1 – Introdução
A questão sobre meio ambiente vem sendo introduzida de maneira mais efetiva em diferentes setores e contextos sociais, sendo um tema em constante construção, reflexão e discussão no cenário mundial. Uma forte evidência disso, apesar de não ser recente, é a obra "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, publicada em meados do século XIX, na qual, seu autor apresenta fortes evidências da evolução das espécies e "Silent Spring", de Rachel Carson, publicada em 1962, a qual levou a público o problema dos pesticidas na agricultura.
Assim, somente no final do século XX com os constantes impactos ambientais causados pelo ser humano e os enormes prejuízos para natureza sofridos ao longo dos tempos, como a poluição do ar e rios; o processo de urbanização crescente e desordenado, o consumismo, a industrialização, o desmatamento, o lixo e a exploração de minerais de forma inadequada, é que tem feito crescer a cada dia a preocupação em relação à temática Educação Ambiental.
Em torno dessa temática, as dúvidas e medos em relação à necessidade humana de explorar e retirar os recursos naturais de forma não sustentável são as consequências das diversas transformações e comportamentos das pessoas em relação ao futuro do planeta. O principal foco é a busca pelo desenvolvimento sustentável, que permita o não esgotamento dos recursos naturais disponíveis no planeta, preservando a água, ar, solo, fauna e flor.
Por isso, neste trabalho foi realizada uma pesquisa com professores de Química do ensino médio, com objetivo de identificar suas concepções e práticas, referentes à Sustentabilidade e Educação Ambiental, buscando, assim, proporcionar uma reflexão sobre essa temática.
1.1– O que é Educação Ambiental?
São várias as definições disponíveis na literatura para Educação Ambiental. Conforme Reigota (2006), a educação ambiental é entendida como educação política, na qual prepara os sujeitos para participar de forma ativa, reivindicando, assim, a ética, a justiça social e a formação da cidadania em suas relações entre a sociedade e a natureza.
Dessa forma, a concepção de Educação Ambiental de acordo com a Lei Federal nº 9.795/99, no seu artigo 1º do capítulo I, é definida como:
os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (Brasil, 1999).
Nesse sentido, a Educação Ambiental é considerada um processo que envolve valores culturais, comportamento, ciência, tecnologia, educação, conhecimento e meio ambiente na busca pelo desenvolvimento sustentável para manutenção da natureza e suas implicações sociais. Devido aos problemas ambientais na sociedade contemporânea, como a degradação ambiental, identificadas no desperdício de recursos naturais, na pobreza, o consumismo, a utilização de tecnologias não sustentáveis e falta de responsabilidade ambiental. A EA possui um papel fundamental na formação do cidadão crítico em relação aos processos ligados ao meio ambiente.
Assim, a educação ambiental possui o objetivo de possibilitar atitudes e comportamentos em relação ao consumismo em nossa sociedade, bem como, proporcionar mudanças de valores e percepções sobre questões socioambientais de forma local e planetária.
1.2- Desenvolvimento Sustentável
Na medida em que a expansão urbana cresce rapidamente, problemas sociais aparecem, como: planejamento urbano, o lixo, transportes, crescimento da pobreza e desigualdade social. Devido a esses desafios presentes na sociedade contemporânea, aumenta-se dia-a-dia a preocupação com o futuro do planeta. Como nos alerta Legan (2008, p.50),
A crise global que a humanidade está enfrentando é um reflexo de valores e estilos de vida; é, acima de tudo, uma crise cultural. A cultura, portanto, tem um papel central na complexa noção de sustentabilidade. A forma que o futuro terá vai depender de como será moldado, em um nível local, o mosaico de culturas que cercam o globo.
