Espacios. Vol. 37 (Nº 16) Año 2016. Pág. 23
Joana COLUSSI 1; Claudete Rejane WEISS 2; Ângela Rozane Leal de SOUZA 3; Letícia de OLIVEIRA 4
Recibido: 29/03/16 • Aprobado: 30/04/2016
2. Teoria da produção e de custos
3. A importância da soja na agricultura Riograndense e brasileira
4. Procedimentos metodológicos
RESUMO: A soja representa a principal commodity agrícola brasileira, sendo a cultura que mais cresceu nas últimas três décadas. O Rio Grande do Sul representa o terceiro maior estado produtor com 15,4% do volume total produzido. O objetivo desta pesquisa foi analisar os custos de produção e resultados da cultura da soja neste Estado de 2005 a 2014. Os resultados evidenciaram que os preços médios da soja aumentaram a partir de 2012, melhorando a rentabilidade das lavouras. Conclui-se que, apesar da cultura ser influenciada por cotações externas, a margem de lucro é cada vez mais dependente dos ganhos de produtividade e de ferramentas de controle dos custos e receitas. |
ABSTRACT: Soy is the main Brazilian commodity and the culture that has mostly grown over the past three decades. Corresponding to 15,4% of the production volume, Rio Grande do Sul is the third largest producing state in Brazil. This study aimed to analyze soybean production costs and results in this state from 2005 to 2014. Survey results show that average soybean prices have risen significantly from 2012, which improved the profitability of that year's crops. The article concludes that although the crops are influenced by international prices, profitability margins are increasingly dependent on productivity gains and, cost and revenue control tools. |
A crescente demanda mundial por alimentos mantém a soja como umas das principais fontes de proteína vegetal. Componente essencial na fabricação de rações animais e de importância cada vez maior na alimentação humana, a oleaginosa é a cultura agrícola que mais cresceu no Brasil nas últimas três décadas, chegando a 49% da área plantada com grãos no país (BRASIL, 2014). O Brasil é um dos grandes produtores mundiais do grão, com disponibilidade de diversas tecnologias de produção que permitem o aumento da produtividade.
Conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento do Brasil (CONAB), a safra de soja no país, no ciclo 2014/2015, chegou a 96,2 milhões de toneladas, com a produção liderada pelos estados de Mato Grosso (29,3% da produção); Paraná (18%); Rio Grande do Sul (15,4%); Goiás (9,2%); Mato Grosso do Sul (7,4%) e Bahia (4,5%) (CONAB, 2015a, CONAB, 2015b).
A modernização da agricultura brasileira trouxe consequências sobre o processo produtivo, entre as quais a necessidade de maximizar o uso dos fatores de produção, ou seja, a eficiência produtiva, obtendo maiores níveis de produtividade e rentabilidade. Nesse sentido, a administração rural representa uma alternativa ao identificar os principais obstáculos, dentro dos sistemas produtivos, coletando informações que possam gerar intervenções a fim de aumentar sua eficiência (VIANA; SILVEIRA, 2008).
Paralelamente a esses fatos, ocorreram mudanças altamente significativas de natureza estrutural, tecnológica e mercadológica, vinculada à produção mundial e brasileira. Além disso, percebe-se que, ao longo do tempo, os preços dos insumos apresentaram grande volatilidade (HIRAKURI e LAZZAROTTO, 2010).
Neste contexto, o controle, por meio de ferramentas que consigam mensurar custos e receitas, é essencial para visualizar a rentabilidade do setor. Assim, o produtor deve estar ciente dos custos de produção e da rentabilidade que obteve com a atividade produtiva.
Salienta-se que o Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado a cultivar a soja no Brasil, tornando-se uma das principais atividades agrícolas brasileira. A abertura comercial, na década de 1990, ampliou a demanda mundial pelo grão e, ao mesmo tempo, gerou concorrência no mercado internacional. Dessa forma, o custo da produção agrícola tornou-se parte essencial para a gestão dos empreendimentos rurais. Nesse cenário, questiona-se a importância das análises de custos de produção da soja frente às variações nos preços e produtividade da cultura.
A partir desse cenário, o presente trabalho tem por objetivo analisar a evolução dos custos de produção e dos preços da soja e seu impacto na rentabilidade dessa cultura no Rio Grande do Sul, no período de 2005 a 2014.
