Espacios. Vol. 36 (Nº 13) Año 2015. Pág. 16

Análise ergonômica do trabalho em clínicas odontológicas particulares do Município de Prudentópolis-Pr

Analysis work ergonomic in private dental clinics of Prudentopolis-PR City

Marcos Roberto MENEGHINI 1; Herus PONTES 2

Recibido: 25/02/15 • Aprobado: 22/04/2015


Contenido

1. Introdução

2. Revisão Teórica

3. Metodologia

4. Resultados E Discussões

5. Conclusão

6. Referências


RESUMO:
O presente artigo busca apresentar os resultados da pesquisa referente à análise ergonômica do trabalho, realizada em clínicas odontológicas particulares do município de Prudentópolis/Paraná. Atualmente vem sendo discutido os riscos ergonômicos aos quais os profissionais da área odontológica estão expostos.A grande carga horária e o número excessivo de pacientes atendidos diariamente, somado a movimentos repetitivos e posturas inadequadas tem aumentado o número de lesões como LER/DORT nestes profissionais. Como metodologia utilizou-se da abordagem quantitativa, e como instrumento foi empregado um questionário estruturado. A pesquisa foi realizada com uma amostra de 25 profissionais.
Palavras-chave: Ergonomia. Consultório Odontológico. Análise Ergonômica. Lombalgias

ABSTRACT:
This article aims to show the search results on the ergonomic analysis of work done in private dental clinics in the city of Prudentópolis/PR. Are currently being discussed ergonomic risks for the dental professionals are exposed. The heavy work load and the excessive number of patients seen daily, added to repetitive movements and inadequate postures has Increased the number of injuries such as LER/DORT in those professionals. The methodology used is the quantitative approach, and the instrument was used to a structured questionnaire. The survey was conducted with a sample of 25 professionals.
Key-words: Ergonomics. Dental Clinic. Ergonomic Analysis. Back Pain

1. Introdução

O trabalho do cirurgião-dentista tem se mostrado cada vez mais estressante devido a grande carga horária que os mesmos são "obrigados" a realizar para obter uma maior vantagem pecuniária ao final do mês, principalmente em clínicas particulares.

A grande carga horária a que são expostos e o grande número de atendimento aos pacientes, repetidos diariamente, faz com que os cirurgiões-dentistas estejam cada vez mais susceptíveis a doenças ocupacionais, tanto no aspecto psíquico e social (COSTER et al, 1987) como também às lesões corporais.

São as doenças ocupacionais as responsáveis pelo afastamento de profissionais precocemente do mercado de trabalho e também grandes responsáveis pela perda da produtividade,e em consequência, a perda ou diminuição da arrecadação pecuniária.

Artigos científicos da língua portuguesa e inglesa, entre os períodos de 1978 a 2010, mostraram que as principais doenças ocupacionais a que estão expostos os cirurgiões-dentistas são as desordens musculoesqueléticas, estresse, perda auditiva induzida pelo ruído (PAIR), contaminação por mercúrio, hepatite e dermatoses (DIAS, 2011). As lesões musculoesqueléticas (LER – Lesão por esforço repetitivo e DORT – Distúrbio Osteomuscular relacionado ao Trabalho) tratam de afecções multicausais, que surgem devido a combinação de diversos fatores, mas principalmente os ergonômicos.

Dentre as regiões mais afetadas por tais lesões, pode-se citar o pescoço, ombro e a coluna lombar. Tratando de forma individual, a prevalência de tais lesões variam de 36 a 57% na coluna lombar(VAN DOORN, 1995) 42% no ombro (LEHTO et al, 1991) e 44% na região cervical (RUNDCRANTZ, 1991). Quando tratado de forma simultânea, ou seja, da dor em mais de um local, a prevalência pode chegar a até 90%(RUNDCRANTZ,1991).

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET), método de pesquisa em ergonomia, pode oferecer conhecimentos sistemáticos para se investigar quais são as reais condições de trabalho encontradas nas clínicas e consultórios odontológicos particulares. Isto pode significar demonstrar aos cirurgiões-dentistas que se forem corretamente gerenciados os riscos advindos de sua profissão, estes podem trabalhar por mais tempo e de maneira mais prazerosa e satisfatória, diminuindo os afastamentos e melhorando a produtividade.

Nesta perspectiva, a presente pesquisa tem por objetivo verificar se os aspectos ergonômicos da profissão influenciam na presença de dores corporais em cirurgiões dentistas que atuam em clínicas particulares no município de Prudentópolis, estado do Paraná. A pesquisa foi realizada em 14 clínicas odontológicas e contou com 25 profissionais entrevistados.

