Espacios. Vol. 35 (Nº 6) Año 2014. Pág. 21 |
Inovação nos laticínios de pequeno e médio porte na região dos Campos Gerais - ParanáDairyInnovationinsmall and mediumsize companies inthe Campos Gerais region-ParanáAlcione Lino de ARAÚJO (1), Francielli Casanova MONTEIRO (2), Maria Helene Giovanetti CANTERI (3), Juliana Vitória Messias BITTENCOURT (4) e Antonio Carlos de FRANCISCO (5). Recibido: 15/04/14 • Aprobado: 12/05/14 |
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1. IntroduçãoA cadeia produtiva do leite paranaense vem ganhando maior representatividade no contexto nacional e se adensando nos últimos anos tanto na produção leiteira quanto na produção industrial. A produção leiteira do Paraná apresentou, entre os anos de 1997 e 2006, um crescimento de 71%, consolidando-se, em 2007, como a segunda mais importante do Brasil, com 2,5 bilhões de litros de leite/ano e um total de cerca de 99.600 produtores voltados para o mercado (IPARDES, 2009). Constata-se que parcela significativa dos produtores que adotam maiores níveis de tecnologia encontra-se na região Centro-Oriental. Nessa região, os progressos genéticos do rebanho e os índices de produtividade estão muito acima das médias nacionais, podendo ser comparáveis aos obtidos nos países onde a atividade leiteira é mais desenvolvida, como o Canadá, por exemplo (DELGADO e CRUZ, 2009). Em linhas gerais, ainda persistem dificuldades a serem enfrentadas no processo de desenvolvimento da atividade de produção leiteira no Estado. No entanto, vale enfatizar que o Paraná alcançou, na última década, uma extraordinária expansão da produção e da produtividade que superam as médias nacionais. Além disso, ocorreram também expressivos avanços na genética do rebanho e nas práticas de manejo da atividade, que não se concentram apenas na bacia mais desenvolvida do Estado, embora que no Paraná existem três bacias que se destacam na produção de leite: Centro-Oriental, Oeste e Sudoeste, concentrando 48,5% dos produtores de leite do Estado e 53% da produção estadual de leite, mas que também se espraiam para outras bacias leiteiras paranaenses (IPARDES, 2009). Inovações são a geração e implementação de ideias e o processo de gerenciá-las é essencial para o seu sucesso. Não se pode desvincular outro ponto essencial para a Gestão da Inovação Tecnológica que é a Gestão do Conhecimento, destacada por Reis (2004) como recurso chave e fonte de vantagem competitiva entre concorrentes quando aliada ao processo de inovação tecnológica. Para Carvalho, Reis, Cavalcante (2011) a inovação ganha importância em razão de sua estreita relação com a competitividade. Normalmente, quanto mais inovadora uma empresa, maior será sua competitividade e melhor sua posição no mercado que atua. Essa alta capacidade para inovar transforma ideias em produtos, serviços e processos inovadores de forma rápida e eficiente. Como consequência, a inovação permite à empresa lucrar mais. A necessidade de ofertar melhores produtos e serviços torna o ambiente competitivo repleto de mudanças, e a única alternativa é inovar para não sair do mercado. No entanto, não basta inovar uma vez. Para as organizações terem longevidade e lançarem novos produtos e serviços de maneira sistemática e contínua, precisam gerenciar bem a inovação. A indústria de laticínios do Paraná, assim como a brasileira, passou nos últimos anos por inúmeras transformações, resultado de um processo mais geral de abertura do mercado nacional, de alteração no padrão de consumo da população, da constituição de grandes firmas industriais, entre outras. Além disso, no final dos anos de 1990, na cadeia de lácteos nacional ocorreram modificações internas relativas ao crescimento da produção e da produtividade do rebanho leiteiro, granelização e concentração da captação do leite, inovações incrementais no processo produtivo, concentração do mercado de distribuição e aumento da desnacionalização do setor (IPARDES, 2009). O objetivo deste trabalho é avaliar a inovação no setor de laticínio de pequeno e médio porte na região dos Campos Gerais – PR. 2. Material e MétodosA presente pesquisa é classificada do ponto de vista de sua natureza como aplicada, com o objetivo de gerar conhecimentos para aplicação prática e dirigida à solução de problemas específicos. Pode ser também caracterizada como quantitativa e qualitativa, visto que traduz em números as opiniões e informações para sua classificação e análise, mas, também porque os dados obtidos foram