Espacios. Vol. 35 (Nº 11) Año 2014. Pág. 15
Silvio Luiz Rutz DA SILVA 1, Anderson GONÇALVES, Kamila Martins XAVIER, André Maurício BRINATTI, Jeremias Borges DA SILVA.
Recibido: 14/07/14 • Aprobado: 16/08/14
RESUMO: |
ABSTRACT: |
A noção do conceito de energia tem, ao longo da história, ocupado um lugar de destaque entre movimentos antagonistas, notadamente entre energicistas e mecanicistas (na Física); tal como descrito por Valente (1999) que em sua tese de doutoramento relata:
No que diz respeito ao campo educativo ela encontra-se, também, no cerne de uma contradição. Se considerarmos que o pensamento se torna interessante e estimulante, quando começamos a estabelecer ligações, a energia, sendo exemplar a esse respeito, tem um valor educativo importante - através dela, no século XIX, uniram-se diferentes mundos (físico, químico e biológico) culminando mais tarde com a união do mundo em geral; uniu-se o novo e o velho; uniu-se o natural e o artificial. Por tudo isto, encontramos no conceito de energia uma grande variedade de elementos que nos permitem, com sucesso, cultivar o gosto pelas ideias e colocar em cena o poder e os limites do conhecimento científico. Ora, como resultado de alguma investigação, no âmbito da Didáctica (sic), têm emergido propostas de ensino-aprendizagem que apontam para um decréscimo da importância curricular deste conceito, dadas as dificuldades cognitivas associadas a sua aprendizagem.
Foi a partir deste enfoque inicial que se desenvolveu nossa de investigação acerca do contexto em que o termo energia é empregado em uma revista de circulação nacional sem caráter de divulgação e ou de disseminação científica. Para tanto foi escolhida a revista Veja sendo tomado como período de investigação as edições relativas ao período de 2000 a 2010 de modo a caracterizar o contexto das abordagens do tema Energia na revista.
O objetivo de se realizar esta pesquisa foi o de avaliar como o tema energia é abordado em uma revista de circulação nacional identificando o contexto das diferentes formas e maneiras como a energia é mostrada aos leitores. A intensão adjacente é buscar alternativas para abordar de forma contextualizada o tema nas disciplinas de Ciências Naturais e especialmente Física o tema energia nos currículos das disciplinas das ciências naturais especialmente na física.
Entre os inúmeros conceitos da ciência que se espera que todo estudante aprenda, o de Energia é um dos mais difíceis, por várias razões: é usado em diferentes disciplinas escolares, com diferentes significados; embora exista extensa literatura acadêmica, é estudado muito superficialmente; a noção de energia é também amplamente utilizada na linguagem cotidiana na maioria das vezes de maneira equivocadas, confundindo-se com outras ideias, como as de força, movimento e potência; e por fim a aprendizagem do conceito de energia em especial na Física requer conhecimentos específicos de suas várias áreas (Black and Solomon, 1985; Bliss and Ogborn, 1985; Barbosa e Borges, 2004; Borges e Barbosa, 2005; Barbosa e Borges, 2006).
Bunge (2000, apud Barbosa e Borges 2006) faz uma análise dos usos do conceito de energia em livros didáticos e pela mídia, e afirma que se faz um emprego de modo abstrato e pouco informativo do mesmo. Para reforçar isso, as diversas mídias referem-se ao conceito de energia de maneira pouco rigorosa, enfatizando mais as manifestações ou formas de energia, sendo que muitas vezes o fazem de forma incorreta, pois referrem-se a energia quando na realidade o conceito científico envolvido é outro.
Segundo Barbosa e Borges (2006) "na linguagem do dia-a-dia o termo energia adquire significados e propriedades não reconhecidos pela ciência, como nas expressões comuns recarregar as energias ou descarregar as energias negativas , no plural mesmo, isso sem falar em outros sentidos mais esotéricos".
