Espacios. Vol. 35 (Nº 12) Año 2014. Pág. 2

Tecnologia social e políticas públicas para o desenvolvimento: ideias para serem discutidas na Academia

Technology social and public policy development: ideas to be discussed in the Academy

Louise de Lira Roedel BOTELHO 1; Artur Filipe Ewald WUERGES 2; Eliseu Champe da SILVA 3; Cleomar MINETTO 4; Marcelo MACEDO 5; Evelin Priscila TRINDADE 6.

Recibido: 29/07/14 • Aprobado: 12/10/14


Contenido

Introdução

Tecnologia e inovação

Tecnologia social e inovação social

Experiências de tecnologia social e economia solidária

A experiência paraibana de fundos rotativos

Educação constextualizada e tecnologia social: A experiência da casa familiar rural de Igrapiúna (BA)

Agricultura urbana: Analise do programa horta comunitária do Município de Maringá (PR)

Estudo e divulgação de um aquecedor solar de água com materiais reutilizávies em Cerro Largo (RS)

Tecnologia social e as pesquisa na Academia: o surgimento das ITCPs

Tecnologia social e as politicas públicas: O papel dos órgãos de fomento

Considerações finais

Referências


RESUMO:
A tecnologia social se apresenta como fator inovador na construção do desenvolvimento do país. Este estudo objetiva analisar a relação entre tecnologia social e políticas públicas e como essa interação contribui para o fomento do desenvolvimento regional e local. Como método de pesquisa, foi adotado o processo de revisão da bibliográfica da literatura. A construção da proposta metodológica se dá pela análise das diferentes definições sobre tecnologia social e das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento. Espera-se que estudo contribua com a compreensão das tecnologias sociais, como também, a visualização das políticas públicas como instrumento do desenvolvimento regional e local.
Palavras-chave: Tecnologia Social. Inovação Social. Políticas Públicas. Desenvolvimento.

ABSTRACT:
The social technology presents itself as an innovative factor in building the development of the country. This study aims to analyze the relationship between technology and social policies and how this interaction contributes to the promotion of regional and local development. As a research method, we adopted the process of reviewing the literature of literature. The construction of the proposed methodology is given by the analysis of different definitions of social technology and public developing policy. It is hoped that the study contributes to the understanding of social technologies, but also the view of public policy as an instrument of regional and local development.
Keywords: Social Technology. Social Innovation. Public Policy. Development.

Introdução

 A ideia da tecnologia social, por sua própria natureza, trás em seu âmago e elemento constitutivo, o processo de empoderamento dos indivíduos e a participação dos mesmos na concepção, gênese e gestão dos instrumentos que possibilitam alavancar seus status sócio-econômicos, angariando mudanças em suas condições e qualidade de vida. 

Na última década, no Brasil, a discussão sobre tecnologia social e sua aplicabilidade ganharam corpo e destaque científico na academia e na formulação de políticas públicas, que visam o desenvolvimento local e a melhora da qualidade de vida dos usuários (atores envolvidos no processo).

O que na década de noventa, havia pouco interesse, destaque e uso do conceito, vem se fortalecendo pouco a pouco. Atualmente o termo "Tecnologia social" está intrinsecamente ligado a um conjunto de soluções, ferramentas ou metodologias que possibilitam resposta a inclusão socioeconômica de um grupo de atores sociais.   

A tecnologia social pode ser vista a partir de vários olhares e experiências. Uma das mais relevantes é a própria resposta que a sociedade delimita. Desta forma, a sociedade civil adotou nos últimos anos, a tecnologia social por intermédio da proposta da economia solidária. A economia solidária neste trabalho pode ser entendida como: "As ações de economia solidária estão voltadas para ações de inclusão social. Tratando com indivíduos ou apresentando propostas a indivíduos que se encontram a margem da sociedade. Desta forma, a economia solidária visa obter através de seu uso, uma mudança socioeconômica nos envolvidos".

