Espacios. Vol. 36 (Nº 06) Año 2015. Pág. 3

Estudo cienciométrico sobre a docência no ensino superior no Brasil

Scientometric study on teaching in higher education in Brazil

Ibraim FANTIN-CRUZ 1; Janielly Carvalho CAMARGO 2

Recibido: 17/10/14 • Aprobado: 18/12/2014


Contenido

1. Introdução

2. Materiais e Métodos

3. Resultados e discussões

4. Referências


RESUMO:
Uma abordagem cienciométrica foi utilizada para caracterizar o nível atual de desenvolvimento do conhecimento científico produzido no Brasil a respeito da docência no ensino superior. Os dados utilizados neste estudo foram coletados na base SciVerse Scopus, empregando-se os termos "docência" e "ensino superior". O número de publicações sobre a docência no ensino superior cresceu significativamente ao longo dos anos. Ao todo foram encontradas 186 artigos em 81 periódicos diferentes, onde maior parte dos artigos (44%) possui foco na área das Ciências Sociais. As informações científicas não têm obtido grande impacto na comunidade científica, pois as publicações têm sido pouco citadas. O número coautorias dessas pesquisas praticamente não mudou ao longo dos anos, porém os números de citações diminuíram ao longo do tempo. As universidades com maior produção científica sobre o tema foram Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Santa Catarina e a Universidade de Campinas, que juntas foram responsáveis por manterem 25% dos pesquisadores com publicações nesta área. A região Sudeste foi a que concentrou maior número de pesquisadores com publicações nesta área (43%). Já as regiões Centro-Oeste e Norte se destacaram negativamente, com contribuições inferiores a 5%. Em geral, a docência no ensino superior ainda é pouco pesquisada no Brasil, ficando concentrada em poucas instituições de pesquisa localizadas na região Sul e Sudeste.
Palavras chave: Indicadores; bibliometria; produção científica;

ABSTRACT:
A scientometric approach was used to characterize the current level of development of scientific knowledge produced in Brazil about teaching in higher education. Data used in this study were collected from SciVerse Scopus, by using the terms 'teaching' and 'higher education'. The number of studies on teaching in higher education has grown significantly over the years. In total, 186 papers were registered in 81 journals; most of the articles (44%) have focused on the field of Social Sciences. Scientific information has not achieved high impact on the scientific community, because the studies have been rarely mentioned. The number of co-authorships in these studies practically did not change over the years, but the numbers of citations decreased over time. Universities with greater scientific production on the topic were University of São Paulo, Federal University of Santa Catarina and University of Campinas, which together accounted for 25% of the researchers with publications in that area. The Southeast region concentrated most of researchers with publications in this area (43%). In turn, the Central-West and Northeast regions showed less than 5% of publications. In general, the teaching in higher education is still poorly studied in Brazil, being concentrated in a few institutes for research located in the Southeast and South regions.
Key words: Indicators; bibliometrics; scientific production.

1. Introdução

O investimento em educação pode ser considerado uma estratégia para a melhoria social, econômica e cultural da sociedade, contribuindo para que sejam estabelecidas condições mais igualitárias entre as pessoas (Moraes e Giroldo, 2014). No Brasil, esta concepção começou a ser aplicada no ensino superior a partir de 1995 e 1996 quando mudaram as regras do setor educacional, pondo fim à legislação que determinava o modelo único de universidade (Constantino e Góis, 2003; Souza-Silva e Davel, 2005). No entanto, apenas a partir do ano de 2003 o governo Federal passou a investir maciçamente na expansão da Rede Federal de Educação Superior com a criação de 100 novos campi até 2011 (http://reuni.mec.gov.br/).

Essa ampliação das instituições de ensino superior ocorrida nas duas últimas décadas necessitou da abertura de novas vagas para docentes no ensino superior para atender essa grande demanda. Por consequência, este aumento requereu a formação de profissionais para o exercício com habilidades e conhecimentos específicos necessários para atender as necessidades vinculadas à atividade. Cabe salientar que a docência no ensino superior é caracterizada pela indissociabilidade entre, ensino, pesquisa, extensão e mais recentemente inovação. Onde os produtos e resultados acadêmicos provenientes destas quatro atividades constituem as respostas das instituições às questões apresentadas pela sociedade, tendo em vista sua transformação (Veiga, 2014).

