Espacios. Vol. 34 (3) 2013. Pág. 11 |
Análise da produção científica brasileira em programas de pós-graduação de engenharia de produção: Modelos de referência para o processo de desenvolvimento de produtoAnalysis of brazilian scientific production in post-graduate engineering production: Reference models for product development processIsabel Cristina Moretti 1, Aldo Braghini Junior 2, Marcia Danieli Szeremeta Spak 3, Luan Carlos Santos Silva 4 Recibido: 10-10-2012 - Aprobado: 12-01-2013 |
Contenido |
Gracias a sus donaciones esta página seguirá siendo gratis para nuestros lectores. |
RESUMO: |
ABSTRACT: |
1. IntroduçãoUma análise do mercado mundial tem mostrado que os requisitos do cliente em relação às funções e qualidade dos produtos estão aumentando continuamente. Os clientes estão se tornando cada vez mais exigente e as suas necessidades estão mudando continuamente. Nestas circunstâncias, apenas aquelas empresas que oferecem aos clientes os produtos desejados, a respeito de suas funções e qualidade, produzidos na hora certa, com a qualidade esperada e ao preço apropriado podem esperar o sucesso de mercado (STARBEK, M.; GRUM, J., 2002). A demanda por maior qualidade e produtos de menor custo com menor lead-time de desenvolvimento para as dinâmicas necessidades do mercado global força as indústrias a se concentrar em várias estratégias de desenvolvimento de novos produtos (KRAUSE et al., 1993; HONG-BAE, 2005; MARCH-CHORDÀ, 2002). Para um processo efetivo de desenvolvimento de produto da interação e colaboração entre diferentes equipes e processos têm de ser devidamente coordenada e sincronizada. A sincronização dos fluxos de informação é um fator chave para o sucesso do processo de desenvolvimento de produtos (HAMMERS; SCHMITT, 2009). Portanto, as empresas investem cada dia mais para a melhoria contínua do próprio processo de desenvolvimento e no fornecimento de apoio adequado para sua execução (KALPIC; BERNUS, 2002). A qualidade da gestão do PDP está intimamente ligada à padronização do processo. Sendo assim, a formalização do modelo de gestão e de estruturação do desenvolvimento de produto permite que todos os envolvidos tenham uma visão comum do mesmo. Logo, esperam-se dos resultados do PDP: como as atividades devem ser realizadas; quais as condições a serem atendidas; quais as fontes de informações válidas e os critérios de decisão a serem adotados (ROZENFELD et al., 2006). Muitos trabalhos vêm sendo desenvolvidos com a finalidade de propor modelos de referência para o PDP, ou adaptações de modelos genéricos para determinados segmentos de mercado, os chamados modelos adaptados. Estes modelos geralmente são desenvolvidos por meio de pesquisas realizadas nas pós-graduações e documentadas ma forma de dissertações e teses. As teses e dissertações destacam-se entre as diferentes produções científicas por serem produzidas em programas de pós-graduação e avaliadas em bancas constituídas por pares de conhecimento reconhecido. Elas são indicadores de avaliação da produção científica de uma área e de um país e servem como subsídio para a política de ensino e pesquisa nacional, logo as observando é possível localizar as áreas do conhecimento em expansão e as lacunas de pesquisa tanto institucional como nacional (MORAES; OLIVEIRA, 2010). Sendo assim, o objetivo deste trabalho é realizar um levantamento e uma análise das dissertações e teses sobre modelos para o processo de desenvolvimento de produto, nos programas de pós-graduação em Engenharia de Produção entre os anos de 2001 e 2011. Por meio dessa revisão de literatura foi possível identificar quais as áreas já foram alvo de estudos sobre o desenvolvimento de modelos para o PDP. 2. Processo de desenvolvimento de produto (PDP)O desenvolvimento de produto (DP) esta entre os processos essenciais para o sucesso, sobrevivência e renovação das organizações, particularmente as empresas com ritmo acelerado ou com mercado competitivo (BROWN, 1995). O Desenvolvimento de Produtos é um processo de negócio que tem por objetivo transformar dados e possibilidades técnicas em oportunidades de mercado e