A tecnologia social, também vem ganhando status de pesquisa nas universidades e centros de ensino. Nas universidades, a atuação das tecnologias sociais estão alocadas em grupos de pesquisa, linhas de pesquisa e também na atuação das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs), pois estas trabalham com o desenvolvimento de tecnologias voltadas para a cooperação, auto-gestão e desenvolvimento solidários de seus empreendimentos.

Quanto às políticas públicas, no Brasil, existem vários programas e órgãos públicos, voltados para a construção de políticas que visam o trabalho com a tecnologia social, como uma resposta as demandas da sociedade e como uma resposta e olhar para aqueles grupos sociais historicamente excluídos do processo de desenvolvimento socioeconômico do Brasil.

A tecnologia social como um conceito de trabalho ainda enfrenta uma longa caminhada no Brasil, embora o cenário nacional seja favorável para o desenvolvimento de estudos e projetos nesse tema, ainda muito pouco foi realizado e o cenário nacional desponta como um grande desafio para pesquisadores, estudiosos e políticos. O Brasil ainda se apresenta como o grande enigma da esfinge "decifra-me ou te devoro" para a tecnologia social.

A partir dessa discussão, este artigo tem por objetivo compreender o uso e aplicabilidade da tecnologia social nas políticas públicas como uma estratégia para o desenvolvimento. Como método de pesquisa, foi adotado o processo de revisão da bibliográfica da literatura.

Desta forma, serão apresentados: conceitos de tecnologia social e inovação, experiências de tecnologia social e economia solidaria, casos de tecnologia social, trabalhos de extensão na academia e o papel dos órgãos de fomento.

Tecnologia e inovação

O termo tecnologia embora pareça ser atual, necessita de uma análise que compreenda, desde sua origem até os recentes desdobramentos da atualidade. Com isso, o resgate de alguns momentos históricos da evolução tecnológica fornece uma base para o entendimento da atual complexidade envolvida sobre o termo.

Outro motivo para a realização de uma abordagem histórica é o fato de que as diversas concepções divergentes que hoje são encontradas sobre o que venha a ser tecnologia podem ser resultado do simples desconhecimento da evolução sócio-cultural do homem (VALDÉS et al, 2002)

Em termos etimológicos, a palavra tecnologia significa a razão de saber fazer (RODRIGUES, 2001). Também, defini-se como o estudo das modificações, do agir e transformar. Devido à pluralidade de conceitos sobre tecnologia, torna-se difícil a definição concreta sobre o termo e isso se explica, pelo fato das diferentes interpretações sobre o conceito, que se relaciona com diversos contextos sociais (GAMA, 1987).

A tecnologia relaciona-se, dentro do contexto de evolução histórica, com os sistemas de trabalho e produção vigentes em determinadas épocas. Processo pelo qual o ser humano desempenhava técnicas de trabalhos visando a diminuição do esforço e a modificação do espaço ao seu redor, fornecendo melhorias em relação à qualidade de vida (VERASZTO, 2008).

A atual concepção de tecnologia se limita a apresentação de equipamentos considerados sofisticados e que na maioria das vezes, necessitam de altos investimentos, contudo sua definição ultrapassa a visão do senso comum e integra o entendimento do objetivo da tecnologia, a melhoria do contexto social (BENAKOUCHE, 1999).

A diversidade das formas de tecnologias carece de estudos mais aprofundados e que ultrapassem as inovações tecnológicas, fornecendo subsídio para a identificação do impacto social que a tecnologia proporciona a sociedade (GILBERT, 1995).

Fica evidente a percepção que a evolução da tecnologia contribui com melhorias em todos os âmbitos sociais, desse modo, relacionando com a ideia de Acevedo (1998) que diz que a tecnologia é inerente ao homem, pois desde sua origem, o indivíduo trabalha para o desenvolvimento de técnicas capazes de transformar o local ao seu redor, ganhando espaços mais funcionais e com qualidade.

Por isso, o conhecimento sobre a tecnologia engloba o estudo de diversos processos de transformação da humanidade, visando à modificação da natureza para melhorar as condições de vida do seu grupo (VERASZTO, 2004).