Conforme Legan (2008), cultura inclui todo nosso conjunto de crenças, valores, atitudes, costumes e intuição de uma determinada região, localidade ou grupo de pessoas. Essa busca constante pelo desenvolvimento econômico de vários países, sem controle, planejamento ou organização, nos apresenta um problema social, cultural e ambiental gravíssimo, pois está modificando a identidade de um povo, seus hábitos e costumes. Existem várias definições para a palavra desenvolvimento. Conforme Oliveira e Souza-Lima (2006, p.19),
O desenvolvimento pode ser encarado como um processo complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente, humana e social. Desenvolvimento nada mais é que o crescimento - incrementos positivos no produto e na renda - transformado para satisfazer as mais diversificadas necessidades do ser humano, tais como: saúde, educação, habitação, transporte, alimentação, lazer, entre outras.
Com o desenvolvimento de novas tecnologias, dos processos de produção, consumismo desenfreado e o crescimento significativo da utilização de recursos para produção de energia, alimentos, na indústria, ou seja, para atender a demanda e as necessidades da sociedade, houve um crescimento efetivo da preocupação sobre os problemas ambientais e também em relação ao tempo do processo de regeneração do meio ambiente. Devido a esse longo processo de transformação, surgiu o termo desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento sustentável engloba diversas preocupações da sociedade como a oferta, no futuro, de bens e serviços inevitáveis e indispensáveis para a sobrevivência da espécie humana na terra.
A sustentabilidade é um tema em constante discussão na atual sociedade, pois busca a sobrevivência e manutenção do planeta com objetivo de atender as necessidades humanas, utilizando assim os recursos naturais disponíveis de forma controlada sem esgotá-los, visando à preservação do meio ambiente.
Entretanto, para que o desenvolvimento sustentável aconteça de maneira significativa e continua é necessário o investimento do setor público e privado em comum esforço em desenvolver tecnologia sustentável, formação de pessoas qualificadas e também em campanhas de conscientização. É importante ainda ressaltar que, para que ocorra o desenvolvimento sustentável, é necessário levar em consideração diversos aspectos, tais como, social, ambiental, econômico, político, cultural e religioso, sendo de extrema relevância unir os vários pilares que são o alicerce para atingir tal objetivo.
O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu de diversas reflexões e discussões críticas sobre a relação sociedade e meio ambiente, na qual, existindo, assim, uma enorme variedade de conceitos para o termo sustentabilidade. Entretanto, foi discutido primeiramente pela International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN), no documento World's Conservation Strategy. Segundo Bellen (2005, p.23):
[...] para que o desenvolvimento seja sustentável devem-se considerar aspectos referentes às dimensões social e ecológica, bem como fatores econômicos, dos recursos vivos e não-vivos e as vantagens de curto e longo prazos de ações alternativas. O foco do conceito é a integridade ambiental e apenas a partir da definição do relatório Brundthand a ênfase desloca-se para o elemento humano, gerando um equilíbrio entre as dimensões econômica, ambiental e social.
Assim, o desenvolvimento sustentável acontece quando ocorre um equilíbrio no "tripé da sustentabilidade" (Figura 1), que aborda fatores econômicos, fatores sociais e fatores ambientais.
Figura 1. Os três pilares da sustentabilidade
Fonte: Bellen (2005, p.23)
No relatório Brundltand, está disponível uma das definições mais aceitas e conhecidas desse vocábulo, ou seja, o desenvolvimento sustentável é o que atende "as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as novas gerações atenderem às suas próprias necessidades" (Comissão, 1991, p.46).
A educação ambiental e a sustentabilidade são temas de elevada relevância, que devem ser abordados em todas as modalidades de ensino, não como uma disciplina específica ou isolada, mas como assuntos transversais ao conteúdo. A necessidade de se trabalhar essa temática na escola é reconhecida não só pelos professores como também é exigida pela Constituição Federal Brasileira de 1988, no artigo 225, Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999), PCN (Brasil, 1999) e Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná (Paraná, 2008).
Dessa forma, os professores das mais diversas disciplinas, possuem a responsabilidade de relacionar seus conteúdos com a temática educação ambiental, pois o educador tem essa função que é respaldado por diversos documentos oficiais.