A teoria da produção envolve os conceitos de produção e produtividade. Em conjunto com as teorias dos custos e dos rendimentos, estas possibilitam às firmas determinarem os volumes ideais a serem produzidos. Essa primeira teoria parte do princípio central da economia de que os recursos produtivos são limitados ou escassos e devem ser alocados de forma eficiente. Na teoria da produção, a maneira como a empresa transforma seus insumos (fatores de produção), utilizando-se um determinado padrão tecnológico, em produtos finais, é denominada função de produção. Esta função de produção depende dos seguintes recursos produtivos: terra, capital, mão de obra, capacidade empresarial e tecnologia. Esses recursos são utilizados para produzir mercadorias ou bens que recebem remunerações, tais como: aluguel, salários, lucro e royalties (VASCONCELOS, 2004).
Inseridos nesse enfoque, Smith e Mason (1996) destacam a importância das teoria de custos, que envolvem o controle dos recursos financeiros aplicados numa atividade, ao longo do tempo, vinculados a um conjunto de fatores de produção.
Sob essa abordagem, é fato que nos empreendimentos agrícolas há cada vez mais a necessidade de controlar os custos e analisar a rentabilidade do negócio. Tanto no curto como no longo prazo, é importante a análise econômica simplificada dos custos, ou seja, é essencial verificar como os recursos empregados em um processo de produção estão sendo remunerados e como a rentabilidade pode ser comparada a alternativas de emprego do tempo e do capital (REIS, 2007).
É fato que, no caso de commodities como a soja, os custos médios de produção variam de um país para o outro. Cita-se o estudo de Flaskerud (2003), evidencia que a produção e os rendimentos têm crescido rapidamente no Mato Grosso (Centro-Oeste do Brasil). Neste estado, para safra de 2003, os custos dessa cultura foram consideravelmente menores se comparados com a região da Dacota do Norte e Iowa (ambos localizados no Meio-Oeste dos Estados Unidos), mesmo considerando os custos de transporte. Segundo este estudo, os custos das sementes, químicos e os arrendamentos das terras apresentaram-se maiores nos Estados Unidos, fato que pode propiciar vantagem ao Brasil no mercado internacional.
Com intuito semelhante, Plastina (2015) analisou os custos de produção em Iowa, no período entre 2006 e 2015. Os resultados desse estudo também evidenciaram que os custos das sementes e químicos, seguidos da terra, máquinas e trabalho eram expressivamente elevados nesse país. A pesquisa mostra que, no período estudado, os custos de produção aumentaram em torno de 173,32%. Considerando o custo total de produção por bushel, este passou de US$ 2,83 em 2006 para US$ 4,23 em 2015. Por conseguinte, verifica-se que os custos de produção apresentaram um aumento expressivo nesse período estudado (2006/2015) nos Estados Unidos.
Cultivada especialmente nas regiões Centro Oeste e Sul do Brasil, a soja se firmou como um dos produtos mais destacados da agricultura nacional e na balança comercial. Na safra 2014/2015, o Brasil colheu 96,2 milhões de toneladas. No Rio Grande do Sul, responsável por 15,4% da produção, a safra chegou à marca histórica de 14,7 milhões de toneladas (CONAB, 2015a; CONAB, 2015b).
Destaque na produção nacional da soja, o RS chegou a concentrar 68,7% da safra nacional na década de 1970, mas depois acabou sendo superado pelos Estados de Mato Grosso e Paraná, regiões onde a cultura migrou juntamente com produtores gaúchos (FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (FARSUL), 2012; KLAUS, 2005). A importância econômica da soja, ditada pelo seu incremento efetivo a partir de 1931, no Rio Grande do Sul, é destacada por Klaus (2005, p. 297):
[...] já em 1957 figurava entre as principais culturas gaúchas, e no ano de 1970 representava 7% da renda interna rio-grandense no setor primário. Figurava ainda na nossa região (Santa Rosa) como o maior potencial entre todas as regiões, quando o Rio Grande do Sul era o maior produtor nacional de soja.