Desse modo, o estudo sobre as tecnologias e suas diferentes linhas de atuação configura-se como uma fonte de conhecimentos próprios, com a adequação constante de diferentes saberes de forma dinâmica (GARCÍA, 2000).

Como visto as tecnologias abrangem o estudo das transformações sociais em busca de melhorias de vida, e no escopo dos diferentes impactos refletidos na sociedade, surge um fator de relevância para a construção do desenvolvimento social, a inovação.

A inovação se relaciona com os avanços tecnológicos e pode ser associada com a criação de conhecimentos que forneçam a elaboração de benefícios em diversos âmbitos (social, econômico e político) (CONCEIÇÃO, 2000).

Segundo Niosi et. al. (1993) a inovação integra a constante evolução das tecnologias, no sentido da formulação de novos métodos e formas organizacionais integrando as recentes tecnologias existentes em novos campos, visando a descoberta de fontes de inovação e a criação de diferentes oportunidades.

Tecnologia social e inovação social

A tecnologia social se apresenta como uma ou mais estratégias de ações elaboradas com a finalidade da interação com a sociedade e apropriada às necessidades sociais (INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIAL, 2004).

Apresenta-se como um tema contemporâneo e remete ao desenvolvimento socioeconômico, e se baseia na dispersão de soluções para problemas sociais como falta de alimentação, educação, energia, habitação, renda, saúde e meio ambiente, entre outras (RODRIGUES, 2008).

As tecnologias sociais podem surgir tanto das iniciativas de uma comunidade quanto em iniciativas dentro do ambiente acadêmico. É possível, ainda, a aliança entre o saber popular e o conhecimento científico. O importante é que os resultados sejam eficazes e o método possa ser reproduzido por outras pessoas, de modo a se multiplicar e melhorar a qualidade de vida das populações.

Segundo Horta (2006) na universidade, a questão que se coloca é a de como desenvolver uma tecnologia que tenha a capacidade de promoção da inclusão social e de tornar sustentáveis as organizações autogestionárias que ela deve implementar.

Diante da pluralidade de conceitos, foram agrupados em três grupos fundamentais, que de certo modo, auxiliaram no entendimento das diferentes frentes envolvidas no processo de construção da tecnologia. Com base nos estudos do ITS (Instituto de Tecnologia Social) (2004) as categorias de representação da tecnologia sociais, se denominam: princípios, parâmetros e implicações.

No que diz respeito aos princípios, são ressaltados o processo de aprendizagem desenvolvido pelas tecnologias sociais, como também, a ação participação da sociedade nas transformações sociais, levando em consideração a compreensão da realidade e por meio de um sistema integrado de reconhecimento das identidades locais. Os parâmetros de tecnologia social contribuem para a análise das propostas de ações sociais, tais como: fundamento da tecnologia social, tomada de decisão, construção de conhecimento e sustentabilidade.

No que diz respeito aos fundamentos da tecnologia social, todo o processo de desenvolvimento se concretiza em experiências vivenciadas e identificadas pela população, corroborando com a idéia de Pedreira (2004), que afirma que tecnologias sociais são todas as técnicas e procedimentos que se fundamentam nas necessidades sociais, com a finalidade de solução de problemas sociais.

Em se tratando da tomada de decisão, as tecnologias sociais são mecanismos que se configuram através da democracia de ações, maneira pela qual, a população possui participação na redefinição de estratégias. Fica evidente, a participação da sociedade no processo decisório, como afirma Baumgarten (2006) que as tecnologias sociais consideram a participação coletiva de organização, desenvolvimento e implantação das ações que visam à resposta a determinadas demandas sociais.

No processo da construção do conhecimento, ocorre a produção de novos conhecimentos a partir das práticas vivenciadas no processo da tomada de decisões. O papel educativo das tecnologias sociais se reflete no campo do desenvolvimento econômico e regional. Segundo Carvalho (2009) o processo de compartilhamento de conhecimentos fornece caráter estimulante a construção de conhecimentos, através da formação de uma metodologia educativa que desenvolva as capacidades de criatividade inovação, garantindo o senso crítico a percepção e compreensão da realidade.