2. Revisão Teórica

A palavra ergonomia possui origem grega, onde, a palavra ergon significa trabalho e nomos significa legislação, desta maneira, a ergonomia pode ser entendida como ciência da configuração de trabalho adaptada ao homem(GRANDJEAN, 1998).

Dul e Weerdmeester (2000) colocam que a ergonomia possui caráter interdisciplinar e natureza aplicada. Segundo os autores é interdisciplinar, pois se baseia em várias áreas do conhecimento humano (antropometria, biomecânica, engenharia mecânica, eletrônica, psicologia, entre outras) e sua natureza aplicada esta relacionada ao fato de adaptar o posto e o ambiente de acordo com as características e necessidades do profissional.

A Ergonomia opera no sentido de adequar o trabalho ao ser humano por meio de métodos como analise postural e adaptação do posto do trabalho. Atuando de modo a melhorar as condições de trabalho, a ergonomia reduz os fatores de risco contribuindo para melhor qualidade laborativa (MOTTA, 2009) e produtividade, maior eficiência mecânica do corpo e menos tensões nervosas(BARBOSA et al, 2003).

É fundamental exercer as atividades laborais em um ambiente ergonomicamente adequado, projetado para se adequar ao profissional e oferecendo conforto e segurança(SANTOS et al, 2007).Autores (MARTINS; SALDANHA, 2007) colocam que a odontologia é uma profissão de alto risco ergonômico. Pois, são muitas as doenças ocupacionais que podem decorrer de consultórios projetados sem considerar os fatores ergonômicos, somado a posturas inadequadas adotadas pelos profissionais (SANTOS et al, 2007).

Parte destes profissionais é acometida de lesões e desordens osteomosculares, afecções como LER e DORT decorrem da combinação de vários fatores e resultam em um dos mais frequentes motivos para limitação e afastamento do trabalho. As regiões mais acometidas por estas lesões são o pescoço, ombro e coluna lombar (PEREIRA et al, 2011).

Pesquisas realizadas no Brasil(DUL; WEERDMEESTER, 1995) apontam que cerca de 41,05%, da amostra de cirurgiões dentistas estudados, afirma possuir dor em pelo menos uma região do corpo. Dentre este percentual, 46,15% possuem o diagnóstico de LER (lesões por esforço repetitivo). As regiões do pescoço (58,97%) do ombro direito (53,85%) e esquerdo (64,10%), são as mais apontadas quanto locais de dor, seguidas de perto pelas regiões: do quadrante inferior da costa direita (41,03%) e costa esquerda inferior (33,33%).

Os riscos ergonômicos aos quais o profissional de odontologia está exposto são causados por: "[...] postura incorreta, ausência do profissional auxiliar e/ou técnico, falta de capacitação do pessoal auxiliar, atenção e responsabilidade constantes, ausência de planejamento, ritmo excessivo, atos repetitivos, entre outros mais" (LOPEZ; LESSA, 2010,p.6).

Os distúrbios musculoesqueletais encontrados nos cirurgiões dentistas associa-se a hábitos disfuncionais de trabalho, longa jornada de trabalho com excesso de pacientes por dia, poucos intervalos para descanso, estresse emocional e estilo de vida (PEREIRA et al, 2011).

No trabalho de profissionais da área odontológica é comum a realização de movimentos repetitivos e que exigem acuidade visual, com posição, na maior parte do tempo, sentada pouco alternando com a posição em pé. Pesquisas apontam(SANTOS et al, 2007) apontam que a má distribuição de equipamentos e limitação de regulagens, são algumas das causas de excesso de movimentação desnecessária e posturas inadequadas destes profissionais.

O sedentarismo consiste em um dos determinantes de problemas musculoesqueléticos(BARBOSA et al, 2003)por isso  a realização de atividades físicas ou exercícios de alongamentos regulares é vista  como fundamental, entretanto pesquisas(PEREIRA et al, 2011) apontam para altos índices, cerca de 33,68%, de profissionais da área que não realizam qualquer espécie de atividade físicas.

Autores como Costaet al (2006) e Moraes et al, (2004),destacam que os cirurgiões-dentistas correm um risco considerável de adquirir algum tipo de LER/DORT, se fatores como utilização de força excessiva, postura incorreta e repetição de movimentos, característicos da profissão, somarem-se a fatores individuais. Muitos destes profissionais são submetidos a desfavoráveis condições de trabalho que geram dor e desconforto.