Salienta-se na obra de Klaus que, na década de 1970, grande contingente de agricultores gaúchos e paranaenses deslocou-se para Mato Grosso. As primeiras lavouras foram implantadas na região de Rondonópolis/MT, com crescimento permanente. No Rio Grande do Sul, a cultura ocupou mais de cinco milhões de hectares, de um total de oito milhões de hectares cultivados na safra de verão 2014/2015. O crescimento da oleaginosa se deu, sobretudo, em áreas até então ocupadas por pecuária ou por lavouras de arroz, especialmente na Metade Sul do Estado. Nos últimos dez anos, a produção de soja evoluiu também para novas áreas no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – denominadas, oficialmente, pelo governo federal, de Matopiba. Na safra 2014/2015, a região respondeu por 11% da produção brasileira de grãos, correspondendo a uma safra de 10,4 milhões de toneladas (CONAB, 2015b).
Atualmente, o Estado do Rio Grande do Sul ocupa a terceira posição em área plantada e produção do Brasil, mesmo apresentado uma produtividade (sacas por hectare) um pouco inferior aos Estados do Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul. A projeção da produção brasileira de soja em grão, para 2024/2025 (Tabela 1), é que esta aumente para 126,2 milhões de toneladas. Esse número representa um acréscimo de 33,9% em relação à produção de 2014/2015. A área de produção de soja no Brasil deve aumentar 9,7 milhões de hectares nos próximos 10 anos, chegando, em 2025, a 41,2 milhões de hectares. No país, a soja é a cultura que mais deve expandir a área na próxima década, com um acréscimo de 30,8% sobre 2014/2015 (CONAB, 2015a; CONAB, 2015b).
Tabela 1 - Projeções da produção, consumo e exportação
de soja em grão no Brasil (mil toneladas)
Ano |
Produção |
Consumo |
Exportação |
2014/15 |
95.070 |
44.200 |
46.770 |
2015/16 |
95.871 |
46.797 |
48.740 |
2016/17 |
100.041 |
45.308 |
50.710 |
2017/18 |
103.027 |
46.436 |
52.679 |
2018/19 |
106.480 |
47.565 |
54.649 |
2019/20 |
109.720 |
48.693 |
56.619 |
2020/21 |
113.044 |
49.822 |
58.589 |
2021/22 |
116.330 |
50.951 |
60.559 |
2022/23 |
119.632 |
52.079 |
62.528 |
2023/24 |
122.926 |
53.208 |
64.498 |
2024/25 |
126.223 |
54.336 |
66.468 |
Fonte: Elaborada com base em dados do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2014).
No Brasil, a variação prevista para 2025, relativamente à safra 2014/2015, é de um aumento na quantidade exportada de soja em grão em torno de 42%, do consumo em 22% e da produção em 34%, conforme pode ser visualizado na Tabela 1. Esses dados destacam a importância dessa cultura no país atualmente. Além disso, observam-se evoluções significativas nas exportações, na produção e no consumo na próxima década.
Esta pesquisa tem uma abordagem descritiva quanto aos seus objetivos; documental, quanto a técnica de coleta de dados; qualiquantitativa quanto a sua natureza. Num primeiro momento, a pesquisa é baseada numa revisão bibliográfica e, em um segundo momento, em séries históricas de dados secundários disponibilizados pela Companhia Nacional de Abastecimento do Brasil (CONAB).
Para avaliar de que forma o custo de produção influenciou na rentabilidade da produção de soja no Rio Grande do Sul, de 2005 a 2014, foi realizado um levantamento de dados secundários dos custos, preços e produtividade dessa cultura, a partir de séries históricas da CONAB. Destaca-se que a CONAB possui uma metodologia específica para levantamento das informações - custos de produção, produtividade e preço pago ao produtor, disponibilizados em valores históricos. O método citado é descrito no material disponibilizado no website da organização, sob o título: Metodologia de Cálculo dos Custos de Produção da Conab (2010). Assim, os valores foram corrigidos pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) - base setembro de 2015 (FGV, 2015).
Optou-se pelo IGP-DI devido ao fato deste índice registrar a inflação de preços desde matérias-primas agrícolas e industriais até bens e serviços finais. Assim, a utilização do IGP-DI permite uma maior abrangência de produtos em sua metodologia, o que, historicamente, o aproxima da variação dos preços do PIB do Brasil. Desse modo, entende-se que este índice possibilita a adequada correção das distorções de alterações nos preços e valores médios dos custos de produção da soja no período estudado (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS-FGV, 2014).