Por último o conceito de sustentabilidade também se relaciona com as tecnologias sociais, e isso pode ser explicado pelo fato da valorização do desenvolvimento da sustentabilidade econômica, social e ambiental.

Ainda dentro da tecnologia social, Tenório (1998) diz que as tecnologias sociais se contrapõem ao estilo de gerenciamento vigente (gerencialismo) e ganham novo dimensionamento no sentido de apresentar, a administração de forma mais participativa, fornecendo o diálogo com a população na busca por soluções de demandas das diferentes áreas sociais.

O autor diz mais, afirmando que a tecnologia social encontra-se limitada ao estudo de políticas sociais, organizações do terceiro setor, até mesmo, no combate à pobreza e da degradação ambiental, deixando em segundo plano a discussão de uma gestão democrática e participativa, com a finalidade do desenvolvimento de políticas públicas de caráter produtivo (TENÓRIO, 2005). Com isso, tornam-se escassos as políticas públicas que trabalham no fomento das tecnologias sociais no contexto nacional.

Miranda (2002) afirma que se faz necessário uma análise crítica sobre a tecnologia social, a fim de redefinir sua função social, através da interpretação de sua construção histórica na busca por o redimensionamento do papel da sociedade na elaboração e fomento das políticas públicas.

Desta forma, pode-se perceber que a tecnologia social, da mesma forma que a gestão social, também parte de alguns conceitos básicos. Dentre eles, citam-se o compromisso com a transformação social; a criação de um espaço de descoberta e escuta de demandas e necessidades sociais; sustentabilidade sócio-ambiental e econômica; processo pedagógico para todos os envolvidos; diálogo entre diferentes saberes; processos participativos de planejamento, acompanhamento e avaliação; a construção cidadã do processo democrático.

A tecnologia social se apresenta como ferramenta inovadora nas transformações da sociedade. A participação das universidades no fomento das tecnologias sociais é de suma importância, pois, sua contribuição se dá ao fato do papel educativo prestado aos indivíduos (SINGER, 2002).

Devido à inerente relação das causas sociais, o conceito de tecnologia social se relaciona com a responsabilidade social. A responsabilidade social se configura como termo de constantes mudanças, devido às transformações sociais desencadeadas no decorrer da história das sociedades (Davis, 1979).

Para, Bowen (1957) afirma que responsabilidade social pode ser entendida como a manutenção das obrigações perante a sociedade, desse modo, relacionando com as ideais de Zenisek (1979) que diz que a responsabilidade social parte da concepção de um agir fundamentado na ética para com os outros, fornecendo a interação entre o modelo gerencial e a sociedade.

Experiências de tecnologia social e economia solidária

A tecnologia social trabalha com a criação de cenários que oferecem novas possiblidades no que diz respeito ao desenvolvimento econômico e social. Como citado anteriormente, as tecnologias sociais focam na potencialização de oportunidades do fomento do desenvolvimento econômico, visando o combate a problemas que assolam a sociedade, como exemplo: pobreza e geração de emprego.

A tecnologia social não pode ser considerada um fator isolado, ou seja, necessita de apoio sociotécnico. Desse modo, a tecnologia social encontra espaço para seu desenvolvimento dentro da chamada economia solidária.

A economia solidária se apresenta como um novo modelo econômico, que caracteriza pela presença de diferentes fatores que diferem da linha tradicional do sistema econômico vigente.

Enquanto o sistema capitalista visa a obtenção de lucro como instrumento de atuação, a economia solidária visa o alcance do bem estar da sociedade, por meio de diferentes atividades econômicas (PEDRINI e OLIVEIRA, 2007).

O surgimento da economia solidária se relaciona com os movimentos sociais vigentes em determinados contextos históricos, por isso, se apresenta como um sistema econômico organizado a partir das demandas sociais e que possui como foco de atuação, a estrutura de políticas públicas que estimulem o crescimento econômico, contudo, que o desenvolvimento da economia se dê de forma coletiva (SINGER, 2000).

