uma caracterísitca de liberdade e independência, onde o trabalho é baseado em casa, no isolamento.
A proliferação dos espaços de coworking tem sido uma resposta a crescente comunidade de freelancers, profissionais de tecnologia e empreendedores. Cafés cheios de pessoas, porões e garagens não são ambientes ideais para se trabalhar. Nesse contexto, essas comunidades foram a procura de locais onde pudessem ser produtivos, conhecer outros indivíduos semelhantes, ter reuniões com clientes e tudo isso com preços acessíveis e sem contratos de longo prazo (Doulamis, 2013).
Coworking.com explica que a ideia é simples: profissionais independentes e aqueles com flexibilidade no local de trabalho, trabalham melhor junto com outras pessoas do que sozinho. Os participantes concordam em defender os valores e regras estabelecidos pelos proprietários dos espaços e em interagir e compartilhar conhecimento com as outras pessoas. Portanto, “é uma comunidade de pessoas dedicadas aos valores de colaboração, abertura, comunidade, acessibilidade e sustentabilidade no local de trabalho.”.
Já o brasileiro Coworkingbrasil.org define coworking como sendo uma forma de pensar o ambiente de trabalho. Seguindo as tendências do freelancing e das start-ups, os coworkings reúnem diariamente milhares de pessoas a fim de trabalhar em um ambiente inspirador.
De acordo com coworkingbrasil.org no Brasil, há 238 espaços ativos. Todos os 26 estados e também o Distrito Federal contam com pelo menos um espaço de coworking.
No ano de 2015 o estado de São Paulo possuía 95 espaços conhecidos, seguido por Minas Gerais com 23 e Rio de Janeiro e Paraná com 20 espaços cada. Ao todo são mais de 6500 posições de trabalho, mais de 200 salas de reuniões, 122 salas privativas. 33 espaços funcionam 24 horas por dia, cerca de 8% do total.
A heterogeneidade é comprovada no fato de que dos 238 espaços de coworking brasileiros, 105 declaram não atuarem em áreas específicas. As principais áreas do conhecimento identificadas são: negócios sociais, design, startups, educação, moda, empreendedorismo, advocacia, arquitetura, entre outros.
O objeto de trabalho é o espaço de coworking chamado CUBO, que fica localizado n a cidade São Paulo e que foi inaugurado em 2015. Como procedimentos operacionais de pesquisa, foram utilizadas as técnicas de coleta de dados primários e secundários. Para a coleta de dados primários utilizou-se a metodologia de entrevistas não estruturadas, ou seja, utilizou-se apenas de um roteiro base. As entrevistas foram realizadas em 11/03/2016 e 18/03/2016. A primeira feita por telefone com o coordenador de inovação do Banco Itaú e responsável pela concepção do projeto CUBO. A segunda, feita também por telefone, conduzida com o diretor geral do CUBO desde sua fundação. Já os dados secundários foram coletados por meio de pesquisa documental, em relatórios e arquivos da instituição.
Este trabalho enquadra-se metodologicamente como um estudo qualitativo, pois, identifica, analisa e interpreta fenômenos relativos ao empreendedorismo no Brasil e como os espaços de coworking contribuem para a evolução deste fenômeno. Para Merrian (1998), a preocupação central da pesquisa qualitativa é o entendimento do empírico a partir da perspectiva dos participantes. A estrutura é flexível e emergente conforme as condições do estudo desenvolvido e a seleção amostral é proposital e pequena.
Caracteriza-se ainda como pesquisa exploratória, que segundo Mattar (1997), se faz útil, pois normalmente para um mesmo fato poderá haver inúmeras explicações alternativas, e sua utilização permitirá ao pesquisador tomar conhecimento, senão de todas as explicações, da maioria delas, no caso do ambiente de coworking.
Este artigo é construído com base em dados de um estudo de caso específico. Godoy (1995), explica que o estudo de caso é um tipo de pesquisa referida a um objeto que se analisa profundamente, através de um exame detalhado de uma situação na qual o pesquisador se insere para observar o seu contexto.
O CUBO é uma instituição sem fins lucrativos, inaugurada em setembro de 2015, no bairro Vila Olímpia, em São Paulo. Possui mais de 5.000 m2 de área e comporta cerca de 250 residentes e até 50 startups. São três andares destinados a espaços de coworking, um andar para workshops e treinamentos, um anfiteatro com capacidade para 130 pessoas e um terraço com lounge para interação e eventos (hoje são feitos de 5 a 6 eventos por dia), além de cafeteria e salas de reunião. Na Figura 1 é apresentada a divisão do espaço.