Nesse contexto, o ensino de Química é uma valiosa ferramenta para a EA e para a compreensão de mundo, ciência, tecnologia e sociedade, abrangendo todos os conceitos relacionados ao tema, possibilitando o entendimento do educando de forma significativa, visual, dinâmica e contextualizada com a realidade, o que será tratado na próxima seção.
1.3- Educação Ambiental e a Sustentabilidade no Ensino de Química
O ensino de Química contribui para formação da cidadania, oportunizando ao aluno obter o conhecimento científico e conhecer seus efeitos no meio ambiente, e também, adquirir informações ou conhecimentos mínimos de Química para poder participar efetivamente, com maior fundamentação e argumentação na sociedade, tomando decisões sobre diversos aspectos, uma vez que a Química encontra-se diretamente conectado com as questões relacionadas ao meio ambiente, pois com a síntese de novos produtos e substância há a necessidade de explorar a natureza.
Dessa maneira, pode-se dizer que essa disciplina pode contribuir para o desenvolvimento da humanidade, mas que se faz necessário uma ampla discussão, a fim de promover ações de sensibilização e noções de preservação. Para isso, os educadores em Química devem construir o conhecimento junto com o aluno, trabalhando o conteúdo relacionado com o contexto social que o educando está inserido. Assim, os conceitos trabalhados serão significativos, ocorrendo com sucesso o processo de ensino e aprendizagem.
No entanto, não apenas o setor educacional é responsável por esse processo, mas também o setor empresarial e governamental. Porém, a escola representa uma instituição elementar para a reflexão sobre a questão socioambiental, fortalecendo as bases da formação de cidadãos críticos e questionadores do mundo onde estão inseridos. A introdução do aspecto ambiental no processo educativo vem ocorrendo lenta e gradativamente de diferentes maneiras, principalmente na disciplina de Química, identificada nas Diretrizes Curriculares de Educação do Estado do Paraná (2008). Segundo Tristão (2004, p.23):
A dimensão ambiental emerge como problema social que atinge as universidades, os sistemas de conhecimento, a formação de profissionais e a crescente necessidade de a educação adaptar-se a um novo perfil de desenvolvimento, cuja base transita entre a economia, a ecologia e a justiça social na busca de sociedades onde caibam realmente todos.
Conforme Segura (2001), a escola foi um dos primeiros espaços a absorver esse processo de "ambientalização" da sociedade, recebendo sua cota de responsabilidade para melhorar a qualidade de vida da população, por meio da informação e conscientização. Portanto, não podemos negar que a escola ocupa uma função primordial nesse processo, quando se fala em EA e sustentabilidade, elas têm o papel de formar cidadão para viver em sociedade, contribuindo na formação de opiniões e na construção de valores. Devido às diversas atribuições, é considerada uma instituição com elevada responsabilidade social, possibilitando que as pessoas adquiram atitudes, conhecimento, habilidades e contribuam com ações voltadas para a preservação do meio ambiente.
2- Procedimentos Metodológicos
Esse trabalho foi desenvolvido em seis escolas públicas, dos municípios de Ponta Grossa, Palmeira e São João do Triunfo, do estado do Paraná, com oito professores de Química do ensino médio. Oito professores participaram do estudo, sendo dois (2) profissionais atuantes nos municípios de Palmeira e São João do Triunfo (1 professor) que aceitaram participar do estudo. No Município de Ponta Grossa (5 professores) foram convidados e aceitaram participar.
Dentre os professores que participaram do estudo, dois são do quadro próprio do magistério (QPM) e seis trabalham como (PSS), contrato temporário. Sobre sua formação acadêmica, três possuem licenciatura e bacharelado em Química e cinco possuem apenas licenciatura em Química. Os docentes possuíam de 4 a 20 anos de experiência no ensino de Química.