informações, viabilizando os projetos de produtos (CLARK & FUJIMOTO, 1991; KRISHNAN, 2001). O sucesso de um novo produto está relacionado com as atividades que compõem o PDP, como elas são executadas e como elas se encaixam no processo. Embora muitas empresas possuam um processo sistêmico de PDP, o sucesso de um novo produto pode não ocorrer, devido a deficiências na condução de alguma atividade crítica (COOPER; KLEINSCHMIDT, 1986). O planejamento e estratégia de produto envolvem decisões sobre o publico alvo da empresa, mix de produto, priorização de projeto, alocação de recursos e seleção de tecnologias. Na essência, planejamento do produto é o conjunto de decisões que asseguram que a empresa busque o mais mercado e produto do ponto de vista estratégico (KRISHNAN, 2001). Ao contrário do processo de fabricação, o processo de DP envolve uma série de tomadas de decisões. É bastante comum que essa atividade seja realizada por um grupo ao invés de um único indivíduo (ou departamento). Além disso, o processo de DP possui algumas características únicas não encontradas no processo de fabricação. Em primeiro lugar, as saídas das atividades de PD, materializadas em desenhos de engenharia, especificações e cálculos técnicos, muitas vezes são instáveis e imprecisas uma vez que qualquer alteração de projeto pode criar uma reação em cadeia de alterações de dados utilizados em outras atividades. Em segundo lugar, a maioria das atividades do processo são realizadas em conjunto por uma força-tarefa de vários departamentos, formando uma complexa relação entre as atividades. Finalmente, uma parte do processo de DP ou todo o processo pode ser repetido até que o conceito de design original seja materializado em resultados aceitáveis. Isso torna o processo de DP inevitavelmente repetitivo (HONG-BAE, 2005). A fim de evitar os ciclos de desenvolvimento longos de produtos, a colaboração entre equipes de projeto distribuídas e multidisciplinares tornou-se uma necessidade. Hoje o conhecimento intensivo no ambiente de desenvolvimento de produtos exige uma estrutura que efetivamente permite a captura, representação, recuperação e reutilização de conhecimento do produto (OUERTANI, BAÏNA, GZARA, MOREL, 2011). A estruturação do PDP é vantajosa para as empresas, pois melhora a compreensão das necessidades dos clientes nas fases iniciais do desenvolvimento, diminui o retrabalho nas etapas de desenvolvimento propriamente dito e facilita o controle de custos, qualidade e cronograma durante o desenvolvimento (ECHEVESTE, 2003). Apesar disso, o PDP ocorre nas empresas independentemente dos mesmos estarem documentados e muitas empresas têm processos que são conhecidos pelas pessoas que os executam no dia a dia, mas que não estão sistematizados formalmente. Entretanto, um processo só pode ser aprimorado se ele puder ser analisado e suas ineficiências puderem ser identificadas (ZANCUL, 2009). Assim, um processo documentado e sistematizado garante a utilização de melhores práticas de projeto e um linguajar único e padronizado para toda a empresa. E a partir do momento que esse processo se torna padrão e pode ser utilizado por várias pessoas, o mesmo é documentado na forma de um modelo (ROZENFELD et al., 2006). 3. Modelo de desenvolvimento de produtoNo gerenciamento do projeto de desenvolvimento, decisões são tomadas referentes a priorização dos objetivos de desenvolvimento, o planejamento do time e a sequencia das atividades de desenvolvimento, o principal marco do projeto e protótipos, mecanismos de coordenação entre membros do time e a forma de monitorar e controlar o projeto (KRISHNAN, 2001). O resultado de uma tomada de decisão durante o PDP também pode ser balizado nas conclusões e informações oriundas de um modelo. A definição de modelo cabe uma análise minuciosa e uma longa reflexão. Conforme Roozenburg e Eekels (1995) os modelos não devem ser encarados como uma receita padrão, mas como uma base para a realização do processo, na busca para a melhoria do processo e até mesmo a melhoria do modelo base, no esforço coletivo da equipe e na experiência e compreensão clara da natureza de todo o processo de desenvolvimento de produtos. Esses modelos representam o conhecimento do processo, logo, concluiu-se, deve-se compreender melhor em que medida e como o conhecimento do processo já existente pode ser exteriorizado em forma de modelos, e deve-se também entender as condições em que estes modelos pode ser comunicada de forma eficaz entre os envolvidos no processo (KALPIC; BERNUS, 2002). Os modelos para o PDP englobam a maioria das atividades de planejamento, execução e controle relacionadas com o desenvolvimento de produto (CUNHA, 2004). A formalização do modelo de gestão do PDP permite a visão do todo para todos os participantes do processo, quais os resultados esperados para o PDP, quais e como as atividades devem ser realizadas, quais condições devem ser atendidas, fonte de informações critérios de decisão a serem adotados. Como os projetos de desenvolvimento são definidos a partir desse modelo, ele é conhecido como Modelo de Referência (ROZENFELD et al., 2006). O modelo de referência é a representação formal de uma junção de boas práticas relacionada com o todo ou fragmentos de um processo produtivo ou fatores industriais focados na realidade de cada processo produtivo a ser estudado. Para Rozenfeld (2006), o modelo de referência é uma representação da visão holística de forma mais aprofundada do processo de desenvolvimento de produto. Nele são apresentadas as principais dimensões de um processo produtivo ou de negócios, contendo um maior nível de detalhamento possível, auxiliando na composição do estudo de um processo de desenvolvimento de produtos e processo. 4. MetodologiaA pesquisa referente a este trabalho é caracterizada como descritiva, envolve levantamentos bibliográficos e documentais. Utilizou-se a abordagem cienciométrica, para medir e avaliar o conhecimento científico sobre modelo de referência para o PDP. A Cienciometria é o estudo das ciências que identifica a sua estrutura e evolução, estabelecendo a sua relação com o desenvolvimento tecnológico, econômico e social. Estuda por meio de indicadores quantitativos a atividade científica (TAGUE-SUTCKIFFE, 1992). Para Macias-Chapula (1998), a cienciometria é um segmento da sociologia da ciência, que envolve estudos quantitativos das atividades científicas. Uma das áreas da cienciomentria é referente ao levantamento das características das publicações (MACIAS-CHAPULA, 1998). É baseada em fontes secundárias, sem observação direta do processo de produção de conhecimento e sem avaliação direta dos resultados produzidos (HERCULANO; NORBERTO, 2012). Inicialmente, é importante destacar que para identificar, localizar e adquirir as publicações de interesse, foram consultadas todos os sites das Instituições de Ensino Superiores (IES) brasileiras que detém programa de pós-graduação na área de Engenharia de Produção. As IES foram selecionadas pela lista de programas de pós-graduação acadêmica de Engenharia de Produção do Brasil, disponível no site oficial da Associação Brasileira de Engenharia de Produção (ABEPRO) em março de 2012. O foco do estudo foram os programas de pós-graduação acadêmica (mestrado acadêmico e doutorado). Foram coletadas as dissertações e teses que apresentavam pesquisas referentes modelo para o processo de desenvolvimento de produto, defendidas entre 2001 a 2011. Para identificar esses trabalhos consideraram-se os títulos, resumo ou palavras-chave com as seguintes palavras: modelo de referência, modelo, PDP, desenvolvimento de produto (DP). Em seguida os resumos dos trabalhos identificados foram analisados e os trabalhos que tinham como objetivo o desenvolvimento de modelos de referência para o PDP ou modelos relacionados ao PDP foram selecionados. Para realizar o fichamento dos trabalhos, utilizou-se uma adaptação da metodologia utilizada nos levantamentos de Carnevalli e Miguel (2007) e Salgado et al. (2010). A classificação dos modelos partiu das classificações descritas nos próprios trabalhos e da análise e reflexão dos autores do presente trabalho. Durante a análise dos trabalhos as seguintes informações foram levantadas: título do trabalho; nome do autor; ano do documento, tipo de documento (tese ou dissertação); instituição de ensino superior; tipo de estudo (modelagem, teórico-conceitual, revisão da literatura, simulação, survey, estudo de caso, pesquisa-ação e experimentação), abordagem do trabalho (quantitativo e qualitativo); e método de coleta de dados (questionário, entrevistas, análise documental, observação ou bibliográfico). 5. Análise e resultado dos dadosPor meio da lista de programas de pós de graduação da ABEPRO foram selecionados 32 IES. Segundo os critérios de busca previamente descritos, foram identificados 32 trabalhos sobre modelos para o PDP, sendo 22 dissertações (69%) e 10 teses (31%). Os trabalhos então distribuídos entre 9 programas de pós-graduação em engenharia de produção, ou seja, apenas 28% dos programas de pós graduação em engenharia de produção do Brasil apresentaram trabalhos sobre modelos para o PDP. Dessa forma, é possível constatar que a pesquisa sobre o tema é pouco difundida entre as IES, demonstrando que ainda há um grande potencial de estudos que podem ser desenvolvidos sobre o assunto. O Quadro 1 apresenta os trabalhos selecionados (lista das referências – Anexo I), com as seguintes informações: autor, IES, área de aplicação dos trabalhos e o nível (mestrado/ doutorado). É possível constatar com o Quadro 1 que existe uma tendência de desenvolver modelos para áreas de atuação específicas. Os modelos que não apresentaram uma área de atuação específica foram definidos como genéricos.
Quadro 1 – Trabalhos selecionados A Figura 1 apresenta o número em porcentagem de trabalhos por ano. O ano que apresentou o maior número foi 2009 com 29% dos trabalhos. Verifica-se que é um assunto atual e que existe uma tendência de crescimento no número de trabalhos entre os anos de 2003 e 2009. Esse aumento no número de trabalhos pode se justificar pelo fato de que o assunto vem ganhando destaque devido a sua importância para o desempenho do processo de desenvolvimento de novos produtos. Figura 1 - Distribuição percentual do número de publicações por ano A Figura 2 apresenta a quantidade de trabalhos por IES. As IES que mais apresentaram trabalhos foram a UFRGS, UFSC e a USP/SC que juntas totalizam 69% dos trabalhos acadêmicos sobre o assunto. É importante destacar que essas instituições contam com linhas de pesquisa sobre desenvolvimento de produtos, o que justifica o fato de apresentarem uma maior quantidade de trabalhos sobre modelos para o PDP.
A Figura 3 classifica as pesquisas realizadas com relação ao tipo de estudo, foram consideradas todas as classificações definidas nos trabalhos, sendo que alguns trabalhos apresentaram mais de uma classificação. Verifica-se na Figura 3 que a pesquisa classificada como Revisão de literatura foi a mais realizada nos trabalhos estudados e, em segundo lugar, se destaca o estudo de caso. É importante ressaltar que a maioria dos trabalhos foram classificados como Revisão de Literatura e Estudo de caso em conjunto, pois os modelos em sua maioria foram fundamentados e desenvolvidos por meio da literatura (modelos teóricos) e da prática (estudo de caso). Figura 3 – Tipo de estudo dos trabalhos A Figura 4 apresenta a quantidade dos trabalhos analisados pelo método de coleta de dados utilizado. Foram considerados todos os métodos de coleta de dados definidos nos trabalhos, sendo que alguns trabalhos apresentaram mais de um método. Verifica-se que o método mais utilizado foi a entrevista presente em 22 dos 32 trabalhos selecionados.
Figura 4 – Método de coleta dos dados A Figura 5 apresenta a classificação dos trabalhos em relação às abordagens: qualitativa, quantitativa, quantitativa/qualitativa, sendo que os valores das colunas indicam a porcentagem de ocorrência destas abordagens pelo total de trabalhos. Verificou-se que a abordagem qualitativa (84%) tem sido mais realizada, que a abordagem quantitativa (3%) e quantitativa/qualitativa (13%). Figura 5 – Abordagem dos trabalhos
|
1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTPR, Programa de Pós graduação em Engenharia de Produção, Ponta Grossa - Paraná – Brasil - belmoretti@hotmail.com |