O projeto foi concebido pelo Itaú Unibanco, um dos maiores bancos do mundo em valor de mercado e considerado um dos mais inovadores, em parceria com a Redpoint e.ventures, um fundo de capital empreendedor oriundo de uma joint venture entre os fundos americanos Redpoint Ventures e e.ventures.
O Itaú Unibanco atua como mantenedor e principal provedor de recursos para a associação. A relação entre banco e CUBO está pautada em três questões; posicionamento de marca, em que o banco tem como objetivo consolidar sua marca num contexto de banco digital e tecnológico; cultura, no sentido de promover um ambiente de trabalho adaptado as novas gerações; e inovação, em que o projeto funciona como um laboratório, onde se pode desenvolver e testar produtos e serviços bancários destinados a startups e empreendedores atuais e das gerações que estão por vir.
O CUBO, apesar de ter sido concebido dentro do Itaú Unibanco, é uma entidade associativa, sem fins lucrativos, independente e que possui governança própria.
A Redpoint e.ventures tem o papel de trazer capital, estabelecer conexões com o Vale do Silício, onde o ecossistema empreendedor já está bastante desenvolvido, e com as melhores práticas globais para startups de alto potencial.
Portanto, o Itaú Unibanco e a Redpoint e.ventures utilizaram suas redes de relacionamento para alavancar os negócios das startups que estiverem no CUBO, gerando valor aos negócios e criando novas oportunidades.
Figura 1: espaço CUBO
Fonte: https://cubo.network/
Apesar de ter a expressão “coworking” no nome, conforme explicam os entrevistados, o CUBO não é apenas um espaço colaborativo. A ideia inovadora foi inspirada no Campus London, um espaço para empreendedores criado pela Google na cidade de Londres. Além da oferta de espaços de coworking em contexto de economia colaborativa, os residentes contam com o apoio de mentores especializados nos mais diversos temas, plataforma de eventos com diversas atividades (workshops, palestras, hackathons, etc) e a oportunidade de estar presente em uma rede global de conexões entre os diversos agentes do ecossistema empreendedor; empreendedores, empresas de tecnologia, investidores, estudantes, universidades, entidades do setor, entre outros.
Segundo os entrevistados o principal objetivo do CUBO é facilitar e preencher a lacuna de densidade existente no Brasil, ou seja, possibilitar a reunião em um só lugar de empreendedores, investidores, mentores, estudantes, universidades, grandes empresas e qualquer pessoa que se interesse pelo tema de empreendedorismo. Lucas Mendes explica que o CUBO funciona com um hub inovação e empreendedorismo. A palavra “hub”, na linguagem tecnológica, se refere a uma peça central que recebe os sinais transmitidos pelas estações e os retransmite para as demais. Ou seja, é um local de encontro e interação de pessoas para criar e empreender.
Segundo os entrevistados, outro grande diferencial que é apresentado no CUBO, e que estava bastante distante da realidade brasileira, é a possibilidade de aproximação entre grandes empresas e empreendedores. Para eles, as empresas precisam quebrar o paradigma de que inovação é só feita dentro dos departamentos de Pesquisa & Desenvolvimento. O CUBO pode ser um local ideal para se buscar um novo produto ou serviço adequado ao negócio destas grandes empresas.
Até hoje foram entrevistados mais de 550 empreendedores interessados em fazer parte do CUBO. As startups foram selecionadas por meio de indicação de empresas e pessoas especializadas. Os pré-requisitos para ingressar no projeto são: que a empresa seja de base tecnológica, já ofereça algum produto ou serviço e que seus participantes promovam o conceito de economia colaborativa em suas ações. O processo de seleção é conduzido pelo diretor geral do projeto, que é responsável principalmente por analisar se o perfil do empreendedor está adequado aos objetivos da associação, e pela Redpoint e.ventures, que está encarregada de analisar os planos de negócio e identificar as startups mais promissoras.
No Quadro 1 estão as 48 empresas que atualmente integram o projeto.