analisados indutivamente (SILVA e MENEZES, 2005). No que diz respeito aos objetivos, pode ser classificada como explicativa. Visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Quanto aos procedimentos técnicos, trata-se de uma pesquisa experimental, pois foi determinado um objeto de estudo e as variáveis capazes de influencia-lo foram selecionadas, bem como as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto foram definidas (GIL, 2002). O método científico utilizado foi o indutivo, pois parte de dados particulares para obtenção de uma verdade geral não contida nas partes examinadas (MARCONI e LAKATOS, 2001). A pesquisa foi composta pelos laticínios de pequeno e médio porte já definidos como sendo da última era da qualidade, ou seja, com práticas inovadoras, conforme pesquisa em andamento (Alvarenga, 2013, in press). Dentre os oito laticínios inicialmente selecionados para realizar a coleta de dados, apenas seis participaram efetivamente da pesquisa, pois dois laticínios no momento encontram-se desativados, conforme informação da SEAB (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento) no Núcleo Regional de Ponta Grossa, a Jurisdição compreende as seguintes cidades: Castro, Piraí do Sul, Arapoti, Jaguariaíva, Sengés, Ortigueira, Palmeira, Porto Amazonas, São João do Triunfo, Carambeí, Ipiranga, Ivaí, Ponta Grossa, Imbaú, Reserva, Telêmaco Borba, Tibagi e Ventania. (http://www.agricultura.pr.gov.br/). Para esse trabalho, foram abordados tópicos referentes à inovação, sendo a coleta de dados realizada por meio de um questionário com perguntas abertas e fechadas, num total de quatro blocos com cerca de cinco questões cada [6]. O mesmo foi respondido(escrito) por gerentes de produção e/ou proprietários. A pesquisa foi realizada nos meses de setembro e outubro de 2013. O nome dos Laticínios onde foi realizada a entrevista foi codificado para preservar o sigilo dos dados. 3. Resultados e DiscussãoNesta seção, discutem-se aspectos quanto a verificação da gestão da inovação nos laticínios. A pergunta que dá início a esse bloco é: Para você o que é inovação? As respostas para essa pergunta foram surpreendentes para os pesquisadores, visto que segundo transcrição abaixo, os respondentes compreendem o que é a inovação, mas não souberam expressar corretamente o conceito.
Quanto à auto-percepção da empresa sobre ser inovadora, todos os respondentes da pesquisa foram unânimes, ou seja, 100% considera sua empresa inovadora, pois acreditam que são inovadores devido a sua constante busca de aprimoramento nos produtos, embora não souberam descrever o que seria a inovação. Tigre (2006) apresenta que um novo método, ou uma melhoria do método na etapa de manuseio e entrega de produto, são consideradas inovações em processos Para saber se a empresa faz pesquisa sobre o desejo do consumidor, observa-se que 50% dos laticínios realizam-na da seguinte maneira: telefone e questionário; degustação nos pontos de vendas e nas feiras de queijo no estado Paraná. Ressalta-se que metade dos laticínios pesquisados não realiza pesquisa alguma. Quanto ao laticínio realizar algum tipo de pesquisa junto aos seus clientes sobre a qualidade dos seus produtos observa-se que, dentre os laticínios entrevistados, aproximadamente 67% apontam que SIM (realizam algum tipo de pesquisa) como: Pesquisa informal, telefone, e-mail, pergunta sobre a qualidade do queijo aos distribuidores; propaganda boca a boca, nas churrascarias; por meio do SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) e site. Já, 33% NÃO realizam nenhum tipo de pesquisa com essa finalidade. 3.1 PRODUTOS - QUANTO A NOVOS PRODUTOS A pesquisa procurou investigar nos laticinios quantos novos produtos foram lançados nos últimos quatro anos e quais as características desses novos produtos. Os resultados indicam que:
A pesquisa tem procurado identificar se o laticínio possui um departamento de projetos, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Apenas um laticínio, representando 17%, respondeu que SIM, ou seja, possui um departamento de projetos, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos que se encontra a cargo do Médico Veterinário; e 83% responderam que NÃO possuem um departamento de projetos, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Sabe-se que cada produto apresenta um ciclo de vida. Diante disso, a pesquisa procurou identificar se os responsáveis pela produção já ouviram falar sobre ciclo de vida de produtos. Dos entrevistados aproximadamente 67% já ouviu falar, abordando que pode ser: o ciclo comercial e o de prateleiras (validade); no máximo 01 ano de vida; quando aparece um novo produto no mercado e os consumidores substituem-no por outros produtos ou concorrentes; tempo de validade do queijo. E 33% responderam que NÃO sabem o que significa ciclo de vida do produto. Quanto a ser ofertado algum prêmio para quem dá ideia de um novo produto, 83% dos laticínios NÃO oferecem nenhum benefício; apenas 17% disse que SIM, que oferta uma bonificação em dinheiro. Dentre os laticínios entrevistados, 83% apontaram que realizam algum tipo de estudo em laboratório quando estão testando novos produtos, sendo indicados pelo entrevistado: prospecção; UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) no laboratório de alimentos; no laboratório da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH) em Curitiba para análise do leite; no próprio laboratório da empresa e no LABROFOOT na cidade de Curitiba - PR. Verificou-se que não foi informada a etapa do processo na qual é feita a análise. Porém, comparando com a pergunta O laticínio possui um departamento de projetos, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos? Observou-se que nessa resposta os dados de foram inversos, ou seja, 83% NÃO dispõem de um departamento de projetos, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Assim, analisa-se que ao ser desenvolvido qualquer produto na empresa há um processo de teste ou ensaio de experimentação, mesmo que não seja na empresa. 3.2 PROCESSOS – QUANTO AOS NOVOS MÉTODOS No decorrer da pesquisa questiona-se quanto às mudanças no processo de produção de derivados láteos nos últimos quatro anos. Nesse sentido, 83% responderam que foram implantadas como: evolução no maquinário, adaptação do tempo de descanso (processo de maturação do queijo) ou técnica de fermentação em função da criação de novos produtos; ingredientes importados; no processo de "extandalização" (palavra expressa pelo respondente) das atividades, entendido pelos pesquisadores como expansão dos pontos de venda. Quanto ao local no qual a empresa busca novos conhecimentos sobre a produção de laticínios, as respostas foram variadas, como: Congressos, Simpósios e Feiras de Leite; troca de informação com outros laticínios e troca de experiências na fabricação de queijos; na UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) e Instituto de Laticínios Cândido Tostes em Minas Gerais, contatos com colegas de outros laticínios, fornecedores, revistas especializadas em leite; EMATER (Instituo Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural) e SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Observa-se que, nesse aspecto, todos os laticínios entrevistados mostraram preocupação quanto a buscar novos conhecimentos, seja no âmbito técnico ou no sentido apenas na troca de informação. Quanto a alguma espécie de desenvolvimento ou adaptação de processo na própria empresa, todos responderam que durante toda a existência do laticínio houve algum desenvolvimento ou adaptação no processo produtivo da empresa, como: aquisição ou modernização de novas máquinas no processo ou na embalagem; construção de um novo ambiente de acordo com as normas da inspeção e vigilância sanitária; mudanças nas técnicas de fermentação para o queijo mussarela e estudos para melhoria permanente em todo o processo produtivo. Quanto às áreas da empresa envolvidas no processo de aprimoramento da produção de laticínios, foram recebidas diferentes informações como: diretoria e produção; no processo de fabricação e inspeção sanitária, com contratação de veterinários; toda a empresa, no treinamento recente com a aquisição de uma nova máquina; na área de qualidade; na área industrial, comercial e de marketing e em toda a área de produção. 3.3 POSIÇÃO – QUANTOS A NOVOS MERCADOS Quanto à empresa buscar novos segmentos de mercado para atuar, metade das empresas responderam que sim. Para a empresa atuar em novos segmentos, a pesquisa também procurou saber quais os principais canais de distribuição. Foram informadas as seguintes respostas: mercado e padarias; nas cidades de Londrina, Curitiba e Ponta Grossa no Paraná; atuação do produto na gôndola do supermercado (nessa resposta acredita-se que o respondente não entendeu); nas churrascarias; no food service, pequeno comércio, supermercados de médio porte; e um supermercado de grande porte. Quanto às oportunidades nos mercados, foi mencionado pelas empresas: feeling; nas vendas; na busca de oportunidades para crescer; na procura por novos nichos para necessidades específicas de saúde e de prazer; de acordo com o volume de vendas em pontos específicos ("coloca no mercado porque vende") e adquirindo o SISBI - Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA). O SISBI faz parte do Sistema Unificado de Atenção a Sanidade Agropecuária (SUASA), que padroniza e harmoniza os procedimentos de inspeção de produtos de origem animal para garantir a inocuidade e segurança alimentar. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem solicitar a equivalência dos seus Serviços de Inspeção com o Serviço Coordenador do SISBI. Para obtê-la, é necessário comprovar que o laticínio têm condições de avaliar a qualidade e a inocuidade dos produtos de origem animal com a mesma eficiência do Ministério da Agricultura. Os requisitos e demais procedimentos necessários para a adesão ao SISBI-POA já foram definidos pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Também foram instituídos gestores estaduais como técnicos de referência junto às Superintendências Federais de Agricultura (SFA), responsáveis pela divulgação e orientação aos serviços de inspeção interessados na adesão ao sistema (MAPA, 2013). A estratégia mercadológica utilizada pelas empresas pesquisadas foi descrita como: PCP (Planejamento e Controle da Produção) a longo prazo; em rádio municipal, divulgação por meio de patrocínio, distribuição de brindes; propaganda "boca a boca" e na única loja de venda que um dos laticínio possui; copiar algumas tendências internacionais e adaptar no Brasil; supervisionar a área de venda. Uma das empresas indicou que não há estratégia de marketing em seus produtos. Quanto às formas da empresa divulgar os seus produtos no mercado, observa-se que algumas utilizam meios bem simples, enquanto outra utiliza recursos mais sofisticados, como:divulga os produtos localmente; amostras por peça deixadas no ponto de venda; degustação em gôndolas dos supermercados; propaganda "boca a boca"; plotagem em caminhões de distribuição; manutenção de um site ativo e nas feiras de queijo. 3.4 PARADIGMA – QUANTOS NOVOS MERCADOS Quanto à parceria com fornecedores, metade dos laticínios informou que não faz. As empresas têm como parceiros: fornecimento de ração, assistência técnica; empréstimo de dinheiro; análise do leite; assistência veterinária; nutrição e manejo. Quando se indagou a falta de parceria,a informação foi de que nunca tiveram essa preocupação, pois acreditam que a compra do leite já é uma espécie de parceria. A cooperação/parceria com os clientes também seguiu a mesma tendência da questão anterior (50% de respostas positivas), com as seguintes atuações: ações de venda; empréstimo de dinheiro; degustações; participação com matéria prima em novos produtos. Metade dos laticínios informou que nunca interagem com os seus clientes diretamente, utilizando-se de intermediários para o processo de venda. Quanto a alguma espécie de cooperação com os fornecedores de tecnologia, 83% dos laticínios afirmam que possui essa relação, sendo: desenvolvimento de produto; laboratório da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), treinamento com maquinário e de processo na fabricação de queijo; fornecedores de coalho; embalagens. Apenas um laticínio respondeu que NÃO adota nenhuma relação de cooperação com fornecedores de tecnologia. Quanto a parcerias com Universidades e Institutos de Pesquisa, metade dos laticínios desenvolve essa espécie de relacionamento, enfatizando ser muito importante para o laticínio, com: UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) e Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (ABCBRH) em Curitiba; UFPR (Universidade Federal do Paraná); PUCPR (Pontifíca Universidade Católica do Paraná) na produção de leite. A falta de parceria está associada à auto-imagem do laticínio, considerado ainda muito pequeno para manter essa espécie de vínculo. 