Diante disso, pesquisas sobre a docência no ensino superior passaram a ser tema de diversas investigações nas mais variadas áreas do conhecimento, se destacando temas relativos à formação e atuação profissional, desenvolvimento de metodologias e práticas de ensino, reflexões sobre a profissão, disseminação de conhecimentos por publicações, entre outros. Isso fez com que houvesse uma preocupação dos docentes em publicar seus resultados, de maneira a garantir sua propriedade intelectual, transformar resultados em informação e, ainda alcançar reconhecimento por suas pesquisas (Okubo, 1997).  No entanto, o crescente número de artigos publicados a cada ano, dificulta o acompanhamento, com detalhes, de sua área ou objeto de pesquisa.

Atualmente, existem diversas técnicas de avaliação utilizadas para medir o progresso da ciência e o fluxo de disseminação de conhecimentos científicos. Dentre estas podemos citar a cienciometria, que pode ser definida como a ciência que estuda os aspectos quantitativos de uma determinada área da ciência, por meio de indicadores quantitativos, que visam medir os incrementos de produção científica de uma área de um grupo de pesquisadores de uma área, com a finalidade de delinear o crescimento de um determinado ramo do conhecimento e ainda fornecer subsídios para apoiar o desenvolvimento de políticas científicas, elaborar previsões e orientar a tomada de decisões (Macias-Chapula, 1998; Rosseau, 1998; Spinak 1998; Camargo, 2013).

Diante deste contexto, foi utilizada uma abordagem cienciométrica com objetivo de (i) identificar as possíveis tendências temporais sobre a docência no ensino superior; (ii) caracterizar as principais subáreas estudadas por estas pesquisas; (iii) identificar os periódicos que mais publicam sobre o tema e suas avaliações; (iv) diagnosticar um panorama atual do nível de desenvolvimento da literatura científica brasileira sobre a docência no ensino superior, identificando os principais pesquisadores, instituições e regiões mais desenvolvidas.

2. Materiais e Métodos

2.1. Coleta dos dados

A coleta dos dados cienciométricos utilizados neste estudo foi realizada na base

SciVerse Scopus (Disponível em: <http://www.scopus.com>). Os termos de busca adotados foram "docência" e "ensino superior", entre aspas. Não foi definido um período de pesquisa específico, pois foram contabilizados todos os artigos encontrados sobre o tema pesquisado independente do ano de publicação, sendo que o levantamento foi realizado até 10 de setembro de 2014. Das publicações foram extraídas as seguintes informações: nome dos autores, instituição de vínculo do autor, ano de publicação, título da publicação, periódico onde o trabalho foi publicado, número total de citações de cada publicação e as subáreas do conhecimento.

            Para avaliar a importância dos periódicos que mais publicaram sobre o tema foram utilizados dois indicadores, fator de impacto, consultado na página de cada periódico, e a classificação na CAPES (Disponível em: http://qualis.capes.gov.br), nas áreas de avaliação em Educação, Ensino e Interdisciplinar.

A partir dessas informações foi calculada a frequência com que cada artigo é citado, dividindo o número de artigo citado (não a quantidade de citações) pelo número de artigos publicados no ano.

2.2. Análise dos dados

            O padrão de crescimento do número de publicações ao longo do ano foi avaliado por meio de uma análise de regressão não linear, testando qual o modelo matemático que melhor se ajustava aos dados observados. Para avaliar a tendência temporal do número de autores e de citações por artigo, a frequência com que cada artigo é citado e o número de citações acumulada a partir do ano de publicação foi utilizada análises de regressões simples.

3. Resultados e discussões

Um total de 186 artigos foram encontrados na base SciVerse Scopus utilizando a combinação dos termos de busca "docência" e  "ensino superior", até 10 de setembro de 2014. No Brasil, pesquisas nesta área tiveram início em 1993, porém, apenas a partir de 2005 aconteceu um crescimento exponencial significativo (R2=0,87; p<0,001; Figura 1). Aproximadamente 44 % destas publicações possuem foco em ciências sociais, enquanto que as demais pesquisas (56%) estão voltadas principalmente para as áreas de enfermagem, medicina, contabilidade, química, artes e humanidades (Figura 2).