Quadro 1: empresas participantes
Startup |
Atuação |
Site |
ABStartups |
Community Builder |
|
Agilize |
Fintech |
|
Amigos da Poli |
Community Builder |
|
Appus |
Big Data |
|
Beenoculus |
Educação |
|
Bloochef |
Economia compartilhada |
|
Blue Whale |
Investidor |
|
Carreira Beauty |
SaaS |
|
ChatLocal |
SaaS |
|
Colaboradores |
SaaS |
|
Controly |
Fintech |
|
Descomplica |
Educação |
|
Dito |
Marketing |
|
EduCareer |
Educação |
|
Elefante Verde |
SaaS |
|
Fhinck |
Inteligência Artificial |
|
FieldLink |
SaaS |
|
FullFace |
Big Data |
|
Getup Cloud |
Computação em Nuvem |
|
Guiando Telecom |
SaaS |
|
Harvard Business Angels Assoc. |
Community Builder |
|
Hekima |
Big Data |
|
Hora do Salão |
SaaS |
|
Innovators |
Community Builder |
|
Joycar |
Economia compartilhada |
|
Kitado |
Fintech |
|
LifeLike |
Marketing |
|
Linte |
SaaS |
|
Looqbox |
Big Data |
|
Mapytics |
SaaS |
|
Nabeliu |
Computação em Nuvem |
|
Pandora Lab |
Hardware |
|
Plug |
Economia compartilhada |
|
Ponte 21 |
Educação |
|
Prosas |
SaaS |
|
Qulture.Rocks |
SaaS |
|
RankMyApp |
Mobile |
|
RedeAlumni |
Educação |
|
Resultados Digitais |
Marketing |
|
Sambatech |
Marketing |
|
Startup Farm |
Community Builder |
|
Sterna Café |
Alimentação |
|
Sympla |
SaaS |
|
Takenet |
Mobile |
|
Vérios Investimentos |
Fintech |
|
Volto Sempre |
SaaS |
|
Wairon |
Economia compartilhada |
|
Zup |
Computação em Nuvem |
Fonte: Adaptado de https://cubo.network
Pode-se observar que existem empresas de diversos ramos de atuação, como; educação, marketing, economia compartilhada, hardware, computação em nuvem, SaaS (software como serviço), fintech (tecnologia financeira), entre outros.
Contudo, a missão do projeto é de inspirar, educar e conectar pessoas brilhantes para fomentar o empreendedorismo digital e transformar o Brasil.
O empreendedorismo e a inovação são temas cada vez mais presentes na realidade brasileira. A competitividade das empresas brasileiras está diretamente relacionada a estes temas. Uma forma de fomentar o empreendedorismo e a inovação no Brasil é por meio de espaços de coworking.
Na primeira etapa do artigo foi feita a revisão da literatura relacionada ao tema. Nesta fase, pôde-se perceber que existem diversos espaços espalhados pelo Brasil, porém atuam de forma regionalizada e não possuem uma rede de parcerias forte.
Assim, diante da carência de espaços colaborativos capazes de desenvolver o ecossistema empreendedor no Brasil, este artigo teve como objetivo apresentar o CUBO, um local que possibilita a reunião de startups, empreendedores, investidores, estudantes, universidades, empresas grandes e todas as pessoas interessadas no ambiente de inovação e empreendedorismo.
Nesse sentido pôde-se observar que o objetivo do artigo foi atingido, já que ao apresentar o CUBO foram identificados pontos relevantes no processo de desenvolvimento ao empreendedorismo no Brasil, como a criação de valor, inovação, colaboração, apoio a novos negócios com auxílio de especialistas e um local que possibilita condições das startups se desenvolverem.
Conclui-se que o CUBO pode fomentar o empreendedorismo no Brasil porque é um projeto inovador no país, já que possui experiência de sucesso em outros países, e possibilita a reunião em um só lugar de pessoas interessadas no ecossistema empreendedor e de inovação.
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1. Mestrando em Engenharia de Produção na UNISOCIESC. Graduado em Administração pela UFSC. E-mail: nandoventura86@hotmail.com
2. Doutorando em Engenharia e Gestão do Conhecimento na UFSC. Professor do programa de Mestrado em Engenharia de Produção da UNISOCIESC. E-mail: fernando.freitas@sociesc.org.br
3. Ph.D. em Economia Agrícola pela Universidade da Califórnia. Professor do programa de Mestrado em Engenharia de Produção da UNISOCIESC. E-mail: edgar.lanzer@sociesc.org.br