A abordagem metodológica utilizada é de natureza quantitativa. Conforme Moreira e Caleffe (2008, p.54), "os dados quantitativos podem ser medidos mais facilmente, padrões podem ser estabelecidos de uma forma mais clara". Dessa forma, a pesquisa foi realizada em duas etapas, a aplicação das questões e a análise das respostas dos professores. Assim, para coleta de dados utilizou-se como instrumento um questionário com questões de múltipla escolha e descritiva, elaboradas pelo pesquisado, apresentado a seguir:
- Professor (a): _________________________ QPM: ( ) PSS: ( )
- Formação:____________________________
( ) Licenciatura ( ) Bacharelado
- Tempo de docência em sala de aula: ___________
- Você aborda em suas aulas o tema "Educação Ambiental (EA)"? ( ) Sim ( ) Não
- Se sua resposta foi positiva, quando a abordagem sobre EA e a sustentabilidade acontecem nas aulas de Química?
( ) Todas as aulas;
( ) Apenas quando é proposto no material didático;
( ) 50% das aulas;
( ) Menos de 50% das aulas.
- Em relação ao Livro Didático, como é contemplada a temática EA nos livros didáticos?
( ) Não é contemplada;
( ) De forma insuficiente;
( ) Adequado a realidade do aluno;
( ) Sim, de forma resumida.
- Você trabalha, em suas aulas, o tema "sustentabilidade"? ( ) Sim ( ) Não
- Você consegue estabelecer relação entre Sustentabilidade e Educação Ambiental? Explique.
- Como é trabalhado o tema Educação Ambiental nas aulas de Química?
( ) De forma contextualizada;
( ) Através da experimentação;
( ) Com saídas à campo;
( ) Com exposição oral.
- Em relação a questão anterior, caso não utilize a experimentação, qual seria os motivos e causas da não utilização?
- Dentro da disciplina de Química, Educação Ambiental e Sustentabilidade são temas considerados importantes para a sociedade?
|
Para preservar a identidade dos participantes do estudo, os professores serão apresentados como: P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7 e P8, em substituição a seus nomes.
3- Resultados e Discussões
A análise dos dados foi realizada observando-se as concordâncias e discordâncias das respostas. E foi separada em três blocos temáticos: a percepção dos docentes sobre Educação Ambiental e sustentabilidade, abordagem sobre Educação Ambiental e a sustentabilidade nas aulas de Química e Educação Ambiental nos livros didáticos.
3.1- A percepção dos docentes sobre Educação Ambiental e sustentabilidade
A Educação Ambiental e a sustentabilidade são temas em constante discussão, devido à importância para preservação do meio ambiente. Em relação à importância da EA e da sustentabilidade os docentes entendem quesão questões consideradas fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. Como apresenta o gráfico 1:
Gráfico 1 - Importância da Educação Ambiental e a sustentabilidade
para os professores participantes do estudo, em relação à sociedade.
Fonte: Autoria própria
Nesse sentido, percebe-se que 100% dos professores consideram esses temas importantes para sociedade para conscientizar e desenvolver o senso crítico nos estudantes. Como pode ser observado nas respostas seguintes: o professor P2 argumentou que "São temas de fundamental importância para a sociedade, são através destes temas que podemos conscientizar os educandos e formá-los para questionar e mudar a sociedade". Também o professor P1 respondeu:
Educação Ambiental e sustentabilidade são temas muito importante para sociedade, pois, permite desenvolver um senso crítico em relação à preservação da meio ambiente, ou seja, possibilita o educando debater sobre vários aspectos, argumentando, questionando e pensando sobre o futuro do planeta.
Tais afirmações vão ao encontro de Jacobi (2003, p.198) que afirma que "a educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária". Dessa forma, como expuseram P1 e P2, esses temas são considerados fundamentais e importantes no processo de formação do aluno, uma vez que permitem desenvolver uma visão crítica sobre diferentes aspectos da sociedade e conscientizar os educandos, principalmente sobre questões ambientais.