Os resultados dos custos de produção estão diretamente relacionados com os sistemas de cultivo e o modelo agrícola adotado pelo produtor rural. Deste modo, a CONAB faz uma média de tais custos, a partir dos dados coletados com base na metodologia de elaboração de custos de produção que abrange os seguintes itens (CONAB, 2010), expostos no Quadro 1 a seguir:
Quadro 1 - Classificação metodológica dos
custos de produção da soja pela CONAB
A - CUSTOS E DESPESAS VARIÁVEIS |
I – GASTOS* COM CUSTEIO DA LAVOURA |
1 – Operação com máquinas e implementos |
2 – Mão de obra e encargos sociais e trabalhistas |
3 – Sementes |
4 – Fertilizantes |
5 – Agrotóxicos |
6 – Custos com irrigação |
7 – Despesas administrativas |
8 – Outros itens |
II - GASTOS PÓS-COLHEITA |
1 – Seguro agrícola |
2 – Transporte externo |
3 – Assistência técnica e extensão rural |
4 – Armazenagem |
5 – Despesas administrativas |
6 – Outros itens |
III - DESPESAS FINANCEIRAS |
1 – Juros |
B - CUSTOS E DESPESAS FIXAS |
IV – DEPRECIAÇÕES E EXAUSTÕES |
1 – Depreciação de benfeitorias e instalações |
2 – Depreciação de máquinas |
3 – Depreciação de implementos |
4 – Exaustão do cultivo |
V - OUTROS CUSTOS FIXOS |
1 – Mão de obra e encargos sociais e trabalhistas |
2 – Seguro do capital fixo |
C - CUSTOS OPERACIONAIS (A + B) |
VI - RENDA DE FATORES |
1 – Remuneração esperada sobre capital fixo |
2 – Terra |
D - CUSTO TOTAL (C + VI) |
Fonte: Metodologia de elaboração de custos de produção da soja da CONAB (2010).
* Utilizou-se o termo "Gastos" nos itens "I" e "II", e custos e despesas variáveis e fixas nas
letras "A" e "B", para adequá-lo à teoria utilizada no referencial teórico, embora a
CONAB use o termo "Despesas".
A partir dessa classificação metodológica (Quadro 1), os dados de custos de produção são coletados em campo por técnicos da CONAB. Com tal base de dados disponibilizada, buscou-se analisar a rentabilidade da soja no Rio Grande do Sul no período de 10 anos, de 2005 a 2014.
O início da abertura comercial brasileira, a partir da década de 1990, e a implementação do Plano Real em 1994 foram relevantes para o crescimento agrícola brasileiro. O abandono do processo de substituição de importações incentivou a concorrência, excluindo os produtores menos eficientes. Portanto, os grandes e eficientes produtores permaneceram, gerando economias de escala, por meio da adoção novas tecnologias (REIS, 2007).
O relatório da Food and Agriculture Organization of the United States (FAO, 2014), sobre as perspectivas da agricultura de 2015 a 2024, afirma que o crescimento agrícola do Brasil tem sido impulsionado pelo aumento rápido da eficiência da utilização dos fatores de produção, essencialmente a terra e o trabalho. Segundo essa intituição, o crescimento da produtividade média está atrelado ao efeito da substituição do capital pelo trabalho. Somado a isso, a partir da política de modernização agrícola brasileira foram substituídas as máquinas obsoletas entre meados de 1970 a 1990, tornando-se um dos países com melhores desempenhos de produtividade.
O aumento da produtividade média das lavouras de soja no Rio Grande do Sul, de 2005 a 2014, é evidenciado na Tabela 2. Essa tabela traz também a variação do preço médio da saca de 60 quilos nesse período e dos custos de produção:
Tabela 2 - Custos médios de produção, preços médios e produtividade média da soja no
Rio Grande do Sul - Brasil - período de 2005 a 2014 (moedas: em R$ e em US$)
Ano |
Custos médios da saca de 60 kg (valor histórico- em reais) |
Preços médios da saca de 60 kg/Jul. (valor histórico - em reais) |
Custos médios de produção da saca de 60 kg (em reais)* |
Preços médios da saca de 60 kg (moeda em reais)* |
Produtividade média (sacas de soja por hectare) |
Custos médios da saca de 60 kg (em dólares - US$) |
Preços médios da saca de 60 kg (em dólares - US$) |
2005 |
35,97 |
31,06 |
64,16 |
55,40 |
32,66 |
16.49 |
14.24 |
2006 |
39,76 |
27,24 |
68,33 |
46,81 |
42,5 |
17.56 |
12.03 |
2007 |
41,31 |
26,53 |
65,79 |
42,25 |
33,8 |
16.91 |
10.86 |
2008 |
29,21 |
46,73 |
42,64 |
68,21 |
34,5 |
10.96 |
17.54 |
2009 |
34,44 |
43,11 |
51,01 |
63,85 |
42,83 |
13.11 |
16.41 |
2010 |
38,56 |
34,06 |
51,31 |
45,32 |
47,41 |
13.19 |
11.65 |
2011 |
37,20 |
40,10 |
47,13 |
50,81 |
25,9 |
12.12 |
13.06 |
2012 |
24,73 |
62,94 |
28,98 |
73,76 |
45,23 |
7.45 |
18.96 |
2013 |
37,28 |
60,83 |
41,40 |
67,56 |
43,41 |
10.64 |
17.37 |
2014 |
38,10 |
58,51 |
40,77 |
62,61 |
47,25 |
10.48 |
16.10 |
* Valores em reais, corrigidos pelo IGP-DI base set/2015
Fonte: Elaborada pelos autores com base em dados da CONAB (2015a; CONAB, 2015b).