Desta maneira, os resultados mostraram que nas últimas duas décadas a literatura científica publicada por brasileiros, sobre a docência no ensino superior se desenvolveu intensamente. Além disso, duas fases distintas puderam ser identificadas, através da análise da tendência temporal das publicações sobre este assunto. A primeira fase aconteceu entre os anos de 1993 e 2004, onde por cerca de uma década, as publicações eram raras e esparsas, provavelmente, pela baixo número de pesquisadores na área e dificuldades ao acesso a periódicos pela internet.  A segunda fase, aconteceu a partir de 2005, onde pode ser observado um rápido e intenso incremento das publicações, provavelmente, por causa da tendência natural de desenvolvimento científico e tecnológico ocorrido, além dos investimentos do governo Federal por conta do REUNI (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), que dobrou o número de docentes no ensino superior (http://reuni.mec.gov.br/),  e promoveu reflexos positivos na pesquisa.

O maior número de publicações sobre o tema docência no ensino superior foi observado na subárea das ciências sociais, isso está relacionado ao fato ao fato das ciências sociais estudarem os aspectos da vida social de indivíduos e grupos sociais, bem como os aspectos relacionados a produção de conhecimentos e tecnologia para a transformação das relações sociais. Essa afirmação pode ser reforçada pelo fato da maior parte dos artigos terem estudado o comportamento dos docentes frente às dificuldades no ensino e avaliação da aprendizagem, as relações entre docente e discente e, seu desenvolvimento com a comunidade acadêmica e a sociedade.

Figura 1: Número de artigos publicados ao longo do tempo, selecionados
a partir da combinação dos termos "docência" no "ensino superior",
na base Scopus, até  10 de setembro de 2014.

Figura 2: Principais subáreas abordadas pelas publicações, selecionadas
a partir da combinação dos termos "docência" e "ensino superior",
na base Scopus, até 10 de setembro de 2014.

 

As pesquisas foram publicadas em 81 periódicos diferentes, sendo que os periódicos que mais publicaram informações científicas (28% das pesquisas) sobre a docência no ensino superior foram Interface (16 publicações), Química Nova (11 publicações), Ciência e Saúde Coletiva e Ensaio (9 publicações cada) e Educação e Pesquisa (8 publicações), respectivamente (Figura 3). Dentre esses periódicos, o que apresentou maior fator de impacto foi Ciência e Saúde Coletiva (0,44) e o melhor avaliado pela CAPES foram Ensaio e Educação e Pesquisa (A1) na área de Educação, Ciência e Saúde Coletiva (A2) na área de Ensino e todas as mencionadas na área Interdisciplinar (A2), com exceção da Interface (Tabela 1).

O fator de impacto é utilizado como indicador para identificar os periódicos de maior prestígio e visibilidade, no entanto, a revista que mais publicou sobre docência no ensino superior esta abaixo da média para a subárea das Ciências Sociais, que é de 0,60 (Strehl, 2005). Um dos fatores que influenciam no valor do fator de impacto é o idioma em que o periódico mais publica, considerando que 90% dos artigos foram publicados  em português, a abrangência fica limitada.  Este fato pode ser reforçado pelo valor do fator de impacto da Education Policy Analysis Archives, periódico que publica exclusivamente na língua inglesa, que se destaca por estar acima da média para a subárea.

Diferentemente do fator de impacto, o sistema de qualificação de periódicos Qualis/Capes é baseada em informações para atender as necessidades específicas do sistema de avaliação e tem como ponto de partida, indicações fornecidas pelos programas de pós-graduação, através de seus docentes, que no momento da implantação do sistema indicaram as revistas mais importantes para cada área (Pinto e Fausto, 2012). Por este motivo, um mesmo periódico pode receber avaliações diferentes de acordo com a área de avaliação, desta maneira também é utilizado como norteador na escolha do periódico, pelo pesquisador.

Figura 3: Periódicos que mais publicaram artigos, selecionados a partir da combinação
dos termos "docência" e "ensino superior", na base Scopus, até 10 de setembro de 2014.

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Tabela 1: Avaliação dos periódicos que mais publicaram artigos, selecionados
a partir da combinação dos termos "docência" e "ensino superior",  na  base Scopus, até 10 de setembro de 2014.