3.5 FECHAMENTO - LEVANDO EM CONTA A DISCUSSÃO ANTERIOR Com relação a existência de um ambiente propício para inovação no laticínio, 87% responderam que sim. As principais dificuldades dos laticínios de pequeno e médio porte na região dos Campos Gerais para a inovação levantadas estão descritas a seguir. Foi citada a burocracia nos registros e documentação – com respeito à inspeção da vigilância sanitária que ao lançar um novo produto (considerado inovação pelos laticínios), terá que apresentar ao órgão competente o projeto fabril, o leiout de fábrica e máquinas, o número de funcionários, o que muitas vezes inviabiliza a inovação. Outros pontos são a falta de orientação (extensão rural, com interação com especialistas ou facilitadores que orientem melhor); o custo de máquinas ou aquisição de implementos; dificuldade no intercâmbio de informações entre os laticínios. Quanto à extensão rural, o respondente fez praticamente um desabafo, reclamando muito sobre esse aspecto de assistência, da falta de orientação, da escassez de cursos, palestras na área econômica/financeira ou também de laticínios. Nessa questão, pode-se perceber o sentimento de menosvalia por partes dos proprietários e gerentes quanto as suas dificuldades frente a inovação. Porém, a teoria informa que, especificamente com relação à inovação em produto, sua importância é contrastada pelos baixos níveis de P&D (DEALGADO e CRUZ, 2009). No setor de laticínios, um dos grandes motivadores da implementação de inovações é a busca das empresas por maior qualidade e durabilidade de seus produtos devido ao fato de o leite ser uma matéria prima bastante perecível. Nesse sentido, Rastoin (2004) destaca que, ao lado das inovações em produtos e processos, deve-se mencionar a inovação periférica, uma modificação marginal de gosto e de aspecto do produto, apresentação (embalagem) e imagem do produto (marketing). No entanto, o principal motor da inovação nesse setor será, num futuro próximo, a área de desenvolvimento de produtos funcionais, com o argumento da saúde, de acordo com tendência geral das respostas. Uma sentença de definição de um produto funcional, segundo a portaria nº 398 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde brasileiro de 1999, a definição para alimento funcional é: "todo aquele alimento ou ingrediente que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido na dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos benéficos à saúde, devendo ser seguro para o consumo, sem supervisão médica" (PIMENTEL, FRANCKI, GOLLÜCKE, 2005). Esta se reflete no aumento da quantidade de pesquisas dos ingredientes do leite com aspectos funcionais, conforme Delgado e Cruz(2009). Alguns dos ingredientes contidos no leite têm importantes benefícios nutricionais e para a saúde. Da mesma maneira, Fontanini (2005) afirma que uma inovação pode ser um novo produto ou serviço, uma nova tecnologia de processo de produção, um novo sistema administrativo ou uma nova estrutura organizacional, ou ainda um novo plano ou programa. Delgado e Cruz (2009) destacam que a inovação nas organizações é influenciada não só pelo tamanho e pelo negócio central da organização, mas também pelo paradigma tecnológico dominante. Silva, Kovaleski, Gaia (2011) apresentam que as inovaçõessão tratadas como forma de obtenção de lucros extras pelas empresas, por meio de vantagens competitivas decorrentes da produção de novos produtos ou processos que agregam valor para o cliente. O enfoque econômico seria, portanto, o centro das atividades. No entanto, segundo os autores, uma maior compreensão do papel da inovação com relação à organização produtiva e aos efeitos sobre a sociedade e o meio ambiente tem conduzido a questionamentos sobre o padrão de operações das organizações empresariais e as consequências destas operações. Os mesmos autores afirmam que no lugar de se ater apenas ao atendimento das demandas do mercado, a geração de inovações voltadas para a sustentabilidade considera os valores e necessidades da sociedade, visando seu bem-estar tanto financeiro como de qualidade de vida. Ulusou (2003) também acredita que as inovações, para que estejam alinhadas com o desenvolvimento sustentável, devem incorporar as restrições trazidas pelas pressões sociais e ambientais, assim como considerar as gerações futuras. Dessa forma, essas inovações são mais complexas (porque devem atender a um número maior de stakeholders) e mais ambíguas (pois as partes envolvidas podem ter demandas contraditórias). As inovações incrementais ocorrem quase que continuamente nas indústrias ou serviços, dependendo da combinação de pressões de demanda, fatores sócio-culturais, oportunidades e trajetórias tecnológicas e nem sempre são resultado de pesquisa deliberada, mas resultado de melhorias sugeridas por seus usuários. Em contrapartida, as inovações radicais são eventos descontínuos, em grande parte resultantes de pesquisa deliberada por empresas, universidades ou por