A Tabela 2 demonstra que os custos de produção foram superiores aos preços médios de mercado de 2005 a 2007, no período em que os produtores do Rio Grande do Sul tiveram que aumentar seus gastos com insumos como fungicidas para controle da disseminação da ferrugem asiática, doença causada por um fungo (Phacopsora packyrhizi). O surgimento dessa doença, registrada pela primeira vez no país em 2001, é considerado um divisor no combate as doenças na agricultura brasileira. Contribuiu também para o período de baixa da atividade a pouca atratividade dos preços da soja no mercado internacional (SILVA, 2013).
A partir de 2008, com a ferrugem asiática controlada nas plantações, reduziu-se o número de aplicações de fungicidas e, consequentemente, os custos de produção. Além disso, houve um aumento gradual da produtividade das lavouras, ou seja, uma maior quantidade de sacas colhidas por hectare até o último ano analisado, que foi 2014. A única exceção deu-se em 2011, quando a produtividade da soja no Estado foi reduzida quase pela metade em razão da seca nos meses de verão.
Com a adoção de novas tecnologias, dentre as quais a agricultura de precisão (AP) e a taxa variável de fertilizantes (ATV), sendo esta uma inovação tecnológica do processo para suprir à deficiência no manejo e, consequentemente, melhorar a produtividade por meio da aplicação, no local, à quantidade de fertilizante necessário. Dessa forma, diminuindo os custos de produção e elevando a rentabilidade da atividade.
Somando-se a menores custos de produção e aos ganhos em produtividade, a partir de 2008, houve também um aumento significativo do preço da commodity no mercado internacional, conforme mostra a Tabela 2. A alta no valor da cotação deu-se em razão da maior demanda mundial pela oleaginosa, especialmente oriunda de países asiáticos, como a China. No período de 2008 a 2014, o menor valor da commodity foi registrado em 2010, quando os três principais produtores mundiais de soja, Estados Unidos, Brasil e Argentina, colheram excelentes safras que, logo, houve redução no preço do grão.
O preço médio por saca de soja é influenciado, dentre outros fatores, pela demanda, pela oferta internacional, pelos estoques mundiais do produto e taxas de câmbio. O preço interno é estabelecido pela cotação internacional por meio da Bolsa de Chicago (CBOT) que é baseada em bushel – o equivalente a 27,215 quilos. O aumento expressivo do preço médio da soja no mercado internacional, que chegou a ser cotada em US$18,96 bushel, no ano de 2012, gerou a maior rentabilidade média no período analisado – chegando a R$ 2.025,47 por hectare, conforme a Tabela 3.
De acordo com Black (2015), a apreciação cambial acompanhou a alta dos preços em dólares, no período de 2006 a 2011 e, no primeiro semestre de 2012, tanto os preços em dólar quanto a taxa de câmbio elevaram-se, o que permitiu um desempenho duplamente positiva do ponto de vista da valorização das exportações da commodity.
Na sequencia, a Tabela 3 mostra as receitas médias e a rentabilidade da produção de soja no Rio Grande do Sul, no período de 2005 a 2014, no qual é possível verificar que a rentabilidade foi positiva em seis anos pesquisados e mostrou prejuízo em outros quatro anos, quanto os custos de produção foram maiores do que as receitas.