Dentro das finalidades da economia solidária, destaca-se seu papel inovador na construção de um ambiente propício para o desenvolvimento de organizações de cunho social, pautadas no combate à exclusão social, que por vezes, tem sua origem relacionada a outros fatores, como exemplo: falta de emprego, analfabetismo, má distribuição de renda, entre outros (SINGER, 2004).

A relação entre tecnologia social e economia solidária, se dá pelo fato de ambas possuírem estreita relação com a sociedade. Os termos são definidos através de sua construção histórica, juntamente, com a evolução dos sistemas e estilos de vida da sociedade.

Tal vínculo, pode ser explicado através da visualização da interdependências de ambas os termos. Num contexto organizacional, a economia solidária se configura como conjunto de fundamentos que permeiam determinada organização ou empreendimento, já a tecnologia social constitui-se como o plano de atuação dessas organizações dentro do campo da economia solidária (SILVEIRA, 2006).

O autor ainda afirma, que dessa maneira as organizações de economia solidária podem ser consideradas, em sua linha de atuação, como exemplos de tecnologia social. A existência do elo entre ambas as definições, se explica pelo fato, da construção do desenvolvimento democrático, como ponto de referência.

No campo das tecnologias sociais, destacam algumas experiências envolvendo os fundamentos da economia solidário dentro do contexto nacional.  O texto a seguir demonstra algumas:

A experiência Paraibana de fundos rotativos

O presente relato traz experiência de Paraíba na localidade de Gameleira, existente a 11 anos, no intuito de apresentar a criação e desenvolvimento dos Fundos Rotativos Solidários (FRS), projeto pelo qual, difere-se das demais formas de poupança pois baseia-se nos princípios da autogestão, da solidariedade e da cooperação. São criados para situações futuras ou para quem necessita mais, sendo que para a obtenção do benefício são avaliados as demandas em grupo e tomado a decisão de forma coletiva.

A linha de atuação das experiências aborda a construção de cisternas, através de visitas que serviram de instrumento de reconhecimento, por parte da equipe do projeto, das demandas das comunidades. O grupo era formado por 30 pessoas que de forma coletiva colaboravam com cerca de 10 a 20 reais mensais na construção de cisternas que na época custavam em torno de 600 reais. No período de seis meses foram construídas as 30 cisternas.

Em Gameleira se percebe a consolidação na FRS, porém, a existência de determinados problemas como a falta de políticas públicas para a resolução de problemas da região dificultam o andamento do projeto. Nas experiências visitadas, observa-se as iniciativas que ajudam no desenvolvimento da autonomia das comunidades. Fato que se explica pela divisão social do trabalho e da gestão da tecnologia impactando de forma positiva no desenvolvimento coletivo dos indivíduos e nas melhorias da qualidade de vida da comunidade, como exemplo: a captação de água.

Educação constextualizada e tecnologia social: A experiência da casa familiar rural de Igrapiúna (BA)

A experiência da região do Baixo Sul da Bahia realizado em Igrapiúna aonde surgiu a Casa Familiar Rural na forma de jovens para empreendedores rurais. Se destaca que nesta região, a maior parte da população é de baixa renda, assim sendo, a Casa tem como objetivo a oferta de um curso de formação de jovens empreendedores rurais, no intuito de promover aos jovens da zona rural conhecimentos úteis e aplicáveis à sua realidade. A realização de cursos de capacitação se faz necessária para o jovens dessa região, por meio de, projetos educativos e produtivos, como forma de aprender em teoria e aplicar na prática.

A experiência da constituição da Casas Familiares Rurais (CRF), presente para as áreas rurais impulsiona os alunos visitar as propriedades na busca da identificação dos problemas e assim também, a procura por melhores técnicas para a resolução de problemas da comunidade. Esses métodos são bem aceitos pelos integrantes da zona rural proporcionando assim aos itens identificados uma ampliação para o crescimento da região por métodos fundamentados no cooperativismo e na economia solidária.