Martins (2008) coloca que as atividades laborais do odontólogo  causam muitas patologias no sistema muscoloesquelético, pois a profissão demanda a realização de procedimentos complexos na boca dos pacientes, que exigem visualização apurada, acabam por manter-se em posturas inadequadas para terem melhor acesso ao campo examinado. Os profissionais da odontologia trabalham na maioria das vezes sozinhos, sem dividir tarefas com auxiliares, o que acarreta na realização inadequada de tarefas e utilização desfavorável de equipamentos (MENDES, 1976).

As práticas do cirurgião dentista exigem do profissional a realização de movimentos repetitivos, além de que as práticas são diversificadas e exigem movimentos e posturas diferentes que podem trazer comprometimentos a saúde. Além disso, alguns fatores externos como: iluminação, ruído, qualidade e disposição dos equipamentos, podem prejudicar os movimentos realizados para execução das tarefas (SANTOSet al 2007).

Pesquisas realizadas(LOPEZ; LESSA, 2010) mostram que a falta de um auxiliar no consultório odontológico, é apontada de forma unânime pelos profissionais, como um dos principais riscos ergonômicos. Em seguida os riscos mais citados foram: as situações que causam estresse, apontado por 80% dos entrevistados; longas jornadas de trabalho, apontado por 73% e esforços e deslocamentos desnecessários na realização das tarefas, mencionado por 73% dos entrevistados.

Em pesquisa realizada por Martins e Saldanha (2007)com estudantes do curso de odontologia, revelou-se que os acadêmicos focavam sua atenção na tarefa e acabavam, de forma inconsciente, adotando posturas corporais inadequadas, mas que facilitam a visualização e o acesso ao campo de operação. Desta maneira encontram uma postura, mesmo que incorreta, mas que permite realizar os procedimentos e permanecem nela de forma estática, a tensão muscular por sua vez leva à fadiga, ao desconforto e a dor, isso torna o estudante vulnerável aos distúrbios osteomusculares em seu posto de trabalho.

A AET, sigla para Análise Ergonômica do Trabalho, configura-se de um método de pesquisa em ergonomia que busca realizar investigações em relação às condições que as atividades laborais são realizadas(MARTINS; SALDANHA, 2007). A análise ergonômica permite que se compreenda o que se faz e da situação nela inserida. Através deste processo é possível implantar melhorias com vistas a menores exigências no trabalho, e analise de todas as situações de trabalho desde os estressores físicos até os fatores ambientais, que podem impactar negativamente na saúde e segurança do individuo (RAMOS et al, 2011).

Na análise ergonômica do trabalho, a parte que se refere à análise propriamente dita é constituída de 3 etapas, onde na primeira analisa-se a demanda, seguida da analise da tarefa e por fim a análise das atividades. Posteriormente a analise, vem o diagnóstico, que realiza um apanhado de todos os fatores apresentando os problemas identificados na primeira parte. E finalmente a correção que busca apresentar as possíveis correções ergonômicas para melhoria do ambiente de trabalho(SANTOS et al, 2007).

No que concerne ás práticas dos cirurgiões dentistas, Costa et al (2006) referem que a ergonomia pode desempenhar um papel importante na melhoria de suas condições de trabalho através da ergonomia de concepção e ergonomia de correção. A primeira debruça-se a elaboração de desenho de equipamentos e postos de trabalho ergonômicos, e a segunda intervém em situações já existentes.

Para uma prática profissional que não ofereça riscos à saúde, é importante antes de tudo conhecer preceitos ergonômicos. Ao profissional, devem-se oferecer condições adequadas de trabalho que possibilitem maior produtividade, pois o desempenho do profissional tal como se estado físico e mental, depende intimamente das influencias que recebe do ambiente e da postura que adota para executar seu trabalho (COSTA et al, 2006).

Martins e Saldanha (2007) apontam para a necessidade de ampliar as discussões no ambiente acadêmico – onde o conhecimento é construído - em relação aos problemas de saúde aos quais os odontologistas estão sujeitos, se submetidos às práticas profissionais inadequadas.

Um dos principais conceitos da racionalização ergonômica do trabalho é a técnica F.H.D (Four HandedDentristry),a quatro mãos, que destaca a importância da sincronia de movimentos de operação do profissional de odontologia e do auxiliar, a fim de proporcionar melhores condições de trabalho, conforto, diminuição de estresse e de tempo de operação, contribuindo para a otimização do atendimento. Nesta técnica, o dentista precisa ter em mãos de forma imediata as ferramentas que venha a ocupar nos procedimentos. O auxiliar atua de modo a proporcionar ao dentista melhor visualização do campo. Cada ato operatório realizado tem sua complexidade e particularidade e exige uma cooperação a quatro mãos diferente(MARTINS; SALDANHA, 2007).