*NC=não classificada

Foi observado que o número de autores por artigo não foi alterado significativamente ao longo dos anos (R2=0,01; p=0,18; Figura 4a). Diferentemente do número de citações por artigo, que apresentou redução significativa ao longo do tempo (R2=0,15; p<0,001; Figura 4b). Em geral, a maioria dos artigos não alcançou mais do que 15 citações (Figura 4b). Da mesma maneira, que a frequência de citação dos artigos é influenciada significativamente pelo ano de sua publicação (R2=0,01; p=0,76; Figura 5), porém, não pelo número de citações (R2=0,63; p=0,001; Figura 5). Isso demonstra que artigos mais antigos têm maior possibilidade de serem citados que os mais recentes, mas não, necessariamente, terão maior número de citações. A pesquisa que teve maior número de citações foi desenvolvida por De Andrade et al. (2003; 31 citações), seguida das pesquisas elaboradas por Teixeira-Dias et al. (2005; 21 citações) e Jabbour (2010; 15 citações).

Desta maneira, observou-se que o número de coautorias praticamente não se alterou ao longo dos anos, mostrando um descompasso com a tendência apresentadas por artigos internacionais (Jappe, 2007). Este fato pode estar associado ao baixo número de artigos em periódicos com fator de impacto acima de 0,60 e ao baixo número de citações, já que o aumento no número de colaboradores tende  melhorar a qualidade do artigo, o aumento do número de citações e ainda possibilita a publicação do artigo em revistas com maior fator de impacto. Além disso, o número de citações varia inversamente ao ano de sua publicação, que vai de encontro ao registrado por  Garfield (1972), que observou que um artigo é mais citado dois anos após sua publicação e que 25% das referências correspondem a trabalhos publicados nos três últimos anos.

Figura 4: Número de pesquisadores (a) e citação (b) por artigo ao longo tempo,
selecionados a partir da combinação dos termos "docência" e "ensino superior",  na  base Scopus, até 10 de setembro de 2014.

Figura 5: Frequência de artigos citados e número total de citações
acumuladas em relação ao ano de sua publicação, de artigos selecionados
a partir da combinação dos termos "docência" e "ensino superior",  na  base Scopus, até 10 de setembro de 2014.

Um total de 143 instituições desenvolveram pesquisas sobre a docência no ensino superior, porém, as universidades que mais produziram informações científicas foram a Universidade de São Paulo (USP) com 42 pesquisadores, seguida pela Universidade de Santa Catariana (UFSC) com 19 e a Universidade de Campinas (UNICAMP) com 18 pesquisadores (Figura 6a). Juntas, estas instituições foram responsáveis por manterem 25% dos pesquisadores com publicações nesta área. Sendo que, as duas primeiras são às instituições de vínculos dos pesquisadores F.R.S. Ramos, M. Finkler, J.C. Caetano e S.L. Queiros, pesquisadores que mais publicaram artigos sobre a docência no ensino superior (Figura 6b). Com isso, foi constatado também que a região sudeste concentrou 43% dos pesquisadores que publicaram artigos sobre a docência no ensino superior, seguidos pela região Sul com 22% e Nordeste com 18% (Figura 7). Porém, foi demonstrada a baixa colaboração de pesquisadores de instituições estabelecidas nas regiões Centro-Oeste (5%), Norte (0%) e Internacionais (8%).

Os resultados encontrados demonstraram que as pesquisas sobre a docência no ensino superior estão concentradas nas instituições da região Sul e Sudeste do país, onde se concentra os estados mais desenvolvidos que, por consequência, realiza maiores investimentos financeiros em pesquisas, além disso, a desigualdade na produtividade científica entre instituições de uma mesma região é reforçada pela cultura acadêmica de publicar a maioria de suas pesquisas em periódicos que não são indexados nas principais bases de dados bibliográficos internacionais.

Figura 6: Número de autores por instituição (a) e publicação por autor (b)
que mais publicaram artigos, selecionados a partir da combinação dos termos "docência"
e "ensino superior",  na  base Scopus, até 10 de setembro de 2014.

Figura 7: Distribuição geográfica das publicações, selecionadas a partir da combinação
dos termos "docência" e "ensino superior",  na  base Scopus, até 10 de setembro de 2014.

4. Referências

CAMARGO, J. C. Padrões ecológicos da comunidade de protozoários flagelados (Protista: Mastigophora) no plâncton de um sistema rio-planície de inundação tropical. 2013. 118f. Tese (Doutorado em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais) - Núcleo de Pesquisas em Limnologia Ictiologia e Aquicultura, Universidade Estadual de Maringá, 2014.

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1. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – Universidade Federal de Mato Grosso – Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. ibraimfantin@gmail.com
2. Superintendência de Educação Ambiental – Secretaria de Estado e Meio Ambiente – Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. janiellycamargo@hotmail.com

Vol. 36 (Nº 06) Año 2015
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