A utilização desses recursos por meio de tecnologias que expressem seus valores e princípios, respeitem a cultura local, não degradem o meio ambiente, valorizem os conhecimentos, sejam de baixo custo e fácil manuseio. Desse modo, ajudando na resolução de diferentes desafios, como por exemplo: o aumento na produção e geração de renda de forma a explorar as potencialidades locais.

Agricultura urbana: Analise do programa horta comunitária do Município de Maringá (PR)

Este trabalho realizado em Maringá no Paraná tem por objetivo desenvolver as práticas da agricultura urbana e periurbana. Para a implementação da tecnologia social, trabalhou-se com a construção de políticas públicas para a erradicação da pobreza. A agricultura urbana e periurbana (AUP), incentiva as práticas de produção de alimentos saudáveis, com intuito do fornecimento aos espaços urbanos, como o caso do município de Maringá a implantação de hortas e pomares comunitárias.

A experiência desenvolvida pela prefeitura de Maringá, visando a sustentabilidade na implantação de uma horta e pomares comunitários, promove a troca de hábitos alimentares ofertados pelos participantes da horta. O projeto originou-se pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), pelas experiências da AUP, na produção de legumes e verduras na agricultura orgânica, ou seja, sem o uso de inseticidas.

Para a construção da horta realizou-se visitas em cidades com experiências nesse trabalho. A cidade de Maringá obteve um custo mensal de 550 reais para manter a horta anualmente. Esse valor é arredado por meio de vendas, para o suprimento de escolas, creches e hospitais públicos, mantidos pelo Estado. Ocorre também a venda ou troca de produtos com a comunidade, isso demonstra vantagens na lucratividade, tendo em vista, a construção de uma horta junto ao espaço urbano.

Estudo e divulgação de um aquecedor solar de água com materiais reutilizávies em Cerro Largo (RS)

O trabalho realizado de um aquecedor de água com matérias reutilizáveis de baixo custo no Rio Grande do Sul na cidade de Cerro Largo tem como objetivo promover a maior qualidade de vida na comunidade socioambiental escolar e para os moradores com poucos recursos financeiros da região, incentivando a economia da energia elétrica pelo uso de energias renováveis disponibilizados pelo estudo.

O projeto visa diminuir os gastos de energia do chuveiro elétrico, sendo este um dos maiores causadores de consumo de energia elétrica que está presente nas residências familiares. Assim, o sistema de aquecimento pelo aquecimento solar necessita da utilização de garrafas pet, com embalagens de Tetra Pak pintadas de preto juntadas por canos de pvc. A circulação da água é feita por convecção natural (termossifão), sendo este, é um dos princípios do funcionamento para que aconteça o aquecimento da água.

Por fim o sistema tem como fonte principal para sua construção matérias reutilizáveis, como garrafas pet e Tetra Pak. Não são necessários mão de obra qualificado para construção do projeto de aquecimento solar. A longa vida dos produtos são de suma importância na realização do sistema, assim também a necessidade de uma ação preventiva na redução de resíduos pela produção e consumo, passando por uma reciclagem das embalagens. Sua capacidade de renovação é quase infinita considera em escala de tempo humano.

Tecnologia social e as pesquisa na Academia: o surgimento das ITCPs

A forma tradicional das tecnologias atua na ampliação de sua rede de atuação, visando melhorias nos fatores relacionados as mercado econômico, como por exemplo: competitividade, controle da demanda, entre outros, porém as tecnologias sociais trabalham focadas no desenvolvimento de forma sustentável (FERREIRA, 2012).

As tecnologias sociais se desenvolvem através de atividades que estimulam a sustentabilidade. A sustentabilidade, conforme Barbieri (2007) possui várias definições, no senso comum, trata dos processos produtivos que possuem consciência da degradação ambiental e da criação de recursos capazes de diminuir o impacto negativo sobre a natureza. Por outro lado, a sustentabilidade está ligada a criação de negócios que obtenham viabilidade econômica, no intuito de fornecer competitividade e garantir a continuidade da empresa ou organização no contexto econômico inserido.

