Espacios. Vol. 33 (3) 2012. Pág. 1 |
Third-Person Effect e as Tecnologias Digitais: a Percepção do 'Eu' sobre os 'Outros' a Partir dos Conteúdos Eróticos na InternetThird-Person Effect and the Digital Technologies: Self Perception about the 'Others' From Erotic Content on the InternetRenata Francisco Baldanza 1 y Nelsio Rodrigues de Abreu 2 Recibido: 27-07-2011 - Aprobado: 09-09-2011 |
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RESUMO: |
ABSTRACT: |
1. IntroduçãoAs novas tecnologias contemporâneas de comunicação refletem, num âmbito geral, padrões de comportamento muito similares às demais tecnologias advindas das constantes inovações tecnológicas durante o processo evolutivo dos indivíduos. Destarte, as tecnologias atuais, e em especial neste artigo a internet, além de refletirem alguns padrões, também alteram outras dinâmicas como a velocidade da circulação de conteúdos, bem como a ampliação das redes de relacionamentos, que são maximizadas pela alta capacidade do ambiente em conectar pessoas geograficamente distantes, de uma forma bem mais rápida, precisa e mais viável em termos econômicos. A partir daí, percebemos que os conteúdos que circulam na internet não somente mais se restringem ao modelo emissor-mensagem-meio-receptor/receptores-feedback, mas sim à ‘inúmeros receptores’ que difundem para ‘outros’ receptores, que de uma maneira geral, podem nem pertencer ao círculo de amizades do emissor original. Essa é uma das características peculiares da internet, onde os receptores se tornam difusores dos conteúdos que recebem, e que são repassados pelas redes virtuais com fluxo contínuo e incomensurável. Esse fenômeno se dá através do que denominamos atualmente como rede, que em sua conceitualização original pressupõe um “entrelaçamento de fios com aberturas regulares que formam uma espécie de tecido. A partir da noção de entrelaçamento, malha e estrutura reticulada, a palavra rede foi ganhando novos significados ao longo dos tempos, passando a ser empregada em diferentes situações” (Rits, 2009), que de maneira geral, pode ser entendida hoje como um conjunto de indivíduos que de algum modo conseguem se conectar, direta ou indiretamente, a partir do que visualizamos como uma ‘webteia’1, e a partir daí, podem travar relações sociais de todas as naturezas e nível de profundidade, conforme seu foco de interesse. Nesse cenário, observamos cada vez mais a circulação de material como fotos, vídeos entre outros, com conteúdo erótico, que se espalham incessantemente pela internet, através dessas redes sociais, cujos indivíduos não necessariamente mantêm contato direto com os ‘receptores’. Alguns exemplos podem ser citados como meio pelo qual tais conteúdos chegam à milhares de pessoas todos os dias, como e-mails, blogs, comunidades virtuais, entre outros. De acordo Telles (2009), sexo é o assunto mais procurado na internet. O autor destaca que os endereços eróticos faturam por ano cerca de 1 bilhão de dólares nos Estados Unidos e o sexo virtual tornou-se um dos assuntos mais lucrativos do comércio eletrônico e uma das diversões prediletas do usuário. O acesso rápido, o conforto e a privacidade característicos da rede produzem o ambiente ideal para o internauta liberar suas fantasias. Partindo de tais constatações, este estudo vislumbra discutir a hipótese do Third-Person Effect – Efeito de Terceira Pessoa, a partir da óptica de jovens sobre os possíveis efeitos negativos da circulação e recepção dos conteúdos eróticos através da internet sobre si mesmos e sobre os outros. A partir daí, pretende-se compreender se a hipótese do ‘Efeito de Terceira Pessoa’ em questão pode ser observada nas mídias digitais, delimitadas neste estudo à internet. Para tanto, partimos de algumas hipóteses que foram analisadas e discutidas ao longo do artigo, a partir dos dados coletados, conforme esboçadas nos procedimentos e métodos. Ressaltamos que a hipótese do Efeito de Terceira Pessoa foi originalmente construída num contexto em que a recepção de conteúdos das mídias se voltava para veículos como TV e Jornal impresso. Assim sendo, este artigo pretende também investigar as dimensões da referida hipótese nos conteúdos veiculados nos ambiente virtuais. 2. Pressupostos Teóricos2.1 Revisitando a Hipótese de Terceira Pessoa e suas ramificaçõesA hipótese do ‘Efeito de Terceira Pessoa’ originalmente proposta por Davison (1983) aponta a perspectiva de que indivíduos expostos à comunicação persuasiva tendem a superestimar os efeitos desta comunicação em outras pessoas. Como consequência, em alguns casos, a comunicação tenderia a produzir um impacto mais significativo não no comportamento do público a quem ela se dirige de forma mais direta ou ostensiva, mas em indivíduos ou grupos de indivíduos que supõem nesta mensagem um alto poder de influência. Esta hipótese, cujo enfoque era originalmente as mídias de massa, foi traçada segundo duas premissas básicas: (a) hipótese de componente de percepção, que prevê que as pessoas percebem maior influência da mídia sobre outras pessoas que sobre si mesmo; e (b) hipótese de componente comportamental, que prevê que, como resultado da percepção de terceira pessoa, as pessoas tendem a apoiar restrições ou censura às mensagens (Davison, 1983). Deste modo, podemos afirmar que esta hipótese trabalha basicamente com efeitos imaginados e de juízo, uma vez que os indivíduos que afirmam perceber maior influência de conteúdos midiáticos sobre os outros do que sobre si mesmos, apenas pressupõem que isso seja a realidade. Deste modo, na percepção do ‘eu’, as mensagens indesejáveis e principalmente seus efeitos negativos irão atuar sobre os outros, não sobre ‘si’. Estes ‘outros’ podem ser definidos segundo McLeod et al (1997) em termos de similaridade percebida ou distância social. As pessoas tendem a ver menos diferenças entre si mesmas e grupos similares do que em grupos distanciados socialmente (Eveland et al., 1999). Outro conceito que poderia moldar as percepções do que seria este ‘outro’ está nos estudos de Paek e Gunther (2007), que salientam a existência de dois universos para análise em relação ao ‘outro’ que seriam denominados respectivamente de ‘pares próximos’ e ‘pares distantes’. Os pares próximos poderiam estar associados às pessoas cujos indivíduos percebem como sendo similares a si mesmos. Isso poderia incluir muitas variáveis como idade, classe sócio-cultural ou até mesmo grau de amizade. Já os pares distante seriam os demais avaliados pelo indivíduo como distintos de si mesmo. Perllof (2002) apresenta suas contribuições enfatizando que, a questão principal ao tratar da hipótese do Efeito de Terceira Pessoa é que toda a estimativa acerca dos efeitos recai sobre o ‘outro’, e não sobre o ‘eu’. Assim sendo, “ao assumir que é invulnerável aos efeitos da comunicação, ao passo que os outros são ingenuamente suscetíveis, os indivíduos preservam um senso positivo sobre si mesmos e reafirmam sua crença de que são superiores aos outros” (Perllof, 2002, p. 493). De acordo com Davison (1996), o efeito de terceira pessoa não foi uma manifestação de uma única tendência psicológica, mas foi uma reação complexa que variou de acordo com o tipo de comunicação, as características do indivíduo e da situação. Ela pode ser prevista com uma certa medida, às características demográficas, como idade e educação. Para o autor, cada pessoa é diferente de todas as outras em seu sentir das necessidades e na acuidade visual de seus sentidos. Cada pessoa irá extrair ideias e diferentes percepções emocionais do ambiente. Além disso, duas pessoas que não estão expostas a exatamente o mesmo ambiente, no componente da comunicação é provável que difiram. O resultado é que cada ser humano torna-se um único conjunto de ideias, sensibilidades, capacidades, isto é, todos nós temos personalidades únicas (Davison, 1996). Ratificando tais pressupostos, McLeod et al (2001) também destacam em seus estudos que as pessoas usam diferentes fatores para percepções gerais do efeito percebido no ‘eu’ comparado ao efeito percebido sobre os outros. Embora os pesquisadores têm demonstrado que as pessoas muitas vezes julgam os meios de comunicação social como tendo uma maior influência sobre os outros do que a si mesmo e que as disparidades nessas estimativas fazem prever intenções comportamentais e de posição de opinião, a precisa natureza e características das influências midiáticas é incerta (Neuwirth e Frederick, 2002). Yan (2005) também traz sua contribuição ao debate sobre a referida temática ressaltando que, se a internet é hoje descrita como um meio de comunicação, os produtos disponíveis nestes espaços eletrônicos podem ser considerados conteúdo midiático. Portanto, nossos argumentos direcionam os feitos de terceira pessoa nos conteúdos eróticos veiculados na internet, e a percepções de suas possíveis implicações negativas sobre os ‘outros’, sob a óptica do ‘mim’. 2.2 Difusão e recepção de conteúdos através de novas tecnologias digitais: as redes sociaisA difusão de conteúdos sob muitos aspectos tem sofrido alterações face às constantes inovações tecnológicas, principalmente dos meios de comunicação de massa. Isso obviamente refletirá também na recepção desses conteúdos, que é, no que tange à internet, muitas vezes direcionada a um número inimaginável de receptores. Assim sendo, a circulação de conteúdos via internet maximiza a recepção de modo a atingir de forma rápida e abrangente, não somente os receptores iniciais, como também potenciais receptores que irão receber os conteúdos a partir de outros emissores, que não elaboram, mas apenas ‘re-difundem’ a mensagem, ou o conteúdo. Lemos (2002) destaca que a nova dinâmica técnica e social das redes de comunicação irá inaugurar uma estrutura midiática completamente inusitada e admirável do ponto de vista de uma possível democratização da informação, já que, pela primeira vez na história da civilização, é possível emitir e receber dados em tempo real, sob diversos formatos e modulações (escrita, imagética, sonora), para qualquer lugar do planeta. O autor salienta que o ‘tudo’ em rede implica na rede em todos os lugares e em todos os equipamentos que se tornam máquinas de comunicar, e destaca que esse fenômeno inédito alia-se ainda a uma transformação fundamental para a compreensão da cibercultura, a saber, a transformação do computador pessoal em um instrumento coletivo e deste ao coletivo móvel (revolução wi-fi). Essa alteração que se inicia com o computador, nos coloca em meio a era da conexão generalizada, do tudo em rede (Lemos, 2002, p. 22). Redes sociais, assim, têm potencial para colaboração, para a difusão de informações e para a construção de novos valores sociais. Uma rede social não é uma ferramenta, mas apropria-se delas para expressar suas identidades, construir seus valores e operar de forma coletiva (Recuero, 2009). Recuero (2009) destaca que rede social é interação, é troca social. É um grupo de pessoas, compreendido através de uma metáfora de estrutura, a estrutura de rede. Os nós da rede representam cada indivíduo e suas conexões, os laços sociais que compõem os grupos. A partir daí, assinalamos alguns dos principais modelos sobre redes sociais que poderiam sustentar nossa percepção de como os conteúdos circulam pela rede. O primeiro deles seria o ‘Modelo de Mundos Pequenos’ onde a partir de um experimento realizado por Milgram2, teóricos refletiam sobre a validade da ideia de que todas as pessoas estariam ligadas umas às outras de algum modo (Dégene e Forsé, 1999; Barabasi, 2003). Outro modelo também suscetível de um olhar sobre a temática e mais consistente no que tange à aplicabilidade seria o ‘Modelo de Redes sem Escalas’, onde Barabasi (2003) afirma que quanto mais conexões um nó possuir, maiores as chances de ele ter outras novas conexões, característica esta que o autor denominou preferential attachment, isto é, um novo nó tende a se conectar a um nó pré-existente, todavia com mais conexões. A partir daí, apontamos algumas configurações sobre redes sociais em ambientes virtuais e uma de suas características é a ampla difusão de conteúdos eróticos e pornográficos pela rede. Isso se dá não somente a partir de , blogs e redes sociais de diversas naturezas, como também através de listas de e-mails. É interessante evidenciar que as práticas sociais de difusão de conteúdos eróticos se dão desde os primórdios da humanidade. De acordo com Thompson (2002), a prensa gráfica só fez acentuar tal prática a medida que possibilitou a impressão de livretos que circulavam no que poderia se denominar hoje de ‘mercado negro’, e que causavam grande frisson. Tais livretos muitas vezes eram passados de mão em mão, o que já caracterizava há muitos séculos atrás, a difusão de conteúdos eróticos por meio de redes sociais. O que se altera agora é a capacidade maximizada de reprodução e difusão nas redes digitais online, conforme esboçado a seguir. 2.3 Internet, conteúdos eróticos e os ‘outros’: cenário e perspectivasA circulação de conteúdos eróticos e/ou pornográficos nas mídias não é um fenômeno contemporâneo. Sabe-se que deste as primeiras manifestações de circulação de informações escritas nas sociedades, os livretos eróticos são objetos de desejo e sinônimo de proibido. Entretanto, atualmente o meio que mais potencializa e maximiza esta circulação é indubitavelmente a internet. Isso se dá por alguns motivos que vão desde o alto poder de difusão de conteúdos à múltiplas redes de usuários até o ‘pseudo-anonimato’ de quem os envia. Sabe-se que no que se refere à esta suposta proteção, a maioria dos internautas desconhecem que seus computadores podem sim serem rastreados e identificados dentre outras formas, por meio de seus IPs (Internet Protocol). Contudo, de maneira geral, isso só ocorre quando o envio de conteúdo erótico passa a caracterizar crime, como por exemplo a pornografia infantil. A partir disso, a internet torna-se um ambiente fértil para a proliferação e disseminação desse tipo de conteúdo. E isso irá ocorrer por redes de relacionamento consideradas fechadas, lista de e-mails de ‘amigos’ e ‘ciberamigos’3, bem como a partir de e ambientes abertos, onde todos os internautas têm acesso, como blogs, comunidades virtuais, fotologs, entre outros. Zanette (2008) ressalta que atualmente, há blogs especializados em vídeos pornográficos. Une-se à criação dos blogs, outro sistema de fundamental importância para a veiculação da pornografia na internet: os provedores de hospedagem de arquivos. Rapidshare, Megaupload, Rapidupload e até um especializado no assunto, o Sex Upload, são exemplos de provedores de hospedagem. O provedor Sex upload, aliás, é um dos que hospedam maior tamanho de arquivos. Enquanto o Megaupload hospeda arquivos de no máximo 250 megabytes (MB), e o Rapidshare de no máximo 300 MB, o especialista em arquivos eróticos, sex upload, garante 500 megabytes para seus usuários. Em outras palavras, é possível colocar um filme pornográfico inteiro na internet e o disponibilizar em blogs (Zanette, 2008, online). De acordo com a Bsmart Latin América, empresa responsável pela distribuição de vídeos de gravadoras eróticas americanas como Penthouse e Vivid, são feitos cerca de 50 mil downloads de vídeos adultos por mês. E esse número tende a subir (Extra, 2008, online). Somente para tentar mensurar a dimensão da circulação de conteúdos de cunho erótico e pornográfico pela internet, somente a partir de uma ferramenta de busca, o google, foram apontadas cerca de 4.400.000 páginas que fazem menção, de alguma forma, à pornografia, seja difundindo, seja analisando ou combatendo. Quando a palavra ‘sexo’ é procurada pela mesma ferramenta, este número salta para 95.800.000 (dados colhidos no primeiro semestre de 2009). Quando lançamos a mesma palavra no youtube, temos 204.000 resultados que de algum modo estão relacionados à ‘sexo’. Logicamente esses dados se referem apenas aos conteúdos que de algum modo, estão disponíveis na internet. Todavia, não podemos desconsiderar que um grande volume de conteúdo erótico também circula pela net por meio de e-mails. No entanto, o que parece ser mais ‘privado’, toma um caráter totalmente público, uma vez que se observa que mensagens, fotos, vídeos entre outros com esse tipo de apelo, são enviados para e-mails de forma aleatória, onde muitas vezes são repassados inúmeras vezes para outros grupos que irão receber a mesma mensagem. Grupos esses que por vezes, não se restringem apenas ao público adulto. Um dado que pode ser considerado inquietante atualmente no que se refere à temática é o que apresentado no site alemão dw-word que afirma que o Departamento Federal de Investigações da Alemanha ‘BKA’, calcula que a cada dia funcionem, em todo o mundo, cerca de mil páginas contendo pornografia infantil, as quais trazem lucros mensais milionários a seus fornecedores. Segundo estatísticas criminais, entre 2006 e 2007, a circulação – conhecida – de conteúdos pornográficos envolvendo menores na internet cresceu 111%. A britânica Internet Watch Foundation registra que quase a metade das vítimas tem menos de seis anos de idade e 10% são até mesmo menores de dois anos (DW-WORD, 2009, online). Diante de tais constatações, destacamos as premissas de Chia et al (2004) que salientam que a crescente utilização de novas tecnologias podem ser utilizados para produzir, duplicar, manipular e difundir conteúdos multimídia e estão incluídas no presente estudo como um prévio desconhecido resultado comportamental da percepção de terceira pessoa. Essa perspectiva não só alarga os efeitos de terceira pessoa em novas direções, mas também ressalta questões importantes relacionadas com a política tecnológica. A tecnologia avançada portanto, desafia a capacidade, autoridade e eficácia de órgãos de controle de limitar a distribuição de conteúdos mediados. Além disso, neste contexto, é evidente que as decisões sobre se divulgar informações estão sendo feitas não só pelos meios de comunicação e funcionários do governo, mas por pessoas também (Chia et al, 2004). A investigação de terceira pessoa relativas a pornografia, violência na mídia, e outros "tabus" frequentemente se apóia no componente comportamental, salientam Salwen e Driscoll (1997). Para os autores, em consonância com clássicos da teoria democrática, as pessoas podem, por exemplo, perceber as campanhas políticas e processos judiciais como tópicos legítimos para discussão em uma democracia. Eles podem estar mais dispostos a tolerar a expressão sobre temas percebidos como necessários na democracia do que uma expressão sobre temas considerados ilegítimos. Assim sendo, embora a percepção da legitimidade das mensagens possam contribuir para o componente comportamental, destacam Salwen e Driscoll (1997), outros assuntos também podem influenciar e dificultar o apoio de restrições. Pode ser que certos meios sejam dotados pelo seu estatuto com legitimidade. Em um estudo posterior, Salwen e Dupagne (1999) ressaltaram que a percepção das influências gerais dos meios de comunicação e dos efeitos imorais, pode representar diferentes magnitudes de efeito de mídia, que poderiam resultar em diferentes resultados perceptivos e comportamentais. Outro aspecto interessante levantado nos estudos Scharrer e Leone (2006) em um estudo de third-person effects e vídeo-games, é sobre a relação da percepção de influência nos ‘outros’ e suas respectivas idades. De acordo com os autores, um dos mais convincentes padrões encontrados nos dados da pesquisa é a tendência nos adolescentes pesquisados em pensar nas pessoas mais jovens como mais suscetíveis a qualquer tipo de influência dos jogos de vídeo-games do que a si próprios. A partir daí, os autores concluem que é possível que os pesquisados tenham considerado os mais jovens que eles como sendo menos capazes de perceber a diferença entre padrões da vida real e da ficção, ou serem mais ‘impressionáveis’ Nesse sentido, incluímos a variável idade em nossas hipóteses, a fim de investigar esta conexão na análise deste estudo. 3. Procedimentos e métodos3.1 Tipo de pesquisaA pesquisa se caracteriza quanto a seu nível de aprofundamento por uma pesquisa ‘exploratória’ que conforme salienta Gil (2007), tem por finalidade desenvolver, esclarecer ou modificar conceitos e ideias. Quanto ao seu procedimento técnico, a pesquisa é classificada como ‘Survey’. As pesquisas deste tipo caracterizam-se pela interrogação direta entre as pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente procede-se à solicitação de informações a um grupo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida, mediante análise quantitativa, obter as conclusões correspondentes dos dados coletados (Triviños, 2006). Na maioria dos levantamentos não são pesquisados toda a população, mas sim uma parte dela, que posteriormente serão projetadas para a totalidade do universo, levando em consideração a margem de erro, que é obtido por cálculos estatísticos (Marconi e Lakatos, 2004). Quanto à abordagem e análise, a pesquisa se classifica ainda como sendo de cunho quantitativo. 3.2 População de estudo e AmostragemA população deste estudo compreendeu 404 alunos da Universidade Federal de Alagoas. A população foi definida a partir da percepção de que os jovens de maneira geral possuem grande interesse de acesso à internet. Neste artigo foi utilizada amostragem não-probabilística, isto é, “é aquela em que a seleção dos elementos da população para compor a amostra depende ao menos em parte do julgamento do pesquisador ou do entrevistador no campo” (MATTAR, 1996, p. 132). Quanto aos tipos de amostragens, foi utilizada a amostra por conveniência, onde o pesquisador seleciona membros da população mais acessíveis. Para atingir uma maior confiabilidade e validade dos dados, buscou-se obter um número de respostas válidas, para que se obtenha no mínimo uma margem de confiança de 95%. 3.3 Coleta e análise dos dadosPara obtenção das respostas foram empregados métodos de levantamento, isto é, coleta de dados através de um questionário estruturado. O questionário foi aplicado até que se atingiu uma amostra representativa, com uma margem de confiança de 95% e um erro amostral 4,866%, atendendo a necessidade da pesquisa, ou seja, que as respostas obtidas pudessem ser extrapoladas para a sub-população de membros da população pesquisada (White, 2009). Os dados foram coletados a partir de questionários estruturados, aplicados à 404 alunos da Universidade Federal de Alagoas, no período compreendido entre os meses de Maio e Junho de 2009. Como pré-teste, foram aplicados 20 questionários em um grupo específico de alunos. Este teste possibilitou corrigir problemas de entendimento ao realizar ajustes de linguagem, ordenação e interpretação do estudo. Os dados coletados foram trabalhados através do software SPSS - Statistical Package for the Social Sciences, que possibilitou a análise com distribuições de frequência, tabulações simples e cruzadas, de forma quantitativa. 3.4 Hipóteses norteadorasH1: Os entrevistados irão perceber-se como menos influenciados negativamente do que os outros, aos conteúdos eróticos na internet. H2: Os entrevistados que acreditam que os conteúdos eróticos não o influenciam negativamente, também tenderão a crer que não influenciam negativamente os ‘outros’. H3a: A idade dos entrevistados irá influenciar diretamente na percepção da influência negativa exercida sobre si mesmo. H3b: A idade dos entrevistados irá influenciar diretamente na percepção da influência negativa exercida sobre os ‘outros’. H4: Os entrevistados que perceberem influências negativas dos conteúdos eróticos veiculados através da internet nos ‘outros’, tenderão a apoiar a censura no meio. 4. Resultados e DiscussãoTendo como base os dados coletados, o perfil geral dos pesquisados aponta 46% do sexo feminino e 54% do sexo masculino, com predominância de idade entre os 19 a 28 anos (77,9%) e com renda familiar aproximada de 3 a 6 salários mínimos (53,4%). Vale ressaltar que o Estado de Alagoas possui uma distribuição de renda extremamente desigual, e cerca de 3% da população possui renda acima de 10 salários mínimos (Carvalho, 2008). Duas perguntas foram inseridas com o intuito de mensurar em que grau a internet está presente na mente dos entrevistados como meio altamente influenciador, bem como apontar quais os outros prováveis meios de comunicação são considerados mais influenciáveis na visão dos mesmos. Assim, quando questionados sobre ‘qual o meio de comunicação, atualmente, você acredita mais influenciar as pessoas de modo geral’, 83,9% apontaram a televisão em relação à 14,9% que optaram pela internet. Tivemos ainda pequenas porcentagens como jornal impresso (0,5%), revistas (0,8%) e rádio (0,5%). A opção massiva apontando a televisão como principal meio quando os pesquisados analisavam as influências sobre os ‘outros’ foi minimizada quando questionados sobre ‘qual meio mais influencia você particularmente’, onde 47,8% afirmam ser a televisão, em relação à 35,4% para a internet. Isso pode demonstrar que o fato do pesquisado ter hipoteticamente mais possibilidade de acesso, uma vez que estudam em uma universidade federal que possui laboratórios de informática com computadores conectados à internet, além de uma média de renda que possibilita uma família possuir internet em sua residência, o que poderia levá-lo a crer que por ter estas possibilidades de acesso, e os ‘outros’ não, poderiam ser mais influenciados pelo meio em referência. No que tange aos dados gerais sobre uso e percepções sobre a internet, temos a maioria dos pesquisados afirmando utilizar a internet por mais tempo em sua própria residência (65,7%), em contrapartida ao seu uso em menor escala na casa de amigos (2,3%). A média de utilização foi de 2 a 4 horas diárias. A partir das primeiras perguntas mais gerais, inserimos algumas indagações a fim de identificar as opiniões sobre as influências que a internet poderia exercer sobre diversos aspectos. Quando inquiridos sobre a crença de que a internet é um meio que pode ajudar a formar opinião, a maioria (82,9%) afirmou que sim, sendo que 42,8% respondeu que ‘muitas vezes’ e 40,1% afirmou que ‘algumas vezes’ isso ocorre. Apenas 1% optou pela resposta ‘nunca’. Questionados sobre sua avaliação quanto à internet, 86,3% afirmam que a mesma é um meio de troca de informações de todos os tipos, 10,3% apontaram-na como um meio que tem ênfase na busca de informações e apenas 3,5% percebem a internet como um meio que tem ênfase no entretenimento. Todas as perguntas iniciais vislumbraram captar informações que nos permitissem compreender melhor o uso da internet pelos usuários a fim de mais adiante, poder realizar cruzamentos plausíveis que nos levassem a analisar as hipóteses apresentadas e suas validações ou negações. Assim sendo, adentramos no universo dos possíveis efeitos de terceira pessoa, discutidos na fundamentação. Como primeira hipótese, afirmamos que os entrevistados tenderiam a perceber-se menos influenciados negativamente pelos conteúdos eróticos/pornográficos que circulam na internet em relação aos outros. De acordo com os resultados, a hipótese 1 se sustenta a medida que os dados aportam para uma crença massiva de que os ‘outros’ são mais suscetíveis às influências negativas em questão do que si mesmos, conforme tabelas 1 e 2. TABELA 1: Os conteúdos pornográficos/eróticos lhe influenciariam negativamente?
FONTE: Dados da pesquisa ______ TABELA 2: Conteúdos erótico/pornográficos na internet influenciam negativamente as pessoas?
FONTE: Dados da pesquisa Esta primeira hipótese vislumbrou verificar a aplicabilidade do third-person effect a partir de conteúdos veiculados em um meio digital, que neste artigo foi representado pela internet. Tal escolha se deu pelo fato de que uma vasta gama de pesquisas da hipótese do efeito de terceira pessoa terem seu enfoque nas recepções de conteúdos de TV, que é um meio de comunicação de massa presente em quase 100% dos lares brasileiros. Assim, enfocamos a internet objetivando uma análise mais profunda sobre tal hipótese a partir do público brasileiro que insere-se cada vez mais nas redes do ambiente virtual e a partir dele tornam-se receptores de conteúdo de todos os tipos, dentre eles, conteúdos eróticos e pornográficos. A fim de que as premissas da hipótese 2 fossem testadas, fizemos um cruzamento de duas perguntas que questionavam sobre as possíveis influências negativas sobre ‘si’ e sobre os ‘outros’, dos conteúdos erótico/pornográficos na web. É importante ressaltar que temos ainda na literatura oriunda das reflexões de Davison, debates sobre efeitos de primeira e segunda pessoa (Gunther e Thornson, 1992; Neuwirth e Frederick, 2002). Os efeitos de primeira pessoa pressupõem que as pessoas julgam que as influências midiáticas são mais fortes em ‘si’ do que nos ‘outros’. Quanto à segunda pessoa, presume-se de maneira geral, que o ‘eu’ percebe-se influenciado da mesma forma que os ‘outros’, isto é, a mesma influência que será exercida em ‘si’, será igualmente exercida nos ‘outros’. Nas palavras de Neuwirth, o efeito de segunda pessoa ou second-person effects estaria relacionado ao “grau em que as pessoas acreditam que a mídia tem uma influência semelhante sobre si mesmo e sobre os outros. Para o autor, ‘semelhante’ aqui é considerado uma sensação de que algo é compartilhado, é mútuo, realizado em comum” (Neuwirth e Frederick, 2002, p. 118). A hipótese 2 vislumbrou compreender se o efeito de segunda pessoa especulado por alguns estudiosos se aplicaria neste estudo, todavia não se sustentou, uma vez que de acordo com os resultados, 74,2% acreditam serem influenciados negativamente ‘nunca’ ou ‘raríssimas vezes’. Em contrapartida, julgam que 75% dos ‘outros’ são influenciados negativamente ‘sempre’ ou ‘quase sempre’, revelando uma tendência a analisar o meio como altamente influenciador aos outros de maneira geral. A partir daí, buscamos verificar a validade da hipótese que prevê que a diferença de idade entre ‘mim’ e os ‘outros’ pode levar-me a crer que seremos influenciados de modo divergente. Para a verificação da hipótese 3a, questionou-se o seguinte: ‘você acha que com sua idade, os conteúdos eróticos/pornográficos que circulam na internet lhe influenciam negativamente?’. Obtivemos como resposta 52,4% de pesquisados afirmando ‘nunca’ e 21,8% ‘raríssimas vezes’, porcentagem que em sua soma sustenta a hipótese 3a, uma vez que a maioria julga que sua idade lhe dá condições diferenciadas de perceberem quaisquer influências negativas e neutralizá-las. Em contrapartida, apenas 2,7% apontaram a resposta ‘sempre’. Essa questão inicia nosso suporte aos efeitos de terceira pessoa em suas diversas nuances e reflexões relacionadas dentre elas as diferenças de idade, como previu Davison (1996). Tais argumentos se adaptam sobremaneira ao debate sobre pares próximos e pares distantes (Bearman et al, 1999; Paek e Gunther, 2007). Em seguida, foram feitas duas outras perguntas relacionadas à idade, objetivando a análise da hipótese 3b: ‘você acredita que o fato da internet permitir grande circulação de conteúdos eróticos/pornográficos, isso pode influenciar negativamente as crianças?’ e ‘e você acha que isso também poderia influenciar as pessoas de gerações mais velhas que você?’. De acordo com os resultados, a primeira indagação aponta para o suporte da hipótese 3b quando destaca que 53,2% afirmam ‘muitas vezes’ e 32,2% sempre. Já na segunda indagação, os resultados trazem 39% da resposta ‘muitas vezes’ em relação à 39,6% da resposta ‘poucas vezes’. Podemos concluir a partir daí, que a hipótese 3 b é sustentada parcialmente, uma vez que tivemos porcentagens significativas de percepção de influências apenas em pessoas mais novas, contudo minimizadas nas pessoas mais velhas. Em uma das questões, cinco tipos de conteúdos que circulam na internet foram disponibilizados e em uma escala tipo likert, foram avaliados, sendo 1 para uma possível influência mais forte e 5 para a influência mais fraca (tabela 3), cujos resultados foram analisados a partir do percentual válido: TABELA 3: Níveis de influência em relação a conteúdos da interne
FONTE: Dados da pesquisa A partir dos resultados, novamente apontamos uma crença de que o fato de que ‘minha idade’ me possibilita maior senso crítico, e particularmente nesta questão, as crianças representam este ‘outro’ a ser mais influenciado pelos conteúdos eróticos online. Outro ponto a ser destacado é que dos exemplos de conteúdos constantes na questão, o que obteve maior percentual de respostas para influências extremamente negativas foi o de conteúdos eróticos, e os conteúdos sobre violência ficaram bem aquém do esperado. A diante, surgiram questões inerentes ao nível de escolaridade e suas possíveis relações com maior ou menos capacidade de ser influenciado, temos os seguintes resultados: De acordo com os dados coletados, a respeito da noção de equiparidade escolar, o que configura uma das variáveis demográficas que compõem o debate sobre third person effects, observamos que quando se trata de apontar influências sobre si mesmos, os pesquisados crêem que nunca ou raríssimas vezes são suscetíveis às mesmas. Todavia, essa visão é inversamente proporcional quando analisam os possíveis efeitos sobre os outros, conforme a tabela 4. TABELA 4: Relação entre nível de escolaridade e percepção de influência
FONTE: Dados da pesquisa Tais aspectos são reforçados quando a maioria da população estudada afirma que tal escolaridade sempre (50%) ou muitas vezes (42,6%) lhe auxilia a entender e receber tais conteúdos de forma mais crítica. Assim, a variável escolaridade também é muito presente nas diferentes percepções de influências em si mesmo e nos outros. Neste aspecto, podemos perceber que o debate sobre ‘distanciamento social’ discutido por Pabru et al (2002), onde o autor propõe uma avaliação das diferenças na percepção de terceira pessoa baseadas nas variáveis como raça, etnia dentre outros que possam configurar a percepção de distância ou proximidade de grupos e pessoas. Ainda como forma de levantar possíveis pontos inerentes ao distanciamento social, fizemos a seguinte indagação: ‘Entre sua Universidade situada em uma cidade de porte grande e uma outra em cidade de porte muito pequeno, você acredita que por estudar em uma cidade maior, você possa ter uma noção mais clara da realidade?’, e obtivemos os seguintes resultados a seguir conforme demonstrado na tabela 5. Assim, com base nas questões que marcam tanto a aproximação quanto o distanciamento dos grupos que inclui muitas vezes não somente questões ligadas à renda, mas também outros fatores sociais como local de moradia, escolaridade média entre outros, também fazem surtir um grande efeito quanto à percepção de que os ‘outros’ são de maneira geral mais influenciados pelos conteúdos midiáticos, principalmente quando o entrevistado se julga em uma posição de superioridade dentro de algum dos aspectos acima mencionados. TABELA 5: Percepção de localização geográfica ‘privilegiada’ e Efeito de Terceira Pesso
FONTE: Dados da pesquisa Diante de todas as questões abordadas, e tendo como base os argumentos de Dority (1989), McLeod et al (1997) e Chia et al (2004) de que a percepção de influência negativa sobre os outros poderá levar o indivíduo a apoiar a censura como forma de minimizar tais efeitos e com finalidade de verificação da validade da hipótese 4, solicitamos que os pesquisados respondessem a questão apresentada a seguir apenas se acreditassem que os conteúdos eróticos / pornográficos influenciam as pessoas negativamente: ‘Se a internet pode influenciar negativamente indivíduos com um menor senso crítico, você é favorável à criação de leis que controlem o conteúdo da mídia?’. Os resultados são esboçados a seguir, em frequências simples (tabela 6) e cruzadas (tabelas 7 e 8) respectivamente. TABELA 6: Apoio à censura pelos entrevistados
FONTE: Dados da pesquisa Observamos que analisados num âmbito geral, a maioria das respostas apontam o apoio à leis que regulem os conteúdos da internet conforme tabela 6. Se somarmos todas as respostas positivas teremos um total de 88,5% de algum tipo de apoio à censura, seja ela parcial ou total, o que sustenta juntamente com os dados abaixo, a hipótese 4. A partir daí, apresentamos ainda dois cruzamentos da crença de que a internet deve possuir algum tipo de regra de controle, respectivamente com a idade (tabela 7) e com o nível de escolaridade dos ‘outros’, em relação aos pesquisados (tabela 8). TABELA 7: Cruzamentos sobre apoio à censura e idad
FONTE: Dados da pesquisa *A) Você acredita que as pessoas com nível de escolaridade menor, que têm pouco estudo, estão mais vulneráveis a serem influenciados negativamente por conteúdos pornográficos na internet? **C) Se a internet pode influenciar negativamente os indivíduos, você é favorável à criação de leis que controlem o conteúdo da mídia? A partir dos dados acima, encontramos uma vasta relação entre os que apóiam a censura e suas percepções de que as crianças são as mais negativamente influenciadas. Tivemos 87,7% das respostas destacando os conteúdos eróticos como influenciadores negativos às crianças, e desses, a grande maioria apoiou a censura no meio. É interessante ressaltar contudo, que quando inquiridos sobre a crença de que ‘a internet tem potencial de formação do senso crítico de nossas crianças’, obtivemos um proporção significativa entre dois pólos: ‘muitas vezes’ e ‘sempre’ (52,1%), e ‘poucas vezes’, ‘raríssimas vezes’ e ‘nunca’ ( 47,9%), ou seja, grupos de opções totalmente opostos tiveram um equilíbrio de porcentagem, o que significa dizer que apesar de afirmarem que a censura é um caminho plausível para possíveis influências negativas dos conteúdos da internet, quase a metade dos pesquisados apreendem o meio como potencialmente formador de senso crítico das crianças, a nova geração digital. Em relação ao cruzamento entre o apoio à censura e a percepção dos entrevistados de que o nível de escolaridade mais baixo dos ‘outros’ os impedem de ter mais neutralidade na recepção de conteúdos eróticos (tabela 8), sinalamos que este apoio à censura também está diretamente relacionado à convicção de que ‘eu’ (os pesquisados), enquanto aluno de graduação, possuo maior condição de neutralizar as influências negativas de conteúdos eróticos que circulam na web e assim, acredito que os ‘outros’ que possuem menor nível de escolaridade não têm condições de fazer o mesmo. TABELA 8: Cruzamentos sobre apoio à censura e baixo nível de escolaridade dos ‘outros’
FONTE: Dados da pesquisa *B) Você acredita que as pessoas com nível de escolaridade menor, que têm pouco estudo, estão mais vulneráveis a serem influenciados negativamente por conteúdos pornográficos na internet? **C) Se a internet pode influenciar negativamente os indivíduos, você é favorável à criação de leis que controlem o conteúdo da mídia? Entendemos, portanto, que os pesquisados que têm a convicção de que estão em um nível superior em relação aos demais, tendem a enxergar este ‘outro’ como menos capaz de minimizar as influências negativas dos conteúdos eróticos online e assim endossam a ideia de que a censura é o caminho para que os demais não sejam afetados. 5. Considerações FinaisAs novas tecnologias contemporâneas de comunicação vêm transfigurando as dinâmicas de comunicação em rede, principalmente no que tange à velocidade, amplitude e abrangência sob a óptica do modelo ‘todos para todos’, onde temos inúmeros emissores emitindo mensagens e conteúdos para inúmeros receptores. Uma gama de vias virtuais se expande a cada dia na internet, possibilitando um altíssimo fluxo de conteúdos de todas as naturezas neste ambiente. A todo o momento, a capacidade de trânsito na internet é maximizada não somente no sentido da velocidade, mas também na absorção de tantos ambientes que hoje dela emergem e se instalam. Neste sentido, a internet sustenta não somente um gigantesco fluxo de dados sob forma de texto, imagem e som, mas também hospeda milhões de de todos os formatos. Tantas possibilidades, também ampliam o acesso das pessoas à inúmeros conteúdos de forma interativa, e que permitem, diferentemente de meios mais tradicionais como o rádio e a TV, que o indivíduo acesse o conteúdo desejado em diversas e distintas fontes, no momento que julgar mais conveniente ou mesmo faça-os circular entre incontáveis receptores online. Isso se aplica principalmente a conteúdos de caráter erótico ou pornográfico, que constituem hoje um dos maiores trânsitos da internet, conforme destacado pela empresa norte americana N2H2, especializada em filtragem de conteúdo. Frente à essa realidade, buscamos analisar a óptica dos pesquisados, os possíveis efeitos negativos de tamanha circulação de conteúdos desta natureza, e para tanto tomamos como base a hipótese do Efeito de Terceira Pessoa – Third-person effect, que compreende que as pessoas tendem a maximizar efeitos de recepção nos outros em relação a si mesmos. A partir dos resultados, verificamos que assim como prevê a hipótese do efeito de terceira pessoa, os indivíduos aqui pesquisados assumem sua invulnerabilidade aos efeitos da recepção de pornografia através da internet, ao passo que julgam que os ‘outros’ sejam suscetíveis em demasiado aos mesmos efeitos, fazendo-nos entendem assim que preservam um senso crítico positivo sobre si mesmos e de maneira geral crêem que tais conteúdos não os afetam, mas sim aos ‘ingênuos outros’. Neste mesmo sentido, também reafirmam sua ‘superioridade’ frente aos outros, a medida que admitem pessoas mais jovens, com menos escolaridade dentre outras variáveis analisadas, também não têm condições de neutralizar efeitos negativos acima citados. Diante dos dados apresentados, podemos concluir que as reflexões trazidas por Davison se sustentaram no que se refere à recepção de conteúdos do ambiente virtual, em especial na internet, que ainda possui audiência menor em relação à outros meios como rádio e televisão. Sabemos que os dados ainda não podem ser considerados conclusivos pois necessitaríamos ainda de tantas outras pesquisas empíricas, principalmente com o perfil de pesquisados brasileiros, uma vez que entendemos que cada país possui suas peculiaridades culturais, psicossociais entre outras. Contudo, os resultados aportam para uma real percepção por parte dos pesquisados, de que os conteúdos midiáticos podem exercer influência negativa nos outros e portanto, a medida que afirmam apoiar o controle e/ou censura na internet tendo em vista os possíveis efeitos negativos de determinados conteúdos, assumem que estão dispostos a abdicar em certo nível, da total liberdade da internet hoje no Brasil, em prol do combate aos efeitos ‘nocivos’ nos ‘outros’, dos conteúdos que nela circulam. ReferênciasBARABÁSI, A. (2003); Linked: how everything is connected to everything else and what it means for business, science and everyday life. Cambridge: Plume. BEARMAN, P. S.et al. (1999); Peer potential: making the most of how teens influence each other. Washington, DC: National Campaign to Prevent Teen Pregnancy. CARVALHO, C. P. O. (2008); Economia popular: uma via de modernização para Alagoas. 3. ed. Maceió: Edufal. CHIA, S. C.; LU, K.; MCLEOD, D. M. 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Isso indicaria que as pessoas estariam efetivamente, a poucos graus de separação umas das outras Isso indiciaria que estaríamos, efetivamente, vivendo em um "mundo pequeno" (RECUERO, 2004, online). |
1 Universidade Federal de Alagoas UFAL- E-mail: renatafrans@yahoo.com.br |
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