No currículo escolar existe uma enorme quantidade de conteúdos básicos e específicos para se trabalhar no ensino de Química. A maioria desses permite uma relação mais efetiva com questões relacionadas ao meio ambiente. Nesse sentido, "Que conteúdos são possíveis relacionar Educação Ambiental ao ensino de Química"? Todos os docentes responderam que a maioria dos conteúdos de Química permite trabalhar a temática ambiental. Os principais conteúdos citados pelos professores foram: funções inorgânicas: ácidos e óxidos, reações químicas, chuva ácida, tabela periódica (agricultura), eletroquímica (pilhas e baterias), petróleo, funções orgânicas, ambiente (poluição, consumismo e desequilíbrio), termoquímica, poluição de rios, lagos, oceanos (matéria orgânica, detergente), reciclagem, lixo, poluição atmosférica (efeito estufa, queimadas e poluição pelos gases de veículos).
Portanto, é possível perceber que praticamente todos os conteúdos de Química são integrados ao meio ambiente. Mas, depende principalmente do professor buscar fazer essa relação, contextualizando o conteúdo científico com a realidade. Segundo Bernardes (2008, p.490), "a situação ambiental requer do educador a característica de pesquisador e construtor de seu próprio projeto de pesquisa, o qual deverá ser centrado no educando, partindo de suas representações prévias e seus interesses".
3.2- Abordagem sobre Educação Ambiental e a sustentabilidade nas aulas de Química
Segundo os diversos documentos oficiais como, a Constituição Federal (1988) e Lei nº 9.795 (1999) todos os professores de todas as disciplinas devem trabalhar em suas aulas a temática ambiental. No estudo realizado com os docentes de Química, essas questões são abordadas como mostra o gráfico 2:
Gráfico 2 - Expressa quando as abordagens sobre Educação Ambiental
e sustentabilidade ocorrem nas aulas de química
Fonte: Autoria própria
Nesse contexto, identificou-se que 50% (4) dos professores abordam essa temática, em cinquenta por cento das aulas. No entanto, para alguns 37,5% (3) essa inserção somente acontece quando o material didático fornecido pelo governo aborda esta questão, o que muitas vezes acontece de maneira muito superficial. Fato que evidencia que muitos professores ainda seguem fielmente o livro didático, o qual deveria apenas ser utilizado como material de apoio. Conforme Jacobi (2003, p.193), "o educador tem a função de mediador na construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza". O professor tem a responsabilidade de buscar materiais e bibliografias diferenciadas, buscando melhorar o ensino de Química na temática ambiental. E ainda, 12,5% (1) afirmam abordar, em todas as aulas de Química, a temática ambiental.
Portanto, por meio das respostas dos profissionais em Química que participaram do estudo, verifica-se que todos os docentes participantes do estudo de uma forma ou de outra abordam em suas aulas o tema Educação Ambiental e a sustentabilidade. Pode-se dizer que talvez, isso ocorra porque, a Educação Ambiental "vem sendo valorizada como uma ação educativa que deve estar presente no currículo, de forma trans-versal e interdisciplinar, articulando o conjunto de saberes, formação de atitudes e sensibilidades ambientais" (Bernardes, 2008, p.487)
Outra questão bastante discutida atualmente é em relação à estratégia utilizada pelos professores para trabalhar os conteúdos nas diversas áreas do conhecimento. Nessa perspectiva, perguntou-se: "Como é trabalhado o tema Educação Ambiental nas aulas de Química"? Como mostra o gráfico a seguir:
Gráfico 3 - Expressa algumas metodologias utilizadas pelos
professores em relação ao tema educação ambiental
Fonte: Autoria própria
Conforme os professores participantes do estudo, a maioria 62,5% (5) dos docentes aborda tal temática de maneira contextualizada, buscando assim aproximar o assunto discutido em sala de aula com a realidade do aluno. Conforme Bernardelli (2004), muitos alunos resistem ao estudo da Química, devido à falta de contextualização de seus conteúdos com o cotidiano. Por isso, é importante levar sempre em consideração os diferentes contextos relacionados ao conteúdo trabalhado. E ainda, 25% (2) dos profissionais trabalham EA de maneira oral, relacionando com o conteúdo. Outra estratégia são as saídas a campo, fundamentais para assimilação e entendimento das atividades realizadas, na qual apenas 12,5% (1) dos professores as utilizam como estratégia.