A sustentabilidade possui ainda, uma definição no que diz respeito, as melhorias da qualidade de vida da sociedade em geral (BARBIERI, 2007). Nisso, as universidades possuem papel relevante na construção das atividades de fomento ao desenvolvimento social, através do instrumento de compartilhamento do conhecimento.

Nesse contexto, Clark (2003) argumenta sobre o aumento na compreensão do processo de transferência de tecnologia, e ainda diz que as instituições que detém esses conhecimentos tecnológicos, as universidades, se apresentam como ferramenta de disseminação das tecnologias, através de experiências que visam a interação com a sociedade, facilitando a qualificação de indivíduos e empresas em setores de inovação social, lhes garantindo vantagens competitivas no mercado. 

Diante disso, as universidades devem trabalhar no desenvolvimento de atividades que estimulam diferentes transformações sociais, o que implica num redirecionamento na aplicação dos conhecimentos (UNESCO, 2005).

Dentro do processo de construção dos conhecimentos tecnológicos, surgem as denominadas Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, as ITCPs.

As ITCPS trabalham no sentido do fortalecimento de empreendimentos, em sua maioria de economia solidária, que carecem de capacitação estrutural e gerencial, estimulando a geração de trabalho e renda (TANAKA, 2010).

As incubadoras tecnológicas têm sua atuação ligada às universidades do setor privado ou público e podem ser definidas como da busca por alternativas de sobrevivência por parte da população mais carente, através, do assessoramento de empreendimentos ou organizações de cunho social, como por exemplo: cooperativas populares, associações de produtores e consumidores, entre outros (CHIARELLO, 2000).

As incubadoras se apresentam como espaço para a construção do conhecimento, como instrumento de desenvolvimento tecnológico e social (ANPROTEC, 2012). No que diz respeito à área tecnológica, as incubadoras demonstram potencial inovador na construção de um ambiente fundamentado na inovação, mediante mecanismos de capacitação em tecnologia, empresas e mercado.

Sendo assim, as incubadoras, juntamente com as universidades, atuam no desenvolvimento das tecnologias sociais através do processo de construção de conhecimentos, que implicam em mudanças nos setores de gestão e trabalho, estabelecendo um novo parâmetro dos interesses sociais (DAGNINO, BRANDÃO, MORAES, 2004).

Tecnologia social e as politicas públicas: O papel dos órgãos de fomento

O papel de repensar a atuação do Estado frente as demandas sociais se apresenta como ponto de grande relevância na atualidade. A estruturação da intervenção social dentro da formulação e aplicação de públicas se configura como desafio nas sociedades contemporâneas (LIPIETZ, 1991).

O equilíbrio das forças sociais dentro do contexto governamental constitui como uma nova possibilidade de ações de caráter político, que contenham em sua linha de atuação a participação da sociedade (ANDION, 2005).

O fortalecimento da participação da sociedade dentro das políticas públicas considera a economia solidária, como fator com potencial inovador nas ações do Estado.

As organizações que trabalham pautadas na economia solidária, focam em atividades de fomento das áreas sociais (ANDION, 2005). Estas organizações trabalham em diferentes setores da sociedade: educação, saúde, trabalho, defesas de direitos, entre outros.

As iniciativas de atuação social, podem apresentar-se de diferentes formas, devido ao seu surgimento, como também, ao fato da dinâmica estrutural em que se encontra estruturada determinada sociedade. Porém, todas possuem objetivo em comum, a promoção do interesse social (DOUCET; FAVREAU, 1991).

Considerações finais

O cenário mundial apresenta-se cada vez mais aberto ao desenvolvimento de práticas inovadoras e que diferem do modelo socioeconômico vigente. A presente fragilidade do modelo capitalista demonstra o surgimento de inúmeras oportunidades da adoção de métodos que trabalham com o desenvolvimento sustentável.

A trajetória econômica atual aponta alguns pontos que carecem de reformulação estratégica (MACIEL; FERNANDES, 2011). Os fatores de discussão no cenário contemporâneo destacam as questões de interesse social como ponto central do debate, pois as mesmas exercem papel de influência na dimensão cotidiana da população, como por exemplo: trabalho, educação, distribuição de renda, divisão de trabalho, entre outros (IAMAMOTO, 2007).