Tabela 3 - Custos de produção, receitas e rentabilidade da soja no Rio Grande
do Sul de 2005 a 2014 (valores por hectare - moedas: em reais e em US$)
Ano | Custos médios (valores corrigidos pelo IGP-DI base set/2015)* (em reais) | Receitas médias (valores corrigidos pelo IGP-DI base set/2015)* (em reais) | Rentabilidade = Receita média- Custo médio - (em reais) | Custos médios (valores corrigidos pelo IGP-DI base set/2015)* (em dólares) | Preços médios (valore corrigidos pelo IGP-DI base set/2015)* (em dólares) | |
(R$ por hectare) |
(US$ por hectare) |
|||||
2005 |
2.095,48 |
1.809,44 |
- 286,04 |
538.68 |
465.15 |
|
2006 |
2.903,87 |
1.989,47 |
- 914,40 |
746.49 |
511.43 |
|
2007 |
2.223,81 |
1.428,17 |
- 795,64 |
571.67 |
367.14 |
|
2008 |
1.471,03 |
2.353,35 |
882,32 |
378.16 |
604.98 |
|
2009 |
2.184,57 |
2.734,52 |
549,95 |
561.59 |
702.96 |
|
2010 |
2.432,46 |
2.148,59 |
- 283,87 |
625.31 |
552.34 |
|
2011 |
1.220,79 |
1.315,95 |
95,17 |
313.83 |
338.29 |
|
2012 |
1.310,91 |
3.336,38 |
2.025,47 |
337.00 |
857.68 |
|
2013 |
1.797,30 |
2.932,67 |
1.135,37 |
462.03 |
753.90 |
|
2014 |
1.926,50 |
2.958,52 |
1.032,02 |
495.24 |
760.54 |
Fonte: Elaborada pelos autores, com base em dados da (CONAB, 2015a; CONAB, 2015b).
Os dados da Tabela 3 mostram que, no período dos 10 anos, os produtores gaúchos tiveram resultados negativos em quatro deles: 2005, 2006, 2007 e 2010. Os déficits nos três primeiros anos se deram, principalmente, pelo aumento nos custos de produção gerados pelos gastos com fungicidas para controle da ferrugem asiática (HIRAKURI; LAZZAROTTO, 2010; SILVA, 2013). Em 2010, o saldo negativo deu-se em razão da estiagem, que reduziu a colheita quase pela metade.
Em suma, a partir de 2008, a rentabilidade média da soja no Rio Grande do Sul foi positiva em todos os anos, exceto em 2010, quando o preço médio do produto foi reduzido em razão do excesso de oferta – gerado por colheitas expressivas nos principais países produtores. Cabe salientar que, mesmo quando houve uma quebra na safra de soja do Rio Grande do Sul (em 2011), os agricultores tiveram resultado médio positivo nas finanças.
A análise dos resultados permite constatar, ainda, que a cultura da soja é fortemente impactada pela variação do dólar no câmbio brasileiro, tanto sob o âmbito positivo quanto negativo. Quando a moeda americana está valorizada, os produtores conseguem um preço maior na venda da commodity, por ser cotada em dólar na Bolsa de Chicago. Por outro lado, o dólar alto também significa custos maiores de produção para o agricultor, já que grande parte dos insumos, como fertilizantes e agrotóxicos, são também precificados conforme a variação cambial.
Conforme destaca Richetti, Torres e Lima Filho (2013), o mercado internacional determina os patamares de rentabilidade do produto, pois, a influência do mercado externo vem também da demanda mundial pelo produto, que tem apresentado crescimento impulsionado, especialmente, pelo aumento do consumo da oleaginosa por países asiáticos. Usado como ração animal e também para alimentação humana, o grão é um importante insumo para produção de carnes.
É pertinente salientar que além do mercado internacional, a rentabilidade da cultura está relacionada com a produtividade das lavouras, ou seja, a quantidade de grãos colhidos por hectare. Ao se analisar as Tabelas 2 e 3, observar-se que os resultados negativos da rentabilidade em quatro anos, entre os 10 anos analisados, estão do mesmo modo relacionados, com o volume de produção colhido por hectare.
Em 2005 e 2011, a produção foi impactada por frustrações de safra em razão de estiagens prolongadas. O Rio Grande do Sul é um dos Estados mais suscetíveis a perdas de produção por causa de instabilidades do tempo (FARSUL, 2012). Nos anos em que não houve influência de condições climáticas desfavoráveis, os rendimentos das lavouras foram positivos.