Porém, nenhum docente utiliza como estratégia didática a experimentação, na temática ambiental. Fato que é extremamente preocupante, devido à importância da experiência no ensino de Química. Como considera Moraes (2008, p.197), "uma teoria sem embasamento experimental não permite ao aluno uma compreensão efetiva dos processos de ação das ciências", uma vez que as atividades experimentais permitem a reflexão e o questionamento sobre o fenômeno estudado.
Os experimentos podem ser um ponto de partida para a compreensão de conceitos e suas relações com as ideias discutidas em sala de aula, é importante relacionar a prática e a teoria, pois através de observações o aluno começa a questionar, pesquisar e debater, ajudando assim no processo de construção do conhecimento. Segundo Moraes (2008, p.197), "o que foi exposto em aula e o que foi obtido no laboratório precisa se constituir como algo que se complementa".
As causas para não utilização da experimentação são várias, como podemos observar no gráfico 4:
Gráfico 4 - Expressa a porcentagem das respostas dos professores em relação
aos motivos e causas da não utilização da experimentação na temática ambiental
Fonte: Autoria própria
Dessa forma, é possível perceber que em 87,5% das respostas dos professores, a experimentação na temática ambiental não é utilizada devido à falta de estrutura dos laboratórios que estão em situação precária, como falta de reagentes, vidrarias e instalações muitas vezes inadequadas. E 75% das respostas à experimentação não é realizada devido o pequeno número de práticas nessa temática. No entanto, em 37,5% das respostas a experimentação não é realizada devido ao grande número de alunos por turma, uma vez que não é recomendável um grande número de alunos no laboratório, devido os riscos existentes.
Esses resultados podem ser evidenciados nas respostas de alguns dos professores que participaram do estudo:
P1: "Devido o pequeno número de práticas existentes sobre essa temática, falta de estrutura, vidrarias e reagentes na escola".
P4: "Grande número de alunos por turma, falta de laboratórios de ciências e reagentes nas escolas"
Portanto, é possível identificar várias explicações para a não utilização da experimentação no ensino de Química na temática ambiental, entre as quais podemos citar: a pequena quantidade de práticas e materiais disponíveis, pouco tempo do professor para preparo dos experimentos, além das dificuldades encontradas na maioria das escolas públicas como, falta de estrutura, laboratórios, reagentes e vidrarias que deveriam ser disponibilizados pelo governo.
3.3- Educação Ambiental nos livros didáticos
Outra questão apresentada para os professores foi à seguinte: "Como é contemplada a temática Educação Ambiental nos livros didáticos"? Como mostra o gráfico 5:
Gráfico 5 - Expressa como é abordado a temática Educação Ambiental, nos livros didáticos
de química, segundo os professores que participaram da pesquisa
Fonte: Autoria própria
A forma como é apresentado à temática ambiental no livro didático, de acordo com 50% (4) dos professores é insuficiente sem aprofundamento. Para 25% (2) essa temática não é contemplada. Em torno de 12,5% (1) considera que é abordado, mas de forma resumida e apenas 12,5% (1) considera que seja adequado a realidade do aluno como é abordada a EA nos livros didáticos.