A pesquisa aqui relatada corresponde a uma pesquisa de contexto sobre o termo Energia na revista Veja nas edições dos anos que compreendem o período de 2000 a 2010. Para tanto se utilizou o sítio na internet disponibilizado pela revista para consulta de todas as edições publicadas desde o primeiro número no ano de 1968 e que corresponde ao arquivo digital da revista cujo endereço é: <http://veja.abril.com.br/acervodigital/>. Este sítio de internet oferece mecanismos de busca que permitem uma pesquisa acerca dos conteúdos (Veja, 2011).
Como procedimento metodológico de abordagem dos resultados obtidos empregou-se o discurso do sujeito coletivo - (DSC) na análise das matérias onde se encontrou o termo energia como também naquelas em que se observaram relações ainda que de modo implícito. Adotou-se esta metodologia para assegurar que as diversas opiniões e abordagens pudessem ser expressas de modo a traduzi-las com fidelidade ao contexto em que foram abordadas.
Assim se procedeu, pois segundo Lefevre e Lefevre (2003) em uma pesquisa de análise de discurso ou de representação social a interposição de um sujeito ao mesmo tempo individual e coletivo, deve expressar, verbalmente e diretamente, sem a mediação do metadiscurso do pesquisador, esse sujeito coletivo como um sujeito-que-fala demonstrando a eficácia do DSC para o processamento e expressão das opiniões coletivas.
O Mapa Conceitual foi usado nesta pesquisa para sintetizar e visualizar os dados gerados a partir do método DSC, de modo semelhante ao uso dado por Novak e colaboradores (Novak & Cañas) na criação dessa ferramenta. Isto permitiu uma análise adequada sobre uso do termo ENERGIA, significados e associações, pela revista. Além disso, o Mapa permite propor formas de abordagem do tema usando artigos da revista como organizador prévio.
Revistas de enfoque geral como a revista Veja, objeto da pesquisa em tela, buscam trazer em seu conteúdo tudo que é destaque nos cenários nacional e internacional e assuntos que chamem a atenção dos leitores, numa perspectiva coerente com suas diretrizes editoriais. De modo geral não se observa uma preocupação com termos técnicos, pois este não seria o interesse da maioria de seu público. Nas diversas seções da revista trata-se de temas dos mais diversos, onde se expressam opiniões também diversas.
Além de contemplar esta diversidade existem algumas matérias que tratam de temas com uma abordagem que contempla alguns aspectos de divulgação e difusão científica. Nessas matérias em geral se apresentam gráficos, quadros e iconógrafos que detalham com mais precisão termos técnicos e científicos e que visam uma melhor compreensão por parte do leitor.
Relativamente ao tema proposto por este estudo que é o de identificar o contexto em que a Energia é abordada pela revista observou-se que na grande maioria das vezes esta menção se faz de maneira indireta, pois sempre se procura dar destaque ao que chama mais atenção dos leitores. Um exemplo de tal fato são as inúmeras reportagens sobre combustíveis, que movimentam parte considerável da economia mundial.
Pode-se também citar matérias que tratam de desenvolvimento sustentável, aquecimento global e outras manifestações que tem relação com a economia de energia. Quando se fala em economia de energia refere-se também a sua "produção", abordando a relações entre as grandes potências que buscam uma maior produção a um menor custo.
Outro aspecto abordado diz respeito à ecologia, com destaque para o grande consumo de combustíveis fósseis que em algumas situações são agravantes dos vários desastres naturais ou daqueles resultantes da ação do homem. Outro assunto bastante explorado diz respeito ao aquecimento global e seus reflexos nos modos de utilização dos recursos energéticos. Têm destaque também as matérias que tratam das armas nucleares com enfoque nos impactos possíveis em diversas áreas, e pelo grande potencial de destruição associado.
Encontram-se também matérias que estão relacionadas às questões de saúde e estética com foco sobre o uso de tecnologias tais como os lasers, ou aquelas associadas à alimentação, onde em grande parte não se percebe facilmente que aspectos referentes à energia estão envolvidos, como, por exemplo, que os alimentos fornecem energia para a manutenção da vida. Estas reportagens tratam de dietas e práticas de boa alimentação.