Dessa forma, evidencia-se que a margem de rentabilidade é cada vez mais dependente dos ganhos de produtividade. Pois, dada à impossibilidade de controlar fatores climáticos e os preços internacionais, os aumentos da produtividade e/ou redução dos custos de produção tornam-se condições imprescindíveis na busca de maior lucratividade.
Este estudo buscou traçar um cenário da produção de soja no Brasil, com ênfase no Rio Grande do Sul, para avaliar a rentabilidade da atividade agrícola. O cultivo da oleaginosa representa a maior renda de grande parte dos produtores agrícolas gaúchos, que vem aumentando a área plantada a cada ano. Dos mais de oito milhões de hectares cultivados na safra de grãos no Estado, mais de cinco milhões são ocupados pela cultura de soja, que representa ainda o maior volume de exportações da agropecuária gaúcha e brasileira.
Além do cenário agrícola vinculado ao agronegócio da soja, o estudo baseou-se em referenciais teóricos sobre custos de produção e gerenciamento das propriedades. Ao levantar os custos médios de produção da soja no Rio Grande do Sul, no período de 2005 a 2014, com base em informações da Companhia Nacional de Abastecimento do Brasil (CONAB), a pesquisa os relacionou com o preço médio da saca de soja no período, bem como com a produtividade média das lavouras. Com isso, o estudo calculou a receita média por hectare e subtraiu desta os custos médios de produção, chegando-se, então, à rentabilidade média da atividade por hectare.
Em 10 anos analisados pela pesquisa, verificaram-se resultados negativos em 2005, 2006, 2007 e 2010. Nos três primeiros anos, o déficit foi causado, em grande parte, por custos de produção maiores – gerados, especialmente, pelo aumento nos gastos com fungicidas para controle da ferrugem asiática. Em 2010, o saldo negativo deu-se, principalmente, em razão da queda do preço da commodity no mercado internacional, ocasionada pelo excesso de oferta mundial.
Nos seis demais anos, a atividade teve lucro em todos os ciclos no Rio Grande do Sul, com destaque para 2012, quando a produção de soja resultou numa rentabilidade superior a R$ 2.000,00 por hectare. Destaca-se ainda que o aumento da produtividade das lavouras no período pesquisado foi de 44%. O incremento na quantidade de grãos colhidos por hectare é atribuído à utilização de novas tecnologias no campo, de insumos a maquinários.
No período analisado, a lucratividade das lavouras foi impactada pela valorização da commodity no mercado internacional, impulsionada pela crescente demanda oriunda dos mercados asiáticos. Observou-se que, principalmente, a partir de 2012, os preços médios da saca de soja apresentaram alta em relação aos sete anos imediatamente anteriores. Por sua vez, os custos de produção foram influenciados pela valorização do dólar no câmbio brasileiro, já que insumos importantes, como os fertilizantes e defensivos químicos, seguem a cotação da moeda americana.
É fato que os resultados da produção agrícola refletem-se, por um lado, na tomada de decisão por parte do produtor quanto à definição do sistema de cultivo, da eficiência econômica e da gestão do seu empreendimento rural. Entretanto, como os preços e custos são impactados por flutuações do mercado externo, a rentabilidade é cada vez mais determinada por ganhos de produtividade nas lavouras. É o volume colhido por hectare, que acaba fazendo a diferença na lucratividade da atividade. Assim, ao ampliar a produtividade a cada ano, com uso de novas tecnologias, os produtores rurais conseguem fazer frente ao aumento de custos de produção e, assim, continuar alcançando lucratividade na cultura.
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1. Mestranda Agronegócios no Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios - CEPAN da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. E-mail: joanacolussi@gmail.com
2. Doutoranda Agronegócios no Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios - CEPAN da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Professora Assistente da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). E-mail: rejaneweiss@yahoo.com.br
3. Doutorado em Agronegócios; Mestrado em Ciências Contábeis. Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Econômicas - FCE/DCCA/UFRGS e do Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios – CEPAN, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. E-mails: angela.souza@ufrgs.br e angela.rsl@gmail.com
4. Doutorado em Agronegócios; Mestrado em Administração. Professora Adjunta da Faculdade de Ciências Econômicas - FCE/DERI/UFRGS e do Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios – CEPAN, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. E-mails: leticiaoliveira@ufrgs.br e leoliveira13@gmail.com