Pereira et al (2011, p. 13) afirma que estratégias de intervenção ergonômicas são o meio mais eficaz para evitar lesões (como LER e DORT) que acometem os profissionais da área odontológica:

Cuidados básicos como correta organização do trabalho, distribuições das funções (trabalho auxiliado), posição adequada, boa visualização do campo de trabalho, realização de atividades físicas regularmente, e outras, são medidas que minimizam o estresse físico e emocional do dentista, tornando-se fundamentais para a ergonomia do trabalho.

3. Metodologia

Para realização deste trabalho, e a fim de alcançar os objetivos propostos, adotou-se como ferramenta de investigação um questionário estruturado, e para a exploração dos dados foi utilizada a abordagem qualitativa. A pesquisa foi realizada na cidade de Prudentópolis, em 14 clínicas particulares, contando com uma amostra de 25 cirurgiões dentistas.

4. Resultados E Discussões

A presente pesquisa contou com 25 participantes, dos quais 64% são homens e 36% são mulheres, conforme demonstrado na figura 01.

Figura 1.Representação gráfica do sexo dos participantes da pesquisa.

Quanto à idade dos entrevistados, mais da metade 52% tem entre 20 e 30 anos de idade, como mostra a figura 2.

Figura 2.Representação gráfica da idade dos participantes da pesquisa.

Quanto ao tempo de atuação na área, a maior parte - 40% - dos entrevistados atua na área de 1 a 5 anos, como aponta a figura 3.

Figura 3.Representação gráfica do tempo de atuação dos cirurgiões dentistas na área.

Os entrevistados foram questionados quanto a sentirem – ou não – dores em alguma região do corpo.  A maior parte 68% (conforme a figura 5) afirmou possuir dor em pelo menos uma região.

Figura 4.Representação gráfica dos cirurgiões dentistas que possuem dor em alguma região do corpo.

Relacionando o tempo de atuação com a presença de dor, como ilustra a figura 5, observou-se que do total de profissionais que atuam na área de 1 a 5 anos, 70% sentem dor em alguma região do corpo. Dos que atuam na área de 6 a 10 anos 75% possui alguma espécie de dor. Dos profissionais que atuam de 11 a 15 anos na área 42,85% possuem dor. Do total de profissionais que atuam na área de 15 a 20 anos 100% apresentam dor em alguma região e dos profissionais com mais de 20 anos de atuação na área 66,66% possuem alguma dor.  É interessante observar que em relação a dor, os profissionais que trabalham há menos tempo na área possuem grandes percentuais, ultrapassando os profissionais que trabalham a mais de 20 anos na área.

Figura 5.Representação gráfica do tempo de atuação na área relacionado à presença de dor.

Do total de mulheres participantes da pesquisa 77,7% afirmaram sentirem dor em algum local do corpo, e os homens que sentem dor representam um percentual de 62,5%. As regiões doloridas mais citadas pelos entrevistados estão expostas na tabela 1.

Tabela 1.Percentual dos locais doloridos mais citados pelos entrevistados

Regiões Mais Citadas

Percentual

Pescoço

40%

Costas Direita

36%

Costas Esquerda

20%

Ombro Direito

20%

Ombro Esquerdo

16%

Mão Direita

16%

Braço Direito

16%

Mão Esquerda

12%

Pelve/Quadril Direito

12%

Punho Esquerdo

12%

Pelve/Quadril Esquerdo

8%

Perna Esquerda

8%

Punho Direito

8%

Perna Direita

4%

Tórax

4%

Os cirurgiões dentistas foram questionados em relação ao sentimento de desconforto em regiões do corpo, 56% afirmaram possuir algum tipo de desconforto, 32% responderam que não e 12% não respondeu a esta questão. A figura 6 mostra as regiões mais citadas.

Figura 6.Representação gráfica das regiões onde os cirurgiões dentistas sentem mais desconforto.

Tanto em relação à dor quanto ao desconforto pode-se notar que os locais mais citados são o pescoço, os dois lados das costas e o ombro direito.

Os participantes foram questionados sobre a realização de alongamentos antes do início da jornada de trabalho. Um total de 76% não faz alongamento, 20% fazem alongamento e 4% não respondeu a esta pergunta.

Com a pesquisa pode-se perceber que os profissionais da área possuem uma jornada de trabalho bem extensa. Somente 36% dos entrevistados trabalham até 8 horas por dia, 40% trabalham de 8 até 10 horas por dia, 16% trabalham de 10 até 12 horas por dia, e 8% trabalham mais de 12 horas por dia. Na figura 7 estão expostos os percentuais de pessoas que sentem ou não sentem dor analisadas conforme jornada de trabalho.