Podemos dizer que a revista Veja, busca manter seus leitores informados acerca de questões relativas à economia mundial, contudo nem sempre é possível se perceber que a maior parte desta economia gira em torno de aspectos relacionados às diferentes formas da energia tais como sua exploração, comercialização, consumo, produção, etc.
A análise por DSC dos conteúdos da revista permitiu a elaboração do mapa conceitual, figura 1, que permite uma visão mais ampla da ocorrência do termo energia e de como o mesmo é abordado e quais as relações entre essas abordagens.
A partir da Figura 1 podemos propor maneiras de introduzir ou aprofundar um tema complexo e de grande amplitude como o conceito de Energia partindo-se do conteúdo de uma revista como a Veja onde é possível se encontrar elementos bastante significativos para serem utilizados no processo de ensino de ciências. Isto é bastante promissor para o ensino de ciências em especial a um tema que mesmo na academia é bastante difícil de ser abordado como a Energia.
Figura 1. – Mapa conceitual da análise DSC do contexto de abordagem
do termo energia na revista Veja no período de 2000 a 2010.
A pesquisa de contexto sobre o termo energia na revista Veja nas edições dos anos que compreendem o período de 2000 a 2010 mostrou diferentes formas e maneiras como a energia é apresentada aos leitores.
A análise do mapa conceitual mostra que é possível encontrar nos textos contidos na revista elementos bastante significativos para serem utilizados no processo de ensino de ciências como a energia.
Desta forma, após a realização desta pesquisa, a intenção adjacente reforçada e motivadora foi o de buscar alternativas para incluir o tema energia nos currículos das disciplinas das ciências naturais especialmente na física a partir de texto de revistas de circulação nacional como os encontrados na revista Veja.
Veja (2011). [Data de consulta em: 20 de maio de 2014]. Disponível em: http://veja.abril.com.br/acervodigital/.
Barbosa, J. P. V.; Borges, A. T. (2004); Modelos iniciais de energia, In: Atas do IV Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, MOREIRA, M. A. (Org.), Bauru, ABRAPEC, 1-12.
Barbosa, J. P. V.; Borges, A. T. (2006); "O entendimento dos estudantes sobre energia no início do ensino médio", Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 23(2), 182-217.
Black, P.; Solomon, J. (1985); Life world and science world pupils ideas about energy. In: Approaching Primary Science, Hooper Education Series, Hodgson, B.; Scanlon, E. (Eds.), Open University Press.
Bliss, J.; Ogborn, J. (1985); "Children s choices of uses of energy", European Journal of Science Education, 7(2), 195-203.
Borges, A. T.; Barbosa, J. P. V. (2005); Aspectos estruturais dos modelos iniciais de energia, In: Atas do V Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Bauru, ABRAPEC.
Bunge, M. (2000); "Energy: Between physics and metaphysics", Science & Education, 9, 457-461.
Lefevre, F.; Lefevre, A. M. C. (2003); O discurso do sujeito coletivo: uma nova abordagem metodológica em pesquisa qualitativa, Caxias do Sul; EDUCS, 138 p.
Novak, J. D.; Cañas A. J. (2006); The Theory Underlying Concept Maps and How to Construct and Use Them, Institute for Human and Machine Cognition, Atualizada: janeiro de 2008. [Data de consulta: maio de 2014]. Disponível em http://cmap.ihmc.us/publications/researchpapers/theorycmaps/theoryunderlyingconceptmaps.htm.
Valente, M. de J. P. (1999); Uma leitura pedagógica da construção histórica do conceito de energia: contributo para uma didáctica crítica; Universidade Nova de Lisboa: Faculdade de Ciências e Tecnologia, 1999, 585f. Tese (Doutorado) Ciências da Educação, Teoria Curricular e Ensino das Ciências, Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Lisboa. Data de consulta em: 20 de maio de 2014. Disponível em: http://hdl.handle.net/10362/332.
1 Departamento de Física Universidade Estadual de Ponta Grossa E-mail de contato: slrutz@gmail.com