Todavia, com a constante preocupação em torno da questão ambiental, esse cenário está se transformando, muitos dos novos livros didáticos já abordam essa questão, de maneira contextualizada. Um exemplo na área de Química é o livro didático "Química cidadã" (Santos; Mól, 2010), da editora Nova Geração, que contempla em quase todos os capítulos a temática sustentabilidade e meio ambiente. Nesse sentido, apresenta aspectos como, consumismo, lixo, reciclagem, poluição atmosférica, aquecimento global, camada de ozônio e agricultura sustentável, contextualizando com o conteúdo de Química. Assim, o educando mediado pelo professor consegue fazer relação com o conteúdo trabalhado com o seu cotidiano.
Os materiais de apoio, tais como livros didáticos são ferramentas fundamentais para o professor em sala de aula. O livro é um importante suporte de conhecimento e serve como orientação para as atividades de produção do conhecimento. Segundo Bachelard (1965),
A ciência é essencialmente a produção social da cidade científica, portanto, o livro na medida em que veicula a ciência para os cientistas, possui papel determinante na construção do conhecimento científico, na manutenção dos cientistas na escola.
Porém, o livro didático é também instrumento de transmissão de valores ideológicos e culturais de seus autores, sendo que os professores não devem tomar como verdade absoluta as opiniões ou pensamentos nele expressos, pois, como afirma Lopes (1993, p.6),
o pensamento científico está posto no livro de forma socializada, o autor expressa verdades consensuais. Possuidor de caráter orgânico, o livro estabelece suas próprias perguntas, não podendo ser lido sem que se obedeça à ordem dos capítulos, sem que se acompanhe a ordem de pensamento do autor.
Assim, podemos identificar a complexidade que é o livro didático e a responsabilidade dos autores na elaboração desse material, pois são valores e ideologias, que muitas vezes influenciam no processo de ensino e aprendizagem de maneira positiva ou negativa. Segundo Lopes (1993, p.6),
O livro não dialoga com o leitor nem polemiza com sua razão. Apenas confirma o conhecimento comum e obstaculiza o conhecimento científico. Na ânsia de tornar a ciência fácil e acessível, os autores de livros didáticos de química abusam de metáforas realistas, banalizando os conceitos. O objetivo é afastar o aluno do racional, tornando todo e qualquer conceito visível e palpável.
Dessa forma, como expõe esse autor, muitos autores de livros didáticos de Química utilizam analogias com intuito de "facilitar" a compreensão dos conteúdos, criando obstáculos para o conhecimento científico.
Portanto, o professor possui um papel fundamental nesse processo, o de mediador, o de buscar informação e de pesquisar. Quando o livro didático é insuficiente em relação à temática ambiental, cabe ao docente buscar complementá-lo, seja para ampliar suas informações e as atividades nele propostas ou contornar suas lacunas. Assim, a introdução da temática ambiental no livro didático é elementar, uma vez que o educando necessita de uma formação holística, relacionadas ao contexto ambiental, bem como, possa construir valores, comportamentos e atitudes para melhorar o planeta onde vive.
4- Considerações finais
A Educação Ambiental é um tema elementar para formação de pessoas críticas que pensem na preservação do meio ambiente e no desenvolvimento sustentável. Nessa perspectiva, o ensino de Química utiliza a EA como uma ferramenta de conexão da realidade do educando com os conteúdos de Química.
Então, por meio desse artigo procurou no discurso docente indícios de como esses temas estão sendo tratados no cotidiano escolar. Nesse sentido, podemos observar que os professores que participaram da pesquisa, trabalham em suas aulas o tema educação ambiental e sustentabilidade, procurando relacionar com a maioria dos conteúdos do currículo.
Dessa forma, também foi possível perceber a insuficiência dessa temática, segundo os professores, no livro didático. Não se quer aqui excluir o livro didático, pois é um material que contribui de forma positiva no processo de ensino e aprendizagem, desde que utilizado como apoio e buscando outras fontes de consultas, muito bem planejado e organizado. Nesse sentido, a abordagem dessa temática não deve ocorrer apenas quando é apresentada no material didático. Mas, o professor deve pesquisar em revistas, internet, livros, filmes, jornal, documentários e outras fontes com o objetivo de enriquecer esse material e melhorar suas aulas.