instituições públicas (DELGADO E CRUZ, 2009). Dahlin e Behrens (2005) sugerem que a inovação radical deve cumprir três requisitos: a) novidade; b) singularidade; e c) impacto em tecnologias futuras. É, normalmente, com as inovações radicais que ocorre a evolução tecnológica e o desenvolvimento econômico, social e cultural da sociedade (M. OSLO, OCDE, 2004 apud SCHUMPETER, 1934; FREEMAN e PEREZ, 1988). Nesse sentido, enfatiza-se a importância da parceria entre os laticínios e o setor acadêmico, visto que parte das ideias inovadoras são geradas a partir de levantamento de dados, resultados e descobertas de pesquisas puras ou aplicadas, não necessariamente direcionadas ao setor. Para os atores responsáveis pela inovação, no geral, elas significam alcance de mercados potenciais, novos mercados, novos investimentos associados e novas possibilidades de inovação. Partindo da contribuição de Ulusou (2003) propõe o Hipercubo da Inovação, que identifica como as inovações podem gerar diferentes impactos ao longo da cadeia de valor, afetando de forma diferenciada os diversos stakeholders. Dessa forma, uma mesma inovação pode ser radical para indústria e apenas incremental para a distribuição, ou vice-versa. Sendo assim, pode-se definir inovação como adoção de equipamentos, sistemas, políticas, programas, processos, produtos ou serviços, desenvolvidos interna ou externamente, novos para a organização que a adota (não necessariamente em relação ao setor de referência). 4. ConclusõesA literatura especializada reforça que a indústria de laticínios brasileira tem se modernizado e acompanhado as tendências mundiais para o setor. E, com o advento da concentração industrial observada nos últimos anos, os laticínios estão sendo forçados a buscar um maior nível de automatização e inovação. Ressalta-se, ainda, que nos casos em que houve inovação de produto, essa resultou de tentativas de mudança via alteração nos sabores, por exemplo, sem necessariamente representar uma mudança ou incorporação de nova tecnologia ou de uma pesquisa específica para tal. Adicionalmente, observou-se que a principal fonte de informação para o lançamento de novos produtos na indústria láctea na região dos Campos Gerais são os fornecedores de máquinas e equipamentos e os de insumos. Essa mesma tendência está explicitada na literatura e ilustrada nos depoimentos dos entrevistados, garantindo poder de monopólio a esse elo da cadeia de lácteos, visto que o laticínio permanece relativamente dependente desses fornecedores, no caso da necessidade de uma manutenção, de reposição de peças ou aquisição de novo lote de produtos. A indústria paranaense processa uma grande quantidade de queijo, para o qual destina mais de 50% do volume processado de leite. De modo geral, constatou-se, também, que dentre as indústrias de laticínios da úlitma era da qualidade, especificamente nos Campos Gerais no Paraná, possui empresas produtoras de queijo, que constam da pauta de produtos de mais de 67% das unidades pesquisadas. Do ponto de vista da diversificação produtiva, 33% dos laticínios pesquisados produzem apenas um único produto (leite pausterizado e doce de leite). Em todas as indústrias quem dita regras do que deve ser inovado sempre é o mercado. Se a indústria possui baixo índice de produtos lançados é porque o mercado em que atua não exigiu muito. Somente agora tem-se buscado inovar em tecnologias mais modernas para melhorar a qualidade e a produtividade, pois todo o mercado está se modernizando. Com isso observa-se que a inovação nos laticínios do Estado do Paraná, especificamente nos Campos Gerais, está presente, com tendência crescente de acordo com a exigência do mercado consumidor e maior acesso à informação por parte dos produtores. 5. AgradecimentoA Fundação Araucária pela concessão da bolsa de estudos. 6. ReferênciasALVARENGA, Tiago Henrique de Paula (2013). Cenário da gestão da qualidade nos laticínios de pequeno porte na região dos campos gerais – PR. Defesa de Qualificação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Tecnológica Federal. ANDREATTA, Evelise, FERNANDES, Andrezza Maria, SANTOS, Marcos Veiga dos, MUSSARELLI, Camila, MARQUES, Marina Célia, GIGANTE, Mirna Lúcia e OLIVEIRA, Carlos Augusto Fernandes de (2011). Quality of minas frescal cheese prepared from milk with different somatic cell counts. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.44, n.3, p.320-326, mar. 2009. 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