Dentro desse contexto, as tecnologias sociais se configuram como instrumento de estímulo as práticas inovadoras que visam a melhorias da qualidade de vida da sociedade.

No Brasil, as tecnologias sociais desempenham papel de fomento ao chamado desenvolvimento regional (MACIEL; FERNANDES, 2011). O país, como historicamente se conhece, se origina de um sistema governamental desigual, no diz respeito, a redistribuição de renda e oportunidades a população. Desse modo, o desenvolvimento tecnológico, também carece de investimentos em sua área de abrangência social, pois o acesso as tecnologias ainda encontram-se limitadas a uma parcela da população.

Nesse sentido, as tecnologias sociais são determinantes para a reformulação dos objetivos das representações governamentais, no intuito da elaboração de mecanismos que permitam a acessibilidade da população a tecnologias inovadoras que trabalham na resposta a diversas demandas sociais.

Percebe que as tecnologias sociais atuam por meio de diferentes atividades para o desenvolvimento regional, contudo, se destaca o potencial da inovação tecnológica na área da formação do conhecimento.

Dentro desse campo, a existência de organizações vinculadas a instituições de ensino superior evidencia o papel educativo das tecnologias públicas, pois, a iniciativa de compartilhamento de experiências com a população caracteriza de um novo modelo de produção científica e a reafirma a aplicabilidade das tecnologias em prol das demandas sociais.

Nesta perspectiva, as tecnologias sociais, juntamente com as universidades, surgem no contexto nacional como ferramentas de aperfeiçoamento tecnológico e representam transformações nas políticas públicas, no sentido de agregar capacidade criativa e organizada a partir das necessidades sociais (MACIEL, FERNANDES, 20011).

Segundo ITCS (2005), o desenvolvimento proporcionado pelas tecnologias sociais, pode ser explicado, pelo fato de tratar-se de um redescobrimento das atuações do Estado, oriundo de um processo contínuo de mudanças na realidade social.

O estudo demonstra que objetivo das tecnologias sociais fundamenta-se na difusão das atividades de fomento a geração de renda, por meio da maior acessibilidade ao conhecimento e a valorização do trabalho, tudo isso, contribuindo com a sustentabilidade.

A discussão sobre a relação tecnologia, inovação se torna complexa (ITCS, 2005).  Por isso, destaca-se a necessidade do aprofundamento do estudo sobre os termos, afim da contribuição com elaboração de políticas públicas que tenham a capacidade de construção de alternativas de promoção de melhoramento da qualidade de vida da sociedade.

Sendo assim, as tecnologias sócias são representantes da capacidade da sociedade na busca por respostas as demandas sócias, e configuram como alternativa cada vez mais viável no contexto atual. Porém ainda, necessita de devido redirecionamento estrutural, em outras palavras, um sistema que seja capaz de superar os problemas sociais.

Salienta-se ainda a necessidade de evolução no cenário atual que diz respeito à área de pesquisa e desenvolvimento, pois trata-se de um termo atual, contudo, com potencial promissor na construção de políticas públicas voltadas ao amparo social e assim desenvolvimento sustentável.

Referências

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1. Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Bolsista CNPq Extensão no País (Nível B), Brasil, Professora Adjunto I, email: louisebotelho@gmail.com.
2. Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Brasil, Professor Assistente e pesquisador, Bolsista de Extensão no País CNPq. email: artur.wuerges@uffs.edu.br
3. Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Brasil, Aluno do curso de graduação em Administração – Bolsista do programa de Extensão Proext 2014, email: eliseu.itcees@gmail.com
4. Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Brasil, Aluno do curso de graduação em Administração – Bolsista do programa de Extensão Proext 2014, email: cleomar.itcees@gmail.com
5. Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, professor do departamento de engenharia do conhecimento, email: marcelomacedo@egc.ufsc.br

6. Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, Mestranda do programa de pós-graduação em engenharia e gestão do conhecimento, email: evelin.trindade@gmail.com



Vol. 35 (Nº 12) Año 2014
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