Figura 7 .Representação gráfica da carga horária diária relacionadaàpresença de dor.

Buscou-se também observar se existe relação entre a idade do cirurgião dentista e a presença de dores corporais. O resultado, conforme figura 8 abaixo, não aponta uma relação entre estes dois fatores, já que é grande número de profissionais mais jovens sentem dores, entretanto observa-se que acima de 50 anos todos os profissionais entrevistados sentem dor.

Figura 8. Representação gráfica da idade dos profissionais relacionada à presença de dor.

São poucos os profissionais que realizam alongamentos ou ginástica laboral antes do inicio da jornada de trabalho. Dos entrevistados somente 20% realiza alongamentos diários, como ilustra a figura 9.

Figura 9. Representação gráfica da quantidade de cirurgiões
que realizam alongamentos antes da jornada de trabalho.

Dos profissionais que fazem alongamento antes de iniciar a jornada de trabalho 80% não sentem dor, e 20% sentem. Este resultado pode indicar que o alongamento seja um fator que contribui para a diminuição de dores provenientes da atividade laboral, conforme aponta a figura 10.

Figura 10.Representação gráfica da quantidade de cirurgiões
que realizam / não realizam alongamentos e sentem / não sentem dor.

Do total de entrevistados 76% realiza alguma atividade física ao menos duas vezes por semana. Não foi encontrado relação entre a prática de exercícios físicos e a ausência de dor, pois do total de pessoas que realiza alguma atividade física 76,47% tem dor e dos que não realizam atividade física 50% tem dores. Entretanto observou-se que as atividades minimizam as dores corporais, pois 63,15% dos que realizam atividade física afirmam que estas atividades têm reduzido as dores, e 5,26% afirmam que as atividades não tem ajudado na diminuição das dores, 31,57% não responderam esta questão, pois não apresentam dores no corpo.

Entre os participantes foram questionados em relação ao recebimento – ou não, de informações referentes a ergonomia no trabalho, destes 84% receberam algum tipo de informação sobre o assunto, mas consideram difícil colocar as informações em prática diante das exigências da atividade laboral, na figura 11 pode-se observar em quais contextos as informações foram transmitidas a estes profissionais:

Figura 11.Representação gráfica do local onde
os cirurgiões receberam informação sobre ergonomia.

Por tratar-se de uma profissão muito exigente ergonomicamente, como visto nos resultados, a grande maioria dos cirurgiões dentistas apresentaram dores, principalmente na região do pescoço e região lombar. Apesar da maioria dos cirurgiões dentistas terem recebido informações sobre ergonomia no consultório odontológico, muitos deles afirmam ser difícil a execução de todas as práticas ergonômicas adequadas devido ao grande número de atendimentos e o curto espaço de tempo entre um atendimento e outro, buscando uma maior produtividade. Notou-se que o alongamento antes das atividades pode ser eficaz para a diminuição das dores.

5. Conclusão

Através da pesquisa realizada pôde-se perceber que mais da metade dos cirurgiões dentistas atuantes em clinicas particulares possuem alguma dor ou desconforto em regiões do corpo provenientes da rotina laboral. As questões ergonômicas apesar de conhecidas pela maioria dos entrevistados acabam por serem negligenciadas diante da excessiva carga horária, exigências e necessidades da atividade laboral.

  Nesta perspectiva, concluindo, pode-se afirmar que as dores e desconforto sentidos pelos profissionais não tem necessariamente relação com idade ou tempo e jornada de trabalho, pois é significativo o números de profissionais jovens e com poucos anos de atuação que sentem alguma espécie de dor. As mulheres são as que mais sentem dor, e os locais doloridos mais citados são respectivamente o pescoço, as costas e os ombros.

  É interessante ressaltar que a realização de alongamentos antes do inicio da jornada de trabalho mostrou ter relação com a ausência de dor, pois 80% dos que realizam alongamento diário afirmaram não sentirem nenhum tipo de dor ou desconforto. Assim, mostrando-se o alongamento eficaz na ausência de dores, sugere-se aos cirurgiões dentistas a adoção desta prática, ou atividades mais elaboradas como a ginástica laboral ou pilates antes de iniciar a jornada de trabalho. Deste modo, a referida pesquisa é conclusiva e mostra que esta é uma questão de grande importância que pode impulsionar pesquisas posteriores que contenham investigações mais minuciosas e específicas sobre o caso.

6. Referências

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1. Email: betopr_04@hotmail.com, Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Ponta Grossa, Brasil
2. Email: herus@utfpr.edu.br, Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Ponta Grossa, Brasil


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