Em relação à metodologia de ensino, a maioria dos professores diz que aborda essa temática de forma contextualizada. Entretanto, nenhum dos profissionais que participaram da pesquisa utiliza a experimentação como estratégia para o ensino de Química. Destacamos a importância da experimentação para o ensino de Química, pois, possibilita o aluno a interagir, questionar e debater sobre o fenômeno estudado.
Portanto, podemos expor que é possível trabalhar conceitos e significados de Química aliados ao meio ambiente, deixando o conteúdo de Química contextualizado e interessante para o aluno. Assim, contribuindo para melhoria do ensino de Química e do processo de ensino e aprendizagem, tornando os conceitos mais significativos para o aprendiz. Ressalta-se aqui a importância dessa análise, pois, o tema educação ambiental é um assunto obrigatório em todas as modalidades de ensino e em todas as disciplinas, estando respaldado pela legislação brasileira.
5 - Referências bibliográficas
Bachelard, Gaston. (1965); L'activité rationaliste de laphysique contemporaine.Paris (FRA): Presses Universitaires de France.
Bellen, Hans Michael Van. (2005); Indicadores de sustentabilidade: uma análise comparativa. Rio de Janeiro: FGV.
Bernardelli, Marlize Spagolla (2004); Encantar para ensinar: um procedimento alternativo para o ensino de química. In: Convenção Brasil Latino América, Congresso Brasileiro e Encontro Paranaense de Psicoterapias Corporais. 1., 4., 9., Foz do Iguaçu. Anais... Centro Reichiano, 2004. CD-ROM.
Bernardes, Maria Beatriz Junqueira, Colesanti, Marlene Terezinha de Muno; Nehme, Valéria Guimarães de Freitas (2008); "A pesquisa-ação: uma trilha para a Educação Ambiental", Geografia, 33 (3), 485-494.
Brasil (1988); Constituição Federal Brasileira: 1988. São Paulo: Saraiva.
Brasil (1999); Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em 25 jun. 2012.
Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1991); Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
Jacobi, Pedro (2003); "Educação Ambiental, cidadania e sustentabilidade". Cadernos de Pesquisa, 118, 189-205.
Legan, Lucia. (2008); Soluções sustentáveis: permancultura urbana. Pirenópolis: Mais Calango Editora.
Lopes, Alice Ribeiro Casemiro (1993); "Contribuições de Gaston Bachelard ao ensino de ciências". Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, 11 (3), 324-330. Disponível em: <http://ddd.uab.es/pub/ensenanzadelasciencias/02124521v11n3p324.pdf>. Acesso em 31 jul. 2012.
Moraes, Roque (Org.) (2008); Construtivismo e ensino de ciências: reflexões epistemológicas e metodológicas. Porto Alegre: EDIPUCRS.
Moreira, Herivelto; Caleffe, Luiz Gonzaga (2008); Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. Rio de Janeiro: Lamparina.
Oliveira, Gilson Batista de; Souza-Lima, José Edmilson (2006); O desenvolvimento sustentável em foco: uma contribuição multidisciplinar. Curitiba: Annablume.
Paraná. Secretaria de Estado da Educação (2008); Diretrizes Curriculares da Educação Básica.
Reigota, Marcos (2006); O que é educação ambiental. São Paulo, Brasiliense. (Coleção Primeiros Passos).
Santos, Wildson Luiz Pereira dos; Mól, Gerson de Souza (2010); Química cidadã: materiais, substâncias, constituintes, química ambiental e suas implicações sociais. São Paulo: Nova Geração.
Segura, Denise de Souza Baena (2001); Educação ambiental na escola pública: da curiosidade ingênua à consciência crítica. São Paulo: Annablume; Fapesp.
Tristão, Martha (2004); A educação ambiental na formação de professores: redes de saberes. São Paulo: Annablume